Lançamento da "Frente Ampla pelas Diretas Já". Foto Lula Marques/Agência PT
Mariucha Fontana

O caminho da classe trabalhadora é construir a Greve Geral de 30 de junho para derrubar as reformas, Temer e esse Congresso

Nas fábricas, nos bairros, nas periferias e nas escolas cresce a raiva e a disposição de luta contra tudo o que está aí. Produto desta pressão dos de baixo, as centrais acabam de marcar uma nova Greve Geral para o dia 30 de junho contra as reformas e o governo. Esse é o caminho.

A Greve Geral do dia 28 de abril abalou fortemente o governo Temer, colocando em xeque as reformas no Congresso. Foi isso que abriu as porteiras para que a delação da JBS sacudisse até quase derrubar Temer. A manifestação do dia 24 em Brasília foi mais um soco nesse governo, nesse Congresso e suas reformas.

Perante o cai-não-cai de Temer, os partidos envolvidos na Lava Jato (da situação – PSDB, DEM,  e outros e da “oposição” – PT e PCdoB, por exemplo) estão negociando à luz do dia ou por debaixo dos panos, um sucessor por eleições indiretas para Temer e também emendas nas reformas.

A Greve Geral é o que pode enterrar de vez essas reformas, derrubar Temer e esse Congresso. Ela é que pode impedir também que façam eleições indiretas.  Além disso, é na luta unificada que podemos construir o poder dos debaixo, como alternativa a essa falsa democracia dos ricos.

Por isso, tentar tirar o foco da construção da Greve Geral e da luta contra as reformas e focar em atos-shows por diretas é caminhar para trás, é escolher um caminho de desmobilização.

Mas, logo após o Congresso do PT e por iniciativa deste partido, através da Frente Brasil Popular, formou-se uma “Frente Ampla Nacional pelas Diretas Já”, que conclama “o povo às ruas”, nos moldes dos pequenos atos que ocorreram no Rio e São Paulo.

O objetivo dessa campanha é tirar o foco da construção da Greve Geral do dia 30 de junho e da luta pela derrota das reformas e construir ações limitadas que pavimentem, na verdade, a construção de uma “Frente Ampla” eleitoral para 2018.

O acordão pelas indiretas tem muita gente das “Diretas, Já” dentro
O PSDB, o DEM, o PMDB, banqueiros e empresários estão procurando um nome que una todos eles (e também a oposição nos limites da ordem) para substituir Temer por eleições indiretas.  O PT tem duplo discurso: chama campanha por diretas, mas libera seus governadores para negociar indiretas por debaixo dos panos. O PCdoB nem se esconde, está a todo vapor na articulação em favor de Rodrigo Maia, do DEM, para presidente no lugar do Temer. Não é contraditório com esse “acordão” (que a classe dominante ainda não conseguiu fechar)  que o PT, formalmente, apareça como oposição e “defensor das diretas”, desde que se comprometa realmente com a “defesa da ordem” atual das coisas, incluindo não fazer tanta marola, como greves gerais, contra as reformas, e defenda a manutenção até 2018 desse Congresso comprado pela JBS, Odebrecht, Itaú e Cia.

2018 está logo ali, já começou, diz Lula
 “Diretas, já” é, na verdade, e por enquanto, campanha que já começou para Lula 2018.

Isso, diz o próprio Lula: “2018 está longe para quem não tem esperança. Para nós, 2018 está logo ali, já começou. É por isso que eles estão com medo e nós não estamos com medo. Se a esquerda for para disputa com um programa factível, eu tenho certeza que a gente vai voltar a governar esse país” (veja aqui).

O ex presidente do PT, Rui Falcão, vai na mesma toada : “[…] Nós iniciamos agora uma frente parlamentar pró-diretas, com PSB, PCdoB, PSOL, PT e a Rede ficou de analisar. […]: é um movimento interpartidário por diretas contra as reformas e não tem candidato. Ninguém está discutindo candidatura nessa fase.[…] Num processo eleitoral democrático, você terá que apresentar um programa para o país. Inclusive o Lula terá que fazer isso.[…] Isso precisa ser partilhado com outras forças e é nesse contexto que você vai discutir quem são suas alianças. Nesse contexto, uma pessoa como o Ciro [Gomes-PDT] pode compor uma aliança conosco.[…] (veja aqui).

Guilherme Boulos, da Frente Povo Sem Medo, por sua vez, diz que “[…]a realização de eleições diretas para substituir Temer é a única maneira de barrar as reformas trabalhista e previdenciária propostas pelo governo”. Diz também que “tem que ver com qual programa Lula vai ser candidato, porque se for com o programa – e às vezes sinaliza-se nesse sentido – de mais do mesmo, de recompor com os mesmos partidos que agora estão fazendo essa agenda e deram o golpe, de não ousar propor mudanças mais estruturais, será um programa que não unificará a esquerda brasileira. […] “ (veja aqui).

