Congresso do Andes decide pela desfiliação da centralO 24º congresso do Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes em Instituições de Ensino Superior) ocorreu em Curitiba (PR), de 24 de fevereiro a 10 de março, e contou com a participação de 356 delegados. Durante o congresso, o tema relacionado à desfiliação do Sindicato da CUT fez-se presente desde a plenária de instalação.
No domingo, dia 27, o conjunto dos delegados, divididos em 11 grupos mistos, compartilhou as discussões realizadas no ano passado pelas assembléias de base da categoria, bem como suas votações sobre a relação do sindicato com a CUT.

Em meio a acaloradas discussões, os docentes destacaram que a CUT, ao se integrar ao Estado via Fórum Nacional do Trabalho (FNT) e ser parte da elaboração das reformas do FMI que o governo federal vem aplicando, já não é mais uma ferramenta de lutas e sim um instrumento para aumentar ainda mais os ataques neoliberais aos direitos dos trabalhadores.

Parte dos docentes destacou os desafios colocados para o movimento sindical com a eleição de Lula e o prosseguimento da implementação das reformas neoliberais. Os docentes defenderam a busca da unidade e da independência da classe trabalhadora perante os patrões e os governos, o que, com foi avaliado, é impossível de se conseguir permanecendo dentro da CUT, submetendo-se à política anticlassista dos seus dirigentes.

Para alguns docentes que dedicaram parte de suas vidas à construção da CUT e de um sindicalismo independente, a decisão de desfilar-se da central foi tomada com muito pesar. Contudo foi necessária, pois é o único caminho possível para aqueles que seguem acreditando e confiando na luta dos trabalhadores.

Ao final das discussões, a proposta de desfiliação do Andes da CUT foi aprovada com 192 votos a favor, 85 contra e 12 abstenções. O sindicato que representa 74 mil professores universitários estava filiado à CUT há 15 anos.

Esquerda da CUT
Apesar da discussão sobre a desfiliação ter sido feita com certa facilidade, até pela experiência da categoria com a CUT, alguns setores seguiram defendendo o governo e a permanência do Andes na Central. Militantes ligados às correntes petistas O Trabalho e Articulação de Esquerda, entre outros, aliados à direita do movimento, defenderam a manutenção do sindicato na CUT.

O Andes aprova calendário da Conlutas
Outro grande momento do congresso foi a discussão sobre a relação do Andes com a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas). “Não é pelo fato da CUT não ser mais um instrumento da luta dos trabalhadores que nós devemos ficar sem um instrumento que coordene e unifique as ações dos variados setores e categorias na luta contra as reformas do governo Lula e do FMI”, falou um docente de Pernambuco, durante os debates nos grupos de discussão. Foi com esse espírito que os debates ocorreram nos grupos e na plenária final do congresso.

Após intenso debate, o congresso aprovou que o sindicato seguisse participando da Conlutas, incorporando-se ao calendário aprovado no seu encontro nacional, realizado durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Com isso, os docentes de instituições de ensino de todo o país mostraram que estão dispostos a ser parte da construção de novas alternativas de lutas contra os governos do FMI e dos patrões. Cabe a todos os nossos militantes e àqueles que votaram nessa proposta, a tarefa de aprofundar e enraizar essa luta na base do sindicato e no conjunto do movimento social.

Ao lado dos trabalhadores
No final do congresso, o que se ouviu foram os docentes de todo o país gritarem: “O Andes ao lado dos trabalhadores”. Coincidentemente, um dia após o fim do congresso, os ministros Ricardo Berzoini e Aldo Rebelo, acompanhados dos presidentes da CUT, Luis Marinho, e da Força Sindical, Paulinho, entregaram formalmente a proposta da Reforma Sindical do Fórum Nacional do Trabalho (FNT) ao Congresso Nacional. Este fato serviu para reforçar ainda mais a necessidade da luta contra a reforma e mostra que foi acertada a decisão do Andes de desfilar-se da CUT.

Governistas querem dividir a categoria

A oposição do Andes (Articulação Sindical e PCdoB), tentando dividir a categoria, criou uma entidade para representar apenas os docentes das universidades federais: o Proifes. A entidade foi formada em outubro passado, com o auxílio do governo.

No congresso, representantes de cinco seções sindicais ligadas ao Proifes apropriaram-se indevidamente de parte das contribuições financeiras dos docentes de suas instituições de ensino ao Andes. Este é um ataque direto ao Sindicato e uma clara tentativa de buscar inviabilizar a luta do Andes contra as reformas do governo Lula: Sindical, Trabalhista e Universitária; mostrando que, na luta contra as reformas, nem todos estão do mesmo lado, uma vez que os setores governistas atuam no movimento dos trabalhadores como correia de transimissão da política e da prática autoritária, alheia ao debate de idéias e às decisões da maioria da categoria.

  • Leia a nota pública do ANDES-SN sobre a desfiliação da CUT

    Post author Luiz Roberto, de Belo Horizonte (MG)
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