Governadora Ana Júlia divulga indenização a vítimas do massacre de Eldorado, mas envia a PM para desocupar a estrada de ferro da ValeA impunidade no caso de Eldorado alimenta outros assassinatos de trabalhadores rurais e pessoas ligadas à luta pela terra e direitos humanos. “Fusquinha”, um dirigente do MST que sobreviveu ao massacre, foi assassinado dois anos depois, em uma emboscada encomendada durante um churrasco de fazendeiros e jagunços. As denúncias apontam que PMs que estiveram em Eldorado participaram deste outro assassinato. Este caso também continua impune. A missionária Doroth Stang foi assassinada por conta de seu envolvimento com a luta pela terra. Atualmente diversos sindicalistas e padres estão na lista de morte do latifúndio e de outros setores, que exploram e abusam sexualmente de crianças e adolecentes.

Diversas manifestações ocorreram pelo Brasil neste dia 17 de abril, em homenagem aos trabalhadores mortos e exigindo a condenação dos culpados. Em alguns estados houve ocupações como parte do “abril vermelho” do MST, como no Pará. Em Belém, uma passeata acabou na ocupação do escritório da ex-estatal Vale, exploradora de ferro e outros minerais no Sul do Pará. Em Eldorado, dois mil trabalhadores rurais realizaram um ato exigindo o fim da impunidade e a realização da reforma agrária. No município vizinho de Paraupebas, onde fica a mina de ferro da Vale, o MST ocupou a sede da fazenda São Marcos, que já estava parcialmente ocupada há um ano. Ainda na mesma região, 800 garimpeiros, apoiados pelo MST, ocuparam por algumas horas a estrada de ferro de Carajás, interrompendo os trens que transportam diariamente 100 mil toneladas de ferro para os navios de exportação.

A governadora Ana Júlia (PT) organizou uma solenidade para anunciar investimentos para pessoas vítimas da violência e de outras injustiças. Mas o montante dos recursos envolve investimentos diversos, como é o caso da ampliação do sistema de abastecimento de água de da Grande Belém. A governadora anunciou também a indenização de R$ 1,4 milhão a ser dividida entre 20 mutilados de Eldorado e disse que está em tramitação na Assembléia Legislativa um projeto para indenizar outras vítimas do massacre.

O que a governadora tenta passar como uma concessão de seu governo é na realidade resultado da luta de 12 anos dos sobreviventes, que já haviam conquistado o direito à indenização e o governo vinha protelando. A indenização tampouco resolve o problema da impunidade e da falta de reforma agrária. Rubenita, uma das sobreviventes que será indenizada, assim resumiu seu sentimento: “Para mim não é motivo de comemoração receber dinheiro pela morte dos meus companheiros”.

Repressão petista
Além disso, enquanto faz ato para se promover, a mesma governadora ordenou que a PM fosse desocupar a estrada de ferro da Vale e mantém um agrupamento da PM responsável por fazer cumprir ordens de reintegração de posse emitidas contra os trabalhadores rurais. Lamentavelmente a direção do MST ainda mantém laços com este governo e com o de Lula, que prometeu fazer a reforma agrária com “uma canetada só” e até agora fez menos que o governo tucano de FHC.

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