Comissão da Verdade e centrais relembram greve geral de 1983 durante ato em São Paulo

Pouco mais de uma semana depois do dia nacional de paralisações e protestos do dia 11 de julho, as centrais sindicais voltaram a se reunir. Desta vez, porém, para relembrar os 30 anos da greve geral de 1983, fato importante, no contexto das lutas da época, para a queda definitiva da ditadura militar instaurada no golpe de 1964. O ato ocorreu nesse dia 22 de julho, um dia após o aniversário exato da greve, e foi organizado pelo Coletivo Sindical de apoio ao Grupo de Trabalho da Comissão da verdade responsável pelo levantamento da repressão ao movimento sindical.

Além dos dirigentes das centrais e da representante da Comissão da Verdade, Rosa Cardoso, o ato reuniu figuras históricas que estiveram à frente da greve que enfrentou a ditadura. Djalma Bom, ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, prestou seu depoimento emocionado daquela época. “Eu não estava diretamente à frente do sindicato, já que fomos cassados em 1980, mas era deputado federal pelo PT e estava junto com os trabalhadores“, explicou.

Djalma fez questão de destacar a importância das greves e mobilizações que ocorreram antes de 1983. “Nós brasileiros, e os trabalhadores especialmente, temos uma importante história, que muitas vezes esquecemos, mas que é fundamental ser lembrada“, disse. O ex-dirigente comparou a repressão daquela época com a que ocorre hoje. “Nosso movimento foi pacífico, mas a polícia e a ditadura nunca foram pacíficos com os trabalhadores”, relembra, destacando que “a repressão continua hoje mais ativa do que nunca“, referindo-se à repressão policial que atinge os recentes protestos que ocorrem pelo país a partir de junho.

Outra figura histórica que esteve presente no ato foi José Luís del Roio, ex-dirigente sindical e que fundou, junto com Carlos Marighella, a Ação Libertadora Nacional, a ALN. Roio, eleito senador na Itália onde se estabeleceu, fez questão de ressaltar que o golpe de 1964 tinha como alvo principal o movimento operário. “Calcula-se que 500 sindicatos tenham sofrido intervenção e 50 mil pessoas tenham sido presas nos primeiros momentos do golpe, mas sabemos que os verdadeiros números são bem superiores a esses“, afirmou. Citou ainda as leis impostas pela ditadura para calar o movimento sindical, como a que bane dos sindicatos qualquer trabalhador considerado “suspeito”, ou a lei 6.330 que chega a ser folclórica ao proibir cartazes de sindicatos “falando mal dos empregadores ou do governo”.

Outra medida da ditadura foi o arrocho, porque, obviamente, o objetivo do golpe e da ditadura era aumentar o lucro“, explicou ainda Roio. Além dos discursos dos dirigentes que estiveram à frente da greve em 1983, o ato contou com vídeos de depoimentos sobre a época, incluindo o depoimento de Zé Maria, preso e torturado pela ditadura (veja aqui o vídeo).

Memória, Verdade e Justiça
A segunda parte do evento foi dedicada aos representantes das 10 centrais sindicais que compuseram o ato e que trabalham junto à Comissão da Verdade e ao GT para a investigação da repressão da ditadura contra o movimento operário. Estiveram no ato, além da CUT e Força Sindical, a CSP-Conlutas e centrais como a CTB, UGT e CGTB. “O golpe foi um claro golpe contra a classe operária, isso é provado pela associação dos órgãos de informação da ditadura e grandes empresas como a GM, Petrobrás, Embraer, e tantas outras“, destacou Luiz Carlos Prates, o Mancha, representando a CSP-Conlutas.

Mancha exigiu a revisão da Lei da Anistia para que os responsáveis pelos crimes da ditadura possam ser punidos e reafirmou que ainda hoje a ditadura não acabou no interior das empresas. “É importante rememorar, mas mais importante que isso é  colocar recomendações para que isso não se repita, porque ainda hoje continua chegando aos RH’s das empresas, que depois instrui processos trabalhistas contra os trabalhadores,  os mesmos argumentos utilizados pela ditadura militar, pelos Ministério do Exército, da Aeronáutica, do SNI, para demitir os operários por justa causa” afirmou. Mancha denunciou ainda as velhas práticas da ditadura que ainda persistem como o monitoramento e a espionagem aos movimentos sociais realizado pela Abin, a Agência Brasileira de Inteligência, além da polícia que continua infiltrando gente em manifestações. “Só há uma forma de acabar com isso e é punindo de fato os que reprimiram, torturaram, e apoiaram a ditadura”, defendeu, chamando a ampliação desse movimento exigindo memória, justiça e reparação.