Em 10 estados, os trabalhadores demonstraram que era possível arrancar um proposta melhor. Mas, em São Paulo, a falência da direção do sindicato desmontou a construção da greve nacional dos CorreiosA Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) mudou a sua proposta salarial três vezes pelo medo da greve dos trabalhadores da empresa. A última proposta que propõe 6,81% de reajuste, mais um step (aumento de nível salário) em setembro, e outro em março, para quem entrou na empresa até março de 2002, além de abono de R$ 400, um talão de ticket no valor de R$ 299 em dezembro, é muito aquém do que os funcionários poderiam conquistar com a greve.

Na verdade, a categoria tinha totais condições de fazer a ECT melhorar bastante essa proposta. Tanto é assim que, em dez estados, os trabalhadores dos Correios entraram em greve. Em alguns deles, as direções dos sindicatos locais são combativas e defenderam a greve, em outros a base passou por cima e derrotou direções ligadas ao PT e ao PCdoB, como aconteceu em Brasília. Rejeitaram a proposta e entraram em greve os trabalhadores do Pará, Ceará, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Santa Catarina, Minas Gerais, Brasília, Espírito Santo e Goiás. Como se vê, era mais do que possível construir uma greve nacional dos Correios. E a empresa tem dinheiro para dar muito mais. Os Correios prevêem lucro de R$ 480 milhões só para este ano.

No entanto, em São Paulo, a maior base da categoria, devido à desconfiança que têm no sindicato por sua postura de não organizar a categoria para lutar por seus direitos, e sua estreita ligação com a direção da empresa, os trabalhadores aceitaram essa proposta na assembléia realizada no dia 10 de setembro. Além disso, nessa assembléia o sindicato manobrou, pois deveria ter colocado em votação primeiro se a categoria aceitava ou não a proposta, e só então se entrava em greve.
A tática do sindicato eliminou a possibilidade de que, quem estivesse contra a proposta mas não tivesse certeza com relação à greve, pudesse votar pela continuidade da campanha salarial para forçar uma nova proposta da direção da empresa.

A proposta foi aceita na assembléia, mas sem nenhuma comemoração dos trabalhadores. No final, os diretores do sindicato, ligados ao PT e ao PCdoB, tiveram de sair escoltados pela polícia militar. Expressão clara da falência da direção do sindicato. Outra face do processo foram os pedidos de desfiliação massiva nos locais de trabalho após a assembléia.

Construir uma alternativa de direção

A lição que fica da assembléia de São Paulo é que essa direção já não representa mais os trabalhadores dos Correios. Não há nos locais de trabalho nenhuma confiança numa diretoria que tem rabo preso com a empresa e o governo. É preciso superar essa direção governista e fazer com que a categoria arranque verdadeiras vitórias; os delegados sindicais da base, que são independentes da direção do sindicato, do governo e da empresa, precisam se unir e se organizar. Vamos construir uma nova direção!

Post author Ezequiel Ferreira, de São Paulo (SP)
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