O Uruguai fará eleições presidenciais no próximo dia 25 de outubro. O candidato à presidência do país, pela coalizão Frente Ampla (FA), é José Mujica. Sua candidatura pretende dar continuidade ao governo da FA, hoje representado pelo presidente Tabaré Vázquez. O principal adversário de ambos será o Partido Nacional, que tem como candidato à presidência Luis Lacalle, que já governou o Uruguai entre 1990 e 1995.

Muitas coisas mudaram desde que a FA assumiu o poder. Não há mais a mesma empolgação de antes. Nos últimos anos a FA deu sequencia ao mesmo receituário neoliberal dos governos burgueses de turno. Confirma abaixo o manifesto da Esquerda Socialista dos Trabalhadores, filiada a LIT-QI, dirigido aos ativistas de esquerda do país. O manifesto recupera o balanço desses últimos quatro anos de governo Vázquez e faz um chamado à construção de um partido revolucionário no país.

Ante as eleições do mês de outubro

Aos companheiros trabalhadores e estudantes da Frente Ampla

Durante décadas, a luta uniu militantes de diferentes correntes na mesma trincheira, enfrentando as injustiças contra nosso povo. Juntos fizemos parte da resistência à ditadura, brigamos pela restauração das liberdades democráticas, muitos se opuseram à saída negociada com os militares no chamado Pacto do Clube Naval[1] e exigimos o Julgamento e Castigo dos golpistas, civis e militares que torturaram e assassinaram centenas de companheiros.

Juntos, também, atuamos nas greves e nas ruas contra os governos dos partidos Colorado e Blanco, reivindicando por nossos direitos, salários, aposentadorias, contra as privatizações e a repressão desses governos. Já sabíamos que destes partidos patronais não poderíamos esperar nada, porque foram por mais de cento e cinqüenta anos aqueles que submeteram a classe operária e os setores populares ao imperialismo e a suas políticas de fome, miséria e repressão.

No ano de 2005, vivenciamos com vocês a primeira chegada ao governo da Frente Ampla, respeitamos suas ilusões e alegrias, mas fomos honestos e dissemos que este governo não melhoraria os problemas de fundo dos trabalhadores e muito menos tomaria medidas socialistas. A cúpula dirigente da FA já tinha rebaixado o programa, sem nenhuma consulta a base, porque eles entendem que ainda não é o momento de dar a batalha contra o capitalismo, basta com “humanizá-lo” a través da negociação e por etapas.

Bastou assumir o governo de Tabaré Vázquez, lamentavelmente muitas das nossas análises se tornaram realidade: milhões de pesos foram destinados pelo governo para “salvar” o Banco Comercial que logo foi devolvido às mãos privadas. Contrariamente ao programa histórico da FA, parte da dívida externa foi paga antecipadamente e apesar disto, hoje devemos mais do que antes.

A chegada de Bush a Montevidéu através do convite do governo foi um ponto crítico, mais de dez mil companheiros foram às ruas para repudiar a presença deste genocida, enquanto o presidente Vázquez e a maioria dos dirigentes da FA participavam com este assassino em reuniões de todo tipo em busca do acordo de um TLC, e como despedida, um churrasco na estância presidencial de Anchorena.

Por conta das mobilizações e protestos contra a presença do genocida Bush, um jovem ficou preso durante meses, por ter quebrado um vidro do Mc Donald. Atropelando as liberdades democráticas, companheiros foram levados a justiça por terem queimado uma bandeira dos Estados Unidos, uma ação comum que sempre realizávamos em nossas manifestações contra o imperialismo.

Estes são só alguns fatos, mas são suficientes para mostrar o abandono das consignas históricas da esquerda e inclusive de seu discurso antiimperialista, por parte das principias organizações que formam a Frente Ampla e seus dirigentes históricos.

Mas os ataques não pararam por ai. Chegou à crise econômica e quem está pagando como sempre somos nós assalariados: centenas de trabalhadores das empresas privadas em seguro desemprego, redução salarial de 8% aos trabalhadores do CASMU (Centro de Assistência do Sindicato Médico do Uruguai), descumprimento, por parte dos patrões privados, das cláusulas assinadas nos Acordos Coletivos.

E com muita dor vemos que o governo, também, viola os acordos como o da COFE (Confederação das Organizações dos Funcionários Estaduais) e da Saúde Pública, não pagando aos trabalhadores públicos o aumento acordado. Por outra parte o aumento das tarifas de energia elétrica, os combustíveis, os alimentos, os alugueis, o que piora a vida de quem vive de um salário. E não há nem o que falar sobre os miseráveis vencimentos dos aposentados e dos companheiros desempregados.

Como dizíamos no princípio, companheiros, a luta nos uniu e nos unirá outra vez, e compartilhamos com muitos de vocês que a única saída para esta situação é a derrota do capitalismo e a instauração do socialismo.

Sabemos que nem os Blancos nem os Colorados, partidos burgueses e submissos as ordens do “amo do norte”, são uma opção para os trabalhadores e os pobres. A Frente Ampla não rompeu com estas políticas, mas, lamentavelmente, em muitos aspectos as aprofundou.

Sua política tem sido de uma frente de conciliação de classes, que procura levar as lutas operárias e populares para a via morta da negociação e do acordo. A direção da Frente Ampla atua de costas as reivindicações das bases. Por isso, porque a experiência demonstrou que a Frente não é a ferramenta para avançar ao socialismo, é que não votaremos em outubro na Frente Ampla nem por seus dirigentes atuais, que nestes cinco anos se colocaram a serviço e de capatazes das classes dominantes e do imperialismo.

Obviamente, não estamos a favor da volta do governo dos partidos patronais tradicionais, Colorados e Blancos. Mas um voto na Frente Ampla e seus dirigentes, depois destes 5 anos, seria um voto a favor da conciliação de classes e de tentar dar ao capitalismo um “rosto humano”, aprofundando as políticas de fome, miséria e submetendo aos mandos do imperialismo.

Um chamado
Esquerda Socialista dos Trabalhadores faz um chamado a nossa classe, a classe trabalhadora, a construir um partido diferente, um partido que lute para impor o socialismo sobre as ruínas do capitalismo e se cumpra os sonos de milhões de explorados de construir um sistema social que acabe com a fome e a miséria instaurando um governo operário, popular e socialista, que só será possível conquistar por meio da mobilização e da luta.

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[1] NT: Pacto do Clube Naval – negociação secreta efetuada entre os ditadores militares, a Frente Ampla e os partidos Colorado e União Cívica em 1984. Resultou num acordo de impunidade dos crimes da ditadura e a convocação das eleições na qual foi eleito Julio Sanguinetti, que tomou posse em 01/03/85.