Foto Alan Santos/PR

Além de negacionista e genocida, Bolsonaro é corrupto e ladrão. Ele não só foi responsável pela maior parte das mais de 515 mil mortes notificadas (enquanto fechávamos esta edição, lembrando que esses números são subnotificados), como usou a pandemia para roubar através da compra de vacinas superfaturadas.

Acuado pelo escândalo, Bolsonaro deu a clássica resposta que todo corrupto dá: “Eu não sabia.” A sucessão dos fatos que compõem o que pode ser o maior caso de corrupção da história, porém, não deixa margem para dúvidas. O presidente não só é culpado por “prevaricação” (omitir-se diante de um crime), como o acusa a oposição parlamentar, mas está diretamente envolvido com o escândalo. Além de responsável direto pelo morticínio na pandemia, pelo desemprego recorde e o avanço da fome através da política econômica levada a cabo por Paulo Guedes, Bolsonaro é também um ladrão que sobe em cima de uma pilha de cadáveres para roubar.

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Editorial: Fora Bolsonaro, genocida e corrupto!

Desenrolando a roubalheira

O caso explodiu na imprensa com a revelação da tentativa de compra superfaturada de uma vacina pouco conhecida e que sequer contava com a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): a Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. Após ter boicotado e dificultado de todas as formas a viabilização da Pfizer, da Coronavac e ter recusado metade das vacinas do consórcio Covax Facility, o governo começa um verdadeiro trâmite a jato pra importar a Covaxin, com um valor 1000% acima das outras vacinas.

Esses casos de corrupção começam a ser revelados quando vaza o depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) do servidor Luis Ricardo Miranda, responsável pelo setor de importação do Ministério da Saúde. Nele, Miranda denuncia pressão permanente para a liberação da negociata sobre a Covaxin. E detalhe: o pagamento ocorreria via uma empresa offshore (de fachada) em Cingapura, um paraíso fiscal. O valor da brincadeira: R$ 1,6 bilhão.

Mais um detalhe: a mediação dessa compra ocorreria através da empresa Precisa, do empresário Francisco Maximiano, cujos negócios começaram a prosperar justamente durante o governo Bolsonaro.

Com o nome do servidor na roda, seu irmão, o deputado Luis Claudio Miranda (DEM-DF), vai à imprensa e afirma ter denunciado o esquema ao próprio Bolsonaro. A resposta de um governo miliciano não poderia ser outra: ameaças e o anúncio da abertura de investigação… contra o deputado e seu irmão.

CPI e o estopim da crise

Convocados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia, os irmãos Miranda revelaram que, ao denunciarem o caso a Bolsonaro, este teria dito que aquilo seria “coisa de Ricardo Barros” e que se mexesse nisso “daria m..”. Ricardo Barros, como já citado, é ninguém menos que o líder do governo na Câmara. Ex-ministro da Saúde no governo Temer, fez parte dos governos Lula e Dilma. É um exemplo típico do centrão, um notório corrupto que se move por onde o dinheiro está.

E o que Bolsonaro fez após a denúncia? Encaminhou à Polícia Federal? Não. Afastou Barros? Também não. Bolsonaro presenteou Ricardo Barros nomeando sua esposa para o Conselho de Administração de Itaipu, uma boquinha de salário mensal de R$ 27 mil. E agora reafirmou que ele continua na liderança do governo.

Mais roubalheira

Um dólar a vida, e RS 1 bilhão de propina

Agora uma nova denúncia revela o lamaçal desse governo genocida. A Folha de S. Paulo revelou no último dia 29 de junho um pedido de propinas, a partir do Ministério da Saúde, de US$ 1 a mais no preço de cada dose da Oxford-Astrazeneca, para que fosse feita a compra. A denúncia foi feita à reportagem por Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da empresa Davati Medical Supply, segundo o qual a proposta indecente foi feita durante um jantar em 25 de fevereiro por Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do Ministério, indicado pelo líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Segundo denunciou Dominguetti, para a compra das vacinas foi lhe dito pelo representante do governo que era preciso entrar no esquema. “Dariam 200 milhões de doses de propina que eles queriam, com R$ 1 bilhão”, disse à reportagem da Folha.

LADRÃO

Mamata e corrupção

Enquanto fechávamos esta edição, os senadores da CPI entravam no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Bolsonaro por prevaricação. No entanto, Bolsonaro não só se omitiu, fazia parte do esquemão, e há farta evidência disso.

Até o final do ano passado, Bolsonaro lançou mão de um discurso antivacina. A partir de janeiro, ou seja, poucos dias depois, começou a mudar essa orientação. Agora sabemos que não foi só por conta da vacina do Butantan e da pressão inclusive de setores da própria burguesia. Foi justamente o momento em que começaram as tratativas para a compra da Covaxin.

Mais do que isso, segundo revelou a revista Veja, o filho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro, o “01”, esteve com o dono da Precisa no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para liberar as portas do banco para a empresa.

Corrupção é muito maior

Como se não bastasse o escândalo da Covaxin e agora a denúncia de pedido de propina para a compra da Oxford-Astrazeneca na mesma época, há outro caso que pode ser ainda bem pior. Em junho, o governo começou a negociar a compra de outra vacina, desta vez da China, do laboratório CanSino. A empresa intermediadora no Brasil seria a Belcher Farmacêutica, cuja sede fica em Maringá, no Paraná, coincidentemente, base eleitoral de Ricardo Barros, onde ele foi até prefeito.

