Professores e funcionários de escolas do Rio de Janeiro, tanto os municipais quanto os estaduais estão em greve desde o dia 8 de agosto. A recusa dos governos em atender a demandas básicas da categoria, como reajuste salarial que reponha as perdas inflacionárias e o cumprimento de lei federal relativa à destinação de um terço da carga horária para o trabalho de planejamento de aulas, associada às políticas meritocráticas para a educação levaram os profissionais de educação a decretar greve. O Opinião Socialista entrevistou Susana Gutierrez, professora da rede municipal, diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro e militante do PSTU
Opinião Socialista – Neste momento, estamos assistindo quase a uma greve geral da educação no Rio, com a paralisação das redes municipal e estadual, além da rede de escolas técnicas do Estado – Faetec. Qual o significado disto?
Susana Gutierrez – Tem duas dimensões. Uma é o porquê dos professores e funcionários terem optado pela greve. Os governos, e isso acontece em todo o Brasil, têm aplicado reajustes que não acompanham a inflação, e o resultado é a perda do valor real dos salários. Para se ter uma ideia, boa parte dos funcionários tem menos de um salário mínimo como vencimento. Além disso, as condições de trabalho são péssimas, e temos perdido paulatinamente a autonomia pedagógica, sendo obrigados a seguir cartilhas e a aprovar alunos. A outra dimensão é a da unificação das greves. Isso é muito importante, primeiro porque chama a atenção para o problema da educação, depois porque uma luta fortalece a outra, e apontam para a necessidade da organização dos trabalhadores.
A rede municipal não fazia greves há 19 anos…
Susana – Pois é… e o fato de ter acontecido em agosto, logo após as passeatas de junho e julho não é coincidência. Apesar de as mobilizações da rede municipal terem começado antes, com certeza as grandes manifestações ajudaram na compreensão de que é necessário lutar, que é possível lutar e vencer. Eu diria inclusive que nossa greve é parte daquelas lutas, porque ali se levantava a bandeira da melhoria da educação pública, e é justamente por isso que estamos lutando.
As greves se enfrentam com o governador e o prefeito do Rio, ambos do PMDB. O que há de comum entre esses dois governos?
Susana – Sergio Cabral e Eduardo Paes traçam a mesma política educacional, baseada na lógica da produtividade e do cumprimento de metas – não por acaso seus secretários de educação não são ligados à área pedagógica, mas à administrativa. As ações de Cabral e as declarações de Paes durante as manifestações no Rio demonstram o quanto eles criminalizam os movimentos sociais, e agora tentam desautorizar o sindicato. Ambos têm gastado rios de dinheiro com obras para os megaeventos, muitas delas desnecessárias, mas dizem não ter dinheiro para a educação. Na verdade, o que tem acontecido, como recentes denúncias apontaram, é que esses governos, compostos por partidos como PT, PCdoB e PSB, destinam as verbas da educação para outros fins, repassando-os para fundações privadas e até para empresas de transporte. Mas a greve colocou esses governos contra a parede.
Como tem sido a reação da população em relação à greve?
Susana – Tem nos apoiado muito. Elas conhecem de perto o descaso desses governos na saúde, na educação, nos transportes, não é à toa que sua popularidade tem caído vertiginosamente. Até a UPP, carro-chefe do Cabral e defendido pelo Paes, não tem mais servido para manter seus prestígios, depois que casos gravíssimo têm vindo à tona e mostrado à população que essa polícia não tem nada de pacificadora, como foi o caso do desaparecimento do pedreiro Amarildo. Por isso, a categoria encampou a campanha “Fora Cabral, vá com Paes”. A renúncia anunciada pelo Cabral para janeiro não é o suficiente. O que estamos repudiando são os governos estadual e municipal como um todo. Eles certamente não representam os trabalhadores da educação, assim como não representam a população usuária dos serviços públicos.
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