No Encontro da Conlute, Veronica conta a travessia do grupo até o Fórum
Marta Zerbazzi

Grupo com 38 pessoas, entre eles militantes da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), teve de invadir posto de fronteira para fugir do frioFome, frio, tensão. Assim foi a viagem de 38 ativistas de Quito, Equador, até Porto Alegre, para participar das atividades do Fórum Social Mundial. A epopéia durou 11 dias de privações e contou com militantes das seções equatoriana (MAS) e peruana (PST) da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI), além de ativistas do Comitê Interuniversitário Contra a Alca e o TLC (Equador) e de petroleiros, da Petroecuador.

A viagem começou no dia 17/01, à meia-noite, em um ônibus contratado. Devido à documentação irregular, o veículo foi barrado duas vezes, primeiro na fronteira do Peru com Chile e depois entre Argentina e Chile. No total, foram quase três dias submetidos à vontade das polícias e às mais diversas privações.

Em Paso Jama, entre Argentina e Chile, os companheiros estiveram ilhados num posto policial em meio ao nada e somente depois de algumas horas puderam contatar autoridades, embaixadas e familiares. “Passamos mais de um dia sem comer e alguns companheiros ficaram doentes“, conta Veronica Chulde, militante do MAS. O tempo passava, o desespero crescia e o problema continuava sem solução.

Então, os policiais ordenaram que os viajantes regressassem ao Chile, para um local ainda mais frio, onde nevava. Convencidos da importância de participar do FSM, eles decidiram em conjunto desobedecer e continuar onde estavam, na esperança de prosseguir viagem. Segundo Javier Boada, também do MAS, a solução encontrada para resistir e protestar contra o autoritarismo dos policiais foi a ocupação do posto de fronteira. “Cansados de passar frio, pegamos nossos colchonetes e dormimos lá“, diz.

Finalmente, após sucessivas tentativas frustradas de negociação, eles conseguiram autorização para chegar à cidade mais próxima. Mas, de carona, pois o ônibus não havia sido liberado pelos policiais. “Chegamos a Jujuy (Argentina) e tivemos de esperar um dia até podermos partir, gastando com comida e hospedagem“, lembra Veronica.

SOLIDARIEDADE – Mas, já em Porto Alegre, a luta deles não terminou. Sem dinheiro por causa dos gastos imprevistos da viagem, eles iniciaram uma campanha financeira para conseguir chegar até o local onde está o ônibus detido, em Arica, Chile. Conseguiram a contribuição de diversas entidades e rifaram livros, passagens de avião e objetos típicos de seus países.

“Agradecemos muito a colaboração que estamos recebendo”, afirma Javier. Além de passar pelos espaços do FSM pedindo doações, eles exigiram que a organização do evento que se pronuncie contra o autoritarismo de que foram vítimas.

Essa aventura, para Verônica, Javier e os demais companheiros, foi mais uma confirmação de que os governos e suas instituições sempre fazem o possível para impedir, via burocracia, a atuação de militantes e organizações revolucionárias. O que reafirma a necessidade de manter a luta organizada. “Nos fortalecemos com essa experiência, pois o grupo se manteve coeso e disposto a prosseguir”, conclui Verônica.