Henri Cartier-Bresson considerado um dos mellhores fotógrafos do século XX, morreu aos 95 anos, deixando uma obra fantásticaNo dia 2 de agosto, o mundo perdeu Henri Cartier-Bresson, um dos mais importantes fotógrafos que já existiu. Nascido em 1908, Bresson despertou para o mundo da fotografia ao ver uma imagem produzida pelo fotojornalista húngaro Martin Munkasci, em 1931. A foto mostrava três jovens negros do Congo correndo em direção ao mar e, de certa forma, sintetizava os temas que marcaram a carreira de Cartier-Bresson: a busca pela liberdade, a sensualidade e a beleza dos gestos cotidianos.
Uma carreira que em muito se confundiu com a história do século XX. Ainda na década de 30, Bresson fotografou a Guerra Civil Espanhola, ao lado dos republicanos. Em 1940, na II Guerra, foi preso pelos alemães, mas conseguiu fugir e militou na Resistência francesa, como soldado e fotógrafo, até o final do conflito.
Em 1947, fundou, juntamente com os fotógrafos Robert Capa e David Seymour, a agência Magnum, uma cooperativa que lhe garantiu a independência em relação às exigências comerciais das revistas, realizando trabalhos únicos: em 1948 fotografou Gandhi, apenas uma hora antes de sua morte; no ano seguinte, documentou a chegada de Mão Zedong ao poder, na China; em 1954, foi o primeiro ocidental a registrar o cotidiano dos soviéticos e, dez anos depois, fotografou a Revolução Cubana.
Um caçador de imagens
Na juventude, Cartier-Bresson foi caçador na África e, depois de tornar-se fotógrafo, fez a seguinte comparação: Para mim a fotografia se assemelha a um prazer físico é como uma caçada, com exceção de que não se mata. E, de fato, pode-se dizer que Bresson foi um caçador de imagens que utilizava sua câmara (sempre uma Leica) como um tipo de caderno de anotações sobre o que ele chamava de encantos da existência.
Sempre em busca do momento decisivo (título de seu principal livro, lançado em 1952), Bresson percorreu o mundo fotografando os principais eventos do século sempre sob uma ótica que valorizava a participação do ser humano, seus dramas pessoais e históricos.
Dessa forma, convidado a fotografar o papa Pio XII, Bresson capturou sua imagem de costas, valorizando a expressão de fé de uma devota; na coroação do rei George, na Inglaterra, em 1937, Bresson voltou sua lente para o povo que se amontoava e, na guerra civil espanhola, a destruição de vidas e esperanças foi registrada nos olhares de crianças brincando nos destroços.
Essa valorização da figura humana também ficou registrada em seus inúmeros retratos, através dos quais ele buscava não só captar a personalidade da figura retratada, mas principalmente estabelecer uma espécie de diálogo entre ela e quem viesse a observar a foto. Cartier-Bresson fotografou com a mesma intensidade e dignidade pessoas famosas (como Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Truman Capote e todos os mitos do cinema) e o povo nas ruas, fossem prostitutas mexicanas, travestis norte-americanos, miseráveis da África e da Índia, namorados franceses ou crianças espanholas.
Outra de suas marcas foi a captação de imagens que congelam instantes e cenários que, a princípio, passariam completamente desapercebidos, mas, enquadradas e reveladas por Bresson transformam-se uma expressão de uma rara poesia visual. Dotado de um apurado senso estético, Cartier-Bresson também explorou como poucos as paisagens (urbanas e rurais) valorizando linhas, contornos e formas geométricas.
Poesia humanista
Somente agora, com sua morte, será possível ter uma dimensão exata da obra do fotógrafo, já que muitas de suas fotos jamais foram expostas ou reproduzidas.
Considerado um dos pais do fotojornalismo e da chamada foto-social, Cartier-Bresson influenciou uma enorme legião de fotógrafos mundo afora. Sebastião Salgado, o mais conhecido fotógrafo brasileiro, não só não nega a importância de Bresson em sua carreira, como o homenageou com releituras de suas fotos.
Artista de múltiplos talentos, além de fotógrafo (atividade que interrompeu na década de 70), Bresson também foi jornalista, pintor (fortemente influenciado pelo surrealismo), colaborou na filmagem de A regra do jogo, de Jean Renoir, um clássico do cinema francês e produziu, em 1937, o documentário Vitória da Vida, sobre a guerra civil espanhola.
Em artigos sobre a morte do fotógrafo, críticos e intelectuais lembraram que, talvez, com Bresson, tenha desaparecido toda uma era, na medida em que, no mundo de hoje, a banalização das imagens e a poluição visual estejam reduzindo a sensibilidade humana no que se refere à apreciação de instantes e cenas como as captadas pelo fotógrafo.
Apesar de questionável, a tese não é totalmente desprovida de razão. Mas também é necessário lembrar que a própria existência da obra de Bresson aponta em outra direção: por meio de suas imagens é sempre possível mergulhar no universo de um humanismo repleto de poesia e beleza.
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