O site do PSTU entrevistou Cristiane Neves, diretora do Sindsprev-RJ (Sindicato dos Trabalhadores da Saúde e Previdência), que é e auxiliar de enfermagem do Hospital Cardoso Fontes, um dos estão sob a intervenção do governo federal no Rio de Janeiro. Na eSite do PSTU – Como você avalia a situação na saúde do Rio e a intervenção feita pelo governo?
Cristiane – Temos que fazer uma retrospectiva para entender porque os hospitais fecharam as portas. A crise na saúde do Rio de Janeiro chegou a um patamar em que algumas emergências fecharam suas portas e suspenderam o atendimento à população por falta de condições mínimas de funcionamento.
Isso aconteceu porque os governos não assumiram sua responsabilidade em manter uma saúde publica e de qualidade. A responsabilidade pela crise é tanto do governo federal, do governo estadual como do governo municipal. A atual intervenção faz parte de um show pirotécnico do governo Lula e está muito longe de resolver os problemas que estão acontecendo. Ela não vai resolver nada porque é pontual e tem um caráter político. Acontece justamente no momento em que o PFL, o prefeito César Maia em particular, faz uma grande ofensiva de mídia visando às eleições de 2006. A intervenção está prevendo também uma aliança política para essas eleições, pois ela transfere a gestão plena do SUS para o governo do estado. Aqui no Rio, o governo Rosinha Garotinho não é referência nenhuma de saúde. Na verdade, as unidades estaduais sofrem as mesmas mazelas que as unidades municipais.
Há uma aproximação entre Rosinha e Lula com vistas à 2006?
Há sim. O governo estadual aqui segue a mesma política de desmonte do serviço público, de omissão e corrupção. Os trabalhadores, quando fazem atos de protestos contra essa situação, apanham da Polícia Militar. O governo do PMDB é igual ao do César Maia. É um absurdo conceder um status de bons administradores ao casal Garotinho, como o governo Lula fez. É uma insanidade.
Os postos municipais de saúde foram desativados por César Maia?
A disputa acirrada entre o PT e PFL chega a um ponto que César Maia está desativando serviços de pronto-atendimento que funcionavam 24 horas e está transferindo uma série de funcionários desses serviços para o Hospital Salgado Filho. O prefeito também está retirando a gratificação de produtividade do contra-cheque dos servidores. A própria gratificação já é uma mazela, pois não incide sobre 13º salário, férias e aposentadoria, mas ela corresponde a mais de 50 % dos vencimentos dos servidores.
Mudou alguma coisa depois da intervenção? O que você vê no dia a dia nos hospitais?
Antes da intervenção não havia medicamentos, as filas eram imensas, não existiam condições de diagnosticar as doenças da população porque os equipamentos estavam quebrados. Em suma, a situação era de calamidade. Depois da intervenção, as filas estão maiores, chegaram alguns medicamentos, mas insuficientes, e os equipamentos continuam quebrados, como o nosso tomógrafo no Hospital Cardoso Fontes, que permanece quebrado.
Qual é a solução para a Saúde do Rio?
Mais verbas, suspender o pagamento da dívida pública investindo esse dinheiro na saúde, e estatizar todo o sistema de saúde, passando seu controle para as mãos dos trabalhadores. A intervenção deve passar também para o controle dos trabalhadores, bem como a auditoria que tem que ser feita sob o controle absoluto da população trabalhadores e usuários. Do contrário, depois que as cortinas se fecham, os acordos políticos são feitos e todos os casos de desvios e corrupção serão abafados. Também é fundamental aprimorar a organização dos trabalhadores da saúde para que possam lutar por um sistema de saúde realmente digno.