Desmatamento ajuda no aumento do calor e seca de rios na Amazônia | Fotos: Ibama/Divulgação e Ana Cláudia Leocádio/Divulgação
PSTU-PA

Rosi Pantoja, de Belém (PA)

Os debates sobre mudanças climáticas poderiam parecer, para alguns, distante da sua realidade. Porém, nos últimos dias o calor extremo sentido pela população na capital paraense está ficando insuportável, se confirmando os alertas da Organização das Nações Unidas (ONU) que estamos na fase de emergência climática.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)[1], as temperaturas neste ano já ultrapassaram 40°C em alguns municípios do Brasil, registrando um aumento da média histórica acima de 1,5°C. Este intenso calor é atribuído ao fenômeno El Niño, que ocorreu em pleno inverno, e ao aquecimento global.

Infelizmente, o aumento da temperatura é uma tendência para os próximos dias, onde Belém terá 222 dias de extremo calor até 2050, conforme a pesquisa da ONG CarbonPlan, da Califórnia, que vem desenvolvendo uma modelagem sobre os riscos para a vida diante dos efeitos combinados da temperatura, da umidade e de outros fatores.

Se na capital paraense sentimos o aumento das temperaturas, que teve a redução das chuvas em 41% abaixo da média climatológica nos últimos 20 anos; no município de Placas, na região oeste do Pará, entre os rios Tapajós e Xingu, ocorreram chuvas de granizo (22/09).

As contradições sobre a emissão dos gases poluentes são enormes, pois enquanto os países mais ricos são aqueles que poluem mais, os mais pobres poluem menos e mesmo assim são aqueles que sofrem mais as consequências ambientais.

Seca nos rios leva 17 municípios a declarar situação de emergência no Amazonas | Foto: Ana Cláudia Leocádio/Divulgação

Secas no rios da Amazônia

O alerta sobre a seca do Negro, Solimões, Purus, Juruá e Madeira, atinge os Estados de Rondônia e Amazonas, e deixa mais de 130 mil pessoas sob risco da estiagem. A situação é tão caótica, que as agências do governo federal estimam a capacidade reduzida em até 40% dos rios, afetando toda cadeia de transporte e logística, por isso foi convocada uma reunião entre os Ministros do Transporte e de Portos e Aeroportos e os governos estaduais do Amazonas e de Rondônia.

As famílias mais pobres foram as mais atingidas. Segundo a defesa civil do Amazonas, cerca de 60 municípios estão em alerta com a seca e 13 estão em estado de emergência. Entre eles a cidade de Benjamin Constant/AM, onde 64 comunidades ribeirinhas e indígenas sofrem com as secas dos rios e com a falta de água potável, levando a diversas doenças.

As secas são reflexos dos desmatamentos desenfreado, principalmente pelo agronegócio, que tem substituído as florestas por commodities, mas também pela mineração e grandes projetos. As florestas funcionam como reguladores do ciclo hidrológico, auxiliam o regime de precipitação que abastecem as bacias hidrográficas, na proteção do solo, reduzindo a erosão e o risco de inundações, contenção de enchentes, evitando a desertificação. Segundo WWF (2023)[2], somente entre os meses de agosto de 2022 e abril de 2023, a Amazônia já perdeu 5.936 km², o que corresponde a uma área do Distrito Federal (5.802 km²), sendo que durante o governo Bolsonaro foi o dobro 10 mil km².

Mais de 95% do desmatamento na Amazônia é ilegal, de acordo com o INPE | Foto: Ibama/Divulgação

Desmatamentos

No entanto, Amazonas e Pará, junto com Mato Grosso seguem na liderança do desmatamento sendo responsáveis por 77% da floresta destruída da Amazônia Legal. Segundo dados do DETER, no primeiro semestre desse ano, 50% dos alertas de desmatamento se concentram nos estados de Mato Grosso, Pará, Amazonas e Rondônia.

Apesar dos Diálogos Amazônicos que ocorreu em Belém, e que teve presentes governadores da Amazônia Legal, pouco ou quase nada se avançou para uma política efetiva no combate ao desmatamento legal e ilegal. A pauta das entidades apresentadas para definição de uma data no combate ao desmatamento foi ignorada.

Por outro lado, o governador Helder Barbalho (MDB/PA) segue com as privatizações que vai atingir a população mais carente como a da Companhia de Saneamento e Abastecimento do Pará (Cosanpa), que atualmente não consegue nem mesmo atender a todo estado, sendo as periferias e os municípios mais carentes os que mais sofrem sem água potável encanada, e que ficarão à mercê da lógica empresarial em ter que pagar para chegar a tubulação em suas casas.

Os governos adotam medidas paliativas

A combinação dos agravos ambientais e das políticas dos governos para atender o capital financeiro pode ser bem exemplificada com a privatização da Companhia de Energia do Pará (Celpa), vendida a R$1,00 para a Equatorial, e que mesmo diante da riqueza do estado em reservatórios hídricos que permitiu a construção de grandes Hidroelétrica, como Tucuruí e de Belo Monte, gerando grandes problemas ambientais para as populações locais, não que se converteram em melhores para a classe trabalhadora, ao contrário atualmente a população paraense paga a maior tarifa elétrica do país.

Portanto, as medidas que os governos apontam além de paliativas tem levado a um aumento no potencial de aumento das temperaturas em condições insuportáveis, de desastres ambientas cada vez mais recorrentes, poluição nas cidades.

Para enfrentar os problemas das crises climáticas é preciso organizar os trabalhadores para enfrentar os governos e os patrões e frear a ganância dos capitalistas, a espoliação dos recursos naturais, o saque das riquezas ambientais.

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[1] INMET: órgão do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e representa o Brasil junto à Organização Meteorológica Mundial (OMM) desde 1950.

[2] https://www.wwf.org.br/?85600/Mesmo-com-sinais-de-queda-em-2023-desmatamento-segue-alto-na-Amazonia-situacao-e-critica-no-Cerrado