Todas essas declarações demonstram que essa “Frente Ampla” é na verdade uma frente em busca de uma coalizão eleitoral.

Greve Geral é o que pode garantir derrubada das reformas e não “Diretas ou Lula 2018”
A Greve Geral é o caminho que pode derrotar as reformas e, inclusive, impedir que emplaquem um acordão para eleição de novo presidente por via indireta.

Campanha de “Diretas, Já”, secundarizando o método de luta da Greve Geral e o combate às reformas, facilita a aprovação de reformas logo adiante. É reacionário e mentiroso dizer, como muitos setores fazem, que a garantia de não ter reformas é eleger Lula de novo. Primeiro porque Lula já fez reformas como estas que estão sendo propostas. Segundo porque Lula se dispõe a governar com o empresariado, o agronegócio e os banqueiros. Terceiro porque, mesmo que prometa tal coisa, não há qualquer garantia de que vai cumprir. Quem não se lembra da Dilma dizendo que não ia mexer em direitos “nem que a vaca tussa”?

Guilherme Boulos, que chamou a votar na Dilma nas eleições de 2014, deveria saber muito bem disso. Como pode dizer que as “Diretas” é que vão impedir as reformas, porque “ninguém que prometa reformas poderá se eleger”? Desde quando nas eleições burguesas, nessa enganação de democracia dos ricos, político faz o que promete nas eleições? Guilherme Boulos devia ter aprendido com a eleição da Dilma. Afinal, ela deu um tremendo estelionato eleitoral nos 54 milhões que votaram na chapa Dilma-Temer, fazendo a vaca tossir bem cedo, arrancando o PIS e o seguro-desemprego dos trabalhadores que estão sendo demitidos em massa.

É reacionário tentar tirar o foco da construção da Greve Geral e da mobilização de massas para derrubar as reformas e o governo, para fazer uma campanha em torno de atos em defesa de “Diretas só para presidente”, que possuem um apelo muito menor de mobilização e que tem como objetivo central construir uma “Frente Ampla” eleitoral para 2018.

Contra o acordão e as indiretas – Eleições Gerais
Nós pensamos – como boa parte dos trabalhadores pensam hoje também – que mesmo as eleições não vão mudar nada.

O que pode mudar de verdade o país e acabar com a miséria, o desemprego, os baixos salários, a falta de saneamento básico, a violência e opressão sobre negros, indígenas, mulheres e LGBT’s  é um governo socialista dos trabalhadores, sem patrões e sem corruptos, no qual os trabalhadores e o povo governem através de conselhos populares.

Só um governo desse tipo pode garantir, moradia digna, terra, transporte decente, educação e saúde públicas de qualidade. Um governo dos de baixo, que enfrente banqueiros, empresários, latifundiários para: 1) expropriar, estatizar e colocar sob controle dos seus funcionários as empresas corruptas, como a JBS, Odebrecht e todas as demais que aparecerem nesse festival de corrupção; 2) para prender e confiscar todos os bens de corruptos e corruptores; 3) suspender pagamento da dívida aos banqueiros; 4) estatizar e colocar sob controle dos trabalhadores todo o sistema financeiro; 5) proibir a remessa de lucros das multinacionais para o exterior e estatizar todas as empresas que demitirem.

Mesmo se a conquista de tal governo não estiver posta no momento, é nossa obrigação dizer a verdade aos trabalhadores e à juventude, que romperam com o governo do PT e buscam uma alternativa. Os que participam deste festival de enganação e desmobilização jogam água no moinho de um partido que governou com os grandes empresários e ao serviço do imperialismo.  Se recusam a construir uma alternativa desde baixo. Se não começarmos a construí-la, ela nunca existirá.

Nós precisamos construir comitês de luta nas fábricas, nos bairros nas escolas para organizar a Greve Geral e também para debater a nossa organização desde baixo, para que possamos vir a ter os operários e o povo pobre no poder!

Mas, não vamos aceitar que esse Congresso corrupto eleja outro presidente para fazer as reformas contra nós. Enquanto não tivermos os nossos conselhos ou comitês populares construídos, defenderemos Eleições Gerais, com novas regras. Quer dizer: não eleições só para presidente, que é o que significa “Diretas, Já” como está defendendo o PT e esta “Frente Ampla”, mas eleições já pra todo mundo, inclusive para o Congresso, e com outras regras: tempo de TV igual para todos, sem financiamento de empresas e a participação de corruptos. 85% do povo prefere eleições e é direito que possam escolher.

A burguesia e a Globo são hipócritas quando dizem que eleições diretas é inconstitucional. Ora, mudar a aposentadoria é inconstitucional também. Quer dizer que esse Congresso safado mexer na Constituição para tirar nossos direitos, pode, mas para chamar Eleições Gerais, já, não pode?  

Vamos construir com tudo a Greve Geral do dia 30 de junho. Exija assembleias no seu sindicato, nos bairros e escolas. Vamos organizar comitês. Nenhum passo atrás.

Fora as reformas, Temer e TODOS eles!