O governo Lula enfrenta uma crise política de grandes proporções, mas teve até agora um trunfo nas mãos, que utiliza com todas as forças que pode: o crescimento econômico. Buscou mostrar que o crescimento atual é obra da política econômica de seu governo. A má notícia, no entanto, é que o ciclo de crescimento dá mostras de estancamento, o que precede uma nova crise econômica.

Em baixa
A evolução brasileira acompanha o ciclo internacional: em maio passado, a produção industrial dos Estados Unidos cresceu em ritmo mais lento desde junho de 2003.
Nos primeiros três meses de 2005, a economia brasileira teve um crescimento de apenas 0,3% em relação ao mesmo período do ano passado (IBGE). O estancamento já vinha se manifestando nos últimos três meses de 2004, com um crescimento de 0,4%. O crescimento ainda se mantém (2,9%), se comparado com o primeiro trimestre do ano passado, quando vivíamos uma recessão. Mas já está clara a desaceleração, com o crescimento aproximando-se do zero.

Os ciclos da economia capitalista funcionam assim, com períodos de crescimento e crises periódicas. Já passamos do auge do crescimento e estamos na desaceleração, e depois virá a crise.

Os investimentos – o motor da economia – caíram 3%, em relação aos últimos três meses de 2004, quando já haviam baixado 3,9%.

Os ritmos de desaceleração indicam a possibilidade de termos um crescimento de algo em torno de 2% em 2005, e chegarmos a 2006 com a economia estagnada, ou mesmo já em crise aberta.

Despertar
O pior para Lula é que as esperanças dos trabalhadores ao redor do crescimento econômico (amplamente estimuladas pela mídia), estão desaparecendo. Os que acreditavam que o desempenho do governo na economia era bom ou ótimo caíram de 45% para 36% de dezembro para cá. Hoje, os trabalhadores já vêem que o pior desempenho do governo é no combate ao desemprego (23%).

Mas o governo bateu três recordes
Como é típico do capitalismo, neste período de crescimento, existe uma minoria que se enriquece ainda mais, e uma maioria que segue na miséria. O governo Lula está demonstrando ser um mestre em fazer que “os de cima cresçam e os de baixo caiam”.
Lula está fazendo coisas que FHC não poderia fazer, por não ter o espaço do PT no movimento de massas. Isto justifica uma série de recordes do governo.

O primeiro recorde são os juros, os maiores de todo o mundo, o dobro da segunda taxa mais alta (Turquia, com 6,7% de juros reais). Isto é feito para atrair capitais e poder assim seguir pagando a dívida aos grandes bancos.

O segundo recorde é o chamado superávit primário. Este superávit mede as contas do governo (gastos com pessoal e investimentos) sem contar o pagamento dos juros da dívida. Isto significa que o governo corta duramente os gastos com educação, saúde e reforma agrária para poder pagar aos banqueiros os juros da dívida.

Em abril, o governo bateu pelo segundo mês consecutivo o recorde histórico de superávit do país. “Economizou” R$ 16,3 bilhões dos gastos sociais para pagar juros. Nenhum governo da direita tinha conseguido tal resultado a favor dos banqueiros. Foi o valor mais alto registrado no país.

Já o superávit acumulado entre janeiro e abril chegou a R$ 44,012 bilhões, equivalente a 7,26% do PIB. Bem maior do que a meta estipulada pelo FMI de 4,25% do PIB. Isto apenas mostra como Lula está sendo um aluno aplicado do Fundo.

O terceiro recorde ocorre com o lucro dos bancos. Desde a posse de Lula, o lucro dos bancos vem batendo recordes históricos. Isso é impressionante, porque Lula está superando nessa questão os governos do PSDB e PFL, representantes diretos do capital financeiro, em que os bancos já vinham obtendo lucros escandalosos. Lula é ainda mais subserviente aos banqueiros que os governos da direita.

A rentabilidade média dos bancos (relação entre o lucro e o patrimônio) em 2003 foi de 17% – recorde nunca antes alcançado – superior aos lucros que os bancos conseguiram nos EUA naquele ano (14,6%). Em 2004, o recorde foi superado, com o lucro dos bancos alcançando 18,4%. Para se ter uma idéia da dimensão da proeza de Lula, os bancos nos EUA nunca chegaram a tanto, com a melhor rentabilidade em 17,4% em 1999. O Itaú apresentou, em 2005, o maior lucro anual de um banco na história (R$ 3,776 bilhões).

A boa notícia para os bancos – e péssima para os trabalhadores – é que os recordes seguem em 2005. Os três maiores bancos privados do país – Bradesco, Itaú e Unibanco – aumentaram seus lucros em 56% em relação ao mesmo período de 2004. A rentabilidade desses bancos também cresceu para 26,5%.

Quase dois novos recordes mundiais
Uma das expectativas dos trabalhadores com o governo do PT era a de que se elevasse os salários, acabando com o arrocho. Nada disso está acontecendo.

Segundo dados do IBGE, em abril, houve uma queda de 1,8% no rendimento médio dos trabalhadores em relação a março. Se considerarmos o período de um ano (praticamente todo o período de crescimento), o rendimento subiu só 0,8%. Assim se desmascara uma das mais importantes mentiras do governo, a promessa de melhorias sociais como fruto do crescimento econômico.

Os salários dos trabalhadores caíram muito nos últimos anos, sendo um dos mais baixos do mundo. Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA, entre 1995 a 1999, o custo do trabalho no Brasil era de US$ 3 por hora, e caiu para US$ 1,40 em 2003. Nos EUA e na Europa, varia de US$ 8 a US$ 14. Pior que o Brasil, só o Sri Lanka, com US$ 0,32. Quase um novo recorde mundial.

Para os que tinham esperanças de melhoria dos salários com o governo Lula, mais uma surpresa. O governo não só não vai aumentar os salários como quer, com a reforma Sindical, poder atacar as mínimas conquistas do passado (férias e 130 salário etc.). Na realidade, o objetivo deve ser superar o Sri Lanka e bater mais um recorde mundial.

Vários Haitis
Talvez o governo pretenda bater outro recorde macabro, o da desigualdade social. Dados oficiais do IPEA, do Ministério do Planejamento, indicam que o Brasil tem a segunda pior distribuição de renda do mundo. O índice de Gini, que mede a desigualdade de renda em valores, mostra que o Brasil só perde como o pior para Serra Leoa, um paupérrimo país da África.

Para os que se surpreendem com a miséria de países como o Haiti, é bom lembrar que a desigualdade social lá é menor que no Brasil. Existem vários Haitis na periferia de cada grande cidade enquanto a burguesia e a alta classe média se esbanjam em luxos semelhantes ao dos países imperialistas.

O “Haiti é aqui”, como dizia a música de Caetano, em termos de desigualdade social.

Perdendo a fantasia
Lula que se cuide, as máscaras do PT estão caindo e não só pela corrupção.
Na pesquisa feita pelo instituto Datafolha, o povo brasileiro identifica que os setores mais beneficiados pelo governo são os políticos (29%) e os bancos (27%). Já os mais prejudicados pelo governo do PT, na mesma pesquisa, são os trabalhadores (27%).

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