Redação

A Bienal Internacional de Artes Visuais da Bahia sofreu duas interrupções. A primeira aconteceu na edição de 1968 a mando dos militares. Sua retomada só aconteceu em 2014. Agora sofre uma nova interrupção, pelo governo de Rui Costa (PT), que alega falta de recursos. Mas será que é isso mesmo ou apenas uma questão de prioridades?

Todos os governos alegam que não têm dinheiro, que a crise econômica que passa o país exige contenção de gastos. Mais do que isso, gritam aos quatro cantos que é preciso um ajuste fiscal, medidas de austeridade. Ajuste fiscal e medidas de austeridade para esses senhores significa colocar a conta da crise nas costas dos trabalhadores.

O odiado e rechaçado presidente Michel Temer (PMDB) tenta impor a aprovação da PEC 55 que congela os gastos públicos por 20 anos, ou seja, menos investimentos em saúde, educação, moradia e nas demais áreas sociais. Enquanto isso, os empresários receberão R$ 224 bilhões em subsídios e isenções fiscais em 2017.

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), também faz um chororô danado em torno à crise econômica. Nega-se a reajustar os salários dos servidores municipais, vai cancelar o contrato com 6 mil trabalhadores terceirizados e recontratar 5 mil destes trabalhadores por contratos temporários.

Mas dinheiro para festa não falta.A prefeitura vai realizar a maior festa de réveillon do Brasil. Serão cinco dias de festas com shows de Ivete Sangalo, Wesley Safadão, Bell Marques, Anitta, Aviões do Forró e 16 grandes atrações. Enquanto isso, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informam que a taxa de desemprego na capital baiana é de 17%.

O governador Rui Costa não se difere em nada do odiado Michel Temer e do almofadinha ACM Neto, governa para os ricos. Afagos e amores com os empresários e a turma do agronegócio. Arrocho no salário dos servidores públicos, sucateamento da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e da rede pública do ensino fundamental e médio. As chacinas da juventude negra e pobre da periferia segue igual aos tempos dos governos da velha oligarquia.

A tesoura de Rui Costa corta gastos da mesma forma que a tesoura de Temer e ACM Neto. Na terça-feira, 22, o governador anunciou um corte nos gastos de R$ 176 milhões do Orçamento de 2016 dos valores repassados para manutenção, projetos e atividades finalísticas de órgãos, autarquias, fundações e empresas estatais. Lembrando que esse mesmo orçamento já tinha sofrido o contingenciamento de mais de R$ 1 bilhão no início do ano.

Rui Costa corta os investimentos em artes e cultura, seguindo a mesma política nacional de Michel Temer. Para esses senhores arte não tem valor, nem importância. Cortam os investimentos em áreas de interesses sociais, mas mantêm os seus privilégios: altos salários, verbas de gabinete e mordomias.

Recursos financeiros têm. A Bienal não será realizada porque o governo do PT, assim como Temer e ACM Neto, priorizam manter os banquetes fartos dos ricos e poderosos, afinal, a arte liberta. Para esses senhores, serve o que aliena.

Que a não realização da Bienal também seja um despertar aos artistas. Mais que um ponto de reflexão, seja também um ponto de partida para a construção de um movimento artístico livre e independente, sem amarras com as burocracias estatais e empresariais. E fica a lição, assim como a velha oligarquia, o PT também é inimigo das artes, logo, não é aliado dos artistas.
Por Roberto Aguiar, de Salvador (BA)