José Alencar, Lula, José Dirceu e Palocci, em reunião com empresários
Agência Brasil

Diante da perda de suas bases trabalhadoras, o PT procura sustentação nos empresáriosPara quem acompanha o site do PT, as suspeitas do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), a cerca da grossa corrupção nas PPPs, o que lhe gerou ameaças de dirigentes do PT, já vinham sendo sentidas. No dia 02/10/2003, Lula afirmava, no artigo “O tempo de vacas magras acabou”, a quem e sob que condições pretendia entregar (privatizar) os serviços públicos brasileiros.

Dizia ele: “Terminamos agora o PPA (Programa Plurianual), vamos agora chamar empresários brasileiros e internacionais para saber quem está disposto a fazer, primeiro, parcerias com o governo, as chamadas PPPs. Segundo, quem está disposto a pegar alguma obra para fazer por concessão do governo e, terceiro, quem quer fazer obra com financiamento do BNDEs, ou quem tem dinheiro próprio. Ou seja, nós temos estradas, nós temos ferrovias, nós temos hidroelétricas, nós temos hidrovias”.

Na tradição política brasileira, uma entrega de patrimônio nacional dessa envergadura gera direito à contrapartida. Para um partido experiente e decidido pelo poder, como o PT transgênico, diante da perda de suas bases trabalhadoras que já há muito não se reúnem em comitês de bairros, de fábricas, de sem-teto, não seria surpreendente que buscasse capitalizar uma nova base de sustentação.

O fato é que às vésperas da aprovação do projeto de PPPs na Câmara dos Deputados, (no dia 16/04/2004), o site do PT apresentava a seguinte informação: “Diretório Nacional do PT lança Comitês de Empresários”.

Um novo dirigente partidário, o empresário paulista José Carlos Almeida, coordenador nacional do PT na formação desses comitês, informava, orientava e concluía sobre essa campanha: “A idéia é irradiar comitês pelos 5.300 municípios onde o PT está organizado (…) Só a atitude de apoio de empresários conhecidos a candidaturas petistas numa localidade tem impacto significativo sobre o eleitorado”. Para o empresário petista, “os comitês recomendam, também, a arrecadação de fundos de campanhas (…) Os comitês continuam atuando após a eleição, com acompanhamento da aplicação de programas de governo e proposição de políticas públicas ao legislativo e executivo municipais” O empresário conclui que “assim manteremos esta força ativa para outras eleições”.

Feito o percurso destas informações facilmente acessadas no site do PT, passamos a comentar as desmesuradas garantias (lucro sem risco) dadas ao empresariado e a vergonhosa margem de manobras nas licitações que são oferecidas ao executivo federal no projeto das PPPs apresentado pelo governo Lula.

As aberrações do projeto do governo são tantas que têm gerado uma certa grita entre os próprios setores interessados.
A situação chega a ser trágica para os partidos burgueses tradicionais, como PFL e PSDB, visto que estão se sentido ameaçados pelo desemprego, pois, aquilo que tentaram fazer durante o governo FHC, cobrando um custo elevado aos lobbies econômicos, o governo Lula está prometendo fazer de maneira mais eficiente, mais rápida e talvez numa negociação menos dispendiosa. Isso levou a que Tasso Jereissati, do PSDB, chamasse o projeto de “um convite à corrupção e a maior promiscuidade da história deste país”. Tasso, que pertence a um partido especialista em desmonte do patrimônio público, ainda disse que o projeto “está cheio de más intenções”.

Tudo isso torna-se mais grave quando vemos a CUT chamar pelo pacto social para dar sustentabilidade a esse governo. O próprio Luiz Marinho defende as PPPs.
Como podemos observar, a situação continua preocupante para os servidores públicos, que podem acabar sendo substituídos por trabalhadores terceirizados, e para a população, que tende a pagar serviços mais caros e de menor qualidade como os de energia elétrica e saúde.

Defender o serviço público

As PPPs atingirão todos os serviços públicos. Acabamos de ver a licitação de áreas petrolíferas já pesquisadas pela Petrobras. Na educação, Lula está garantindo o lucro dos tubarões do ensino com a compra de vagas nas universidades privadas. As CACs do INSS estão sendo terceirizadas. Na Aduana, os fiscais dependerão, para cumprirem seus deveres, de equipamentos controlados por empresas privadas. Até a dívida ativa pode ter sua cobrança transferida aos bancos. Ou seja, estamos retornando a uma situação pior que a dos tempos da República Velha, quando todos os serviços públicos estavam nas mãos de empresários privados majoritariamente estrangeiros.

Nesse contexto, só resta uma saída aos trabalhadores brasileiros, o caminho da luta: lançar uma grande campanha em defesa da soberania nacional e em defesa dos serviços públicos; unificar as lutas, solidarizando-se com as campanhas de trabalhadores que estão em curso; engrossar a marcha contra as reformas neoliberais de Lula, marcada para 25 de novembro em Brasília e, fortalecer o encontro da Conlutas no Fórum Social Mundial, em 2005.

* Iranilson é diretor do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco)

Post author Iranilson Brasil*, especial ao Opinião Socialista
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