Nesse dia 4 de agosto, Dilma Roussef demitiu o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e colocou em seu lugar o ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim. Muitos comemoraram a troca, achando que Amorim vai implementar uma política de “esquerda” na pasta.

Essa ilusão vem de duas ideias. A de que Celso Amorim, quando ministro das Relações Exteriores do governo Lula, levou o país a ter uma política externa independente dos EUA. E, a segunda, de que Dilma quer mudar a atual orientação da Defesa. Seria mesmo assim?

Dilma se viu praticamente obrigada a demitir Jobim após as inúmeras críticas e declarações constrangedoras ditas pelo então ministro à imprensa. Sob o risco de se desmoralizar, não havia alternativa a não ser anunciar a demissão de Nelson Jobim. Ou seja, a retirada do ministro não ocorreu por discordâncias de sua atuação à frente do ministério.

O governo não é contra o plano de Jobim, de privatizar os aeroportos coisa que seu governo está fazendo agora. Não há nenhum questionamento no uso de militares de todas as forças na ocupação de morros e comunidades do Rio, em uma experiência que promete se repetir. E o governo do PT, assim como Jobim, tampouco defende a revisão da lei da anistia, que mantém os assassinos e torturadores da ditadura impunes.

Política externa de Lula
E Amorim? É lembrada, por exemplo, de sua época de chanceler, a aproximação do Brasil com países do Oriente Médio, como o Irã, o que gerou, na época, críticas do governo dos EUA. A articulação do G20, em plena crise econômica mundial, foi outro aspecto visto como uma posição independente, assim como as visitas e declarações do então presidente em favor de Fidel Castro e de governantes como Chávez e Morales.
Um aspecto fundamental da política externa, porém, é sempre “esquecido”. Desde 2004, o Brasil lidera tropas militares que ocupam o Haiti. Sob a justificativa de “ajuda humanitária”, os soldados da ONU que fazem parte da Minustah, já reprimiram inúmeras vezes mobilizações de trabalhadores e estudantes no país

Desde o primeiro momento, o PSTU denunciou a ocupação militar do Haiti. Os soldados comandados pelo Brasil de Lula e Dilma atuam para estabilizar o país, reprimir os movimentos sociais, impor baixos salários na região e garantir os interesses dos EUA e das multinacionais instaladas no país caribenho. Recente divulgação de telegramas diplomáticos, pelo WikiLeaks, confirma isso. Foi em favor dessa política que o Brasil esteve empenhado durante todo o governo Lula, com Amorim à frente. Nem na reconstrução do país, após o terremoto, as tropas ajudaram. Pelo contrário, levaram uma epidemia de cólera que matou milhares.

É hora de exigir a retirada das tropas
Coincidentemente, dias antes de ser nomeado ministro por Dilma, o ex-chanceler de Lula concedeu uma entrevista em que defende a retirada das tropas do Brasil do Haiti. Alçado à condição de ministro, é improvável que ele mantenha essa posição. Até mesmo porque participou diretamente de todas as etapas da montagem desta ocupação militar.

Lançamos, porém, o desafio ao novo ministro da Defesa e ao governo Dilma. Deixemos de lado essa mentira, de que os haitianos não conseguem dirigir o seu país. Desafiamos o governo petista a retirar as tropas e condenar a ocupação militar.

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