O negócio prevê a compra de doses a US$ 17, a mais alta até agora, e o contrato teria valor de R$ 5 bilhões. E quem está por trás disso? Os empresários Luciano Hang, o “véio da Havan”, e Carlos Wizard, membro honorário do “ministério das sombras” do governo. Bolsonaro vai continuar dizendo que “não sabia”?

Fora Bolsonaro e Mourão

Crise se aprofunda, é hora de ir pra cima

19J em Fortaleza (CE)

Os escândalos da Covaxin e do pedido de propina para a compra da Oxford-Astrazeneca são a expressão mais contundente do aumento da crise no governo Bolsonaro. Crise provocada pela pandemia, a enorme crise social que vem corroendo sua base e ampliando seu desgaste, ao qual se juntaram as manifestações do 29M e do 19J. Situação que vem fazendo despencar a popularidade do governo. Segundo a mais recente pesquisa do instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) – antigo Ibope –, 50% consideram o governo ruim ou péssimo. Seus apoiadores estão se reduzindo e somam hoje 23%. Essa crise vem provocando fissuras no andar de cima.

O pivô da atual crise, por exemplo, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), é aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Segundo a revista Veja, Lira há meses tenta limar Ricardo Barros da liderança do governo, numa disputa intestina nas fileiras do próprio centrão. Luis Miranda, Lira e o próprio Ricardo Barros são notórios corruptos, como o é o próprio governo Bolsonaro. Mas que, em suas disputas por nacos cada vez maiores de dinheiro, espaço e poder, não pensam duas vezes em abrir crises que possam afetar o próprio governo do qual são base. Algo parecido com o que fez Roberto Jefferson no escândalo do mensalão.

O problema é que Bolsonaro está nas mãos do centrão. Está mais difícil se livrar dos problemas e rifar aliados como ele sempre fez.

Fora Bolsonaro e Mourão já!

Deixar Bolsonaro sangrar até 2022 significa prolongar o genocídio, a roubalheira, além da guerra social contra os trabalhadores, com o desemprego em massa e a ofensiva contra os direitos. É deixar a juventude sem trabalho ou precarizada, sem qualquer perspectiva de futuro.

Mais do que isso, não tirar Bolsonaro já mantém as condições para se consolidar um projeto autoritário para o país. Com ele ou não. Já há articulações para, caso venha a se tornar inviável, tirá-lo de lá para assumir Mourão. Mantém-se, assim, a atual política econômica de Guedes e a unidade em torno dos interesses da burguesia e para a continuidade da entrega do país. Inclusive, mantendo os militares no poder, costurando uma alternativa para 2022.

Por isso, não basta apenas fora Bolsonaro, é preciso lutar para tirar Bolsonaro, Mourão e toda a corja corrupta e miliciana que se encastelaram no poder, inclusive os militares que mantém um projeto autoritário para o país.

Saída

Uma alternativa socialista e revolucionária para o país

Não basta tirar Bolsonaro, é preciso discutir o que colocar no lugar, ou seja, um programa e um projeto de país. Com Mourão, os militares do alto escalão manteriam seus atuais privilégios, cargos e, sobretudo, poderiam continuar gestando uma mudança no regime rumo a uma ditadura. Mas outras alternativas também estão sob o tabuleiro.

A direita tradicional busca o que chama de “terceira via”, que na verdade seria manter a atual política econômica. É uma alternativa representada por Doria, Maia ou até mesmo Ciro Gomes.

Lula, por sua vez, defende frente ampla com a burguesia como alternativa para disputar as eleições e governar. Isso em conjunto com os banqueiros, os grandes empresários e o agronegócio, exatamente os mesmos setores que sempre governaram e que estão, ou estiveram há até pouco tempo, com Bolsonaro.

A direção do PSOL quer embarcar logo na frente ampla ou amplíssima de Lula. Com a justificativa de se tirar Bolsonaro, apoia um governo de conciliação de classes que não deu certo no Brasil, nem em qualquer canto do mundo (Grécia, Espanha etc.), e que acabou, por aqui, ajudando a desmoralizar a classe e abrindo caminho para a ultradireita. Isso porque, governando com a burguesia, é impossível mudar de fato a vida dos trabalhadores e dos setores mais pobres. Invariavelmente, aplica-se o mesmo projeto neoliberal.

Já a esquerda do PSOL apoia a candidatura Glauber Braga como alternativa a Lula no primeiro turno das eleições. No entanto, não está claro se a alternativa é apenas para as eleições, e o programa apresentado se limita a ser antineoliberal, nos marcos da democracia burguesa, não defende a expropriação e a estatização dos bancos, das grandes empresas, do agronegócio ou tampouco da saúde.

Governo socialista dos trabalhadores

O PSTU busca toda unidade possível para tirar Bolsonaro. Porém, uma coisa é tirar, outra é o que colocar no lugar. Defendemos a construção, na luta, de um programa da classe trabalhadora para termos vacinas já com a quebra das patentes, empregos e direitos. Para termos saúde, educação e parar as privatizações, revertendo a entrega do país. Para parar a matança indígena e a destruição do meio ambiente. E isso só é possível atacando os bilionários, os banqueiros, grandes empresários e latifundiários. Ou seja, é impossível mudar o país governando com os mesmos que sempre estiveram aí.

É preciso avançar na auto-organização dos trabalhadores, do povo pobre, da juventude precarizada e dos oprimidos, fortalecer uma alternativa operária e socialista, que possa colocar em prática um programa dos trabalhadores à crise e para o país. Uma alternativa revolucionária e socialista, rumo a um governo socialista dos trabalhadores, que governe através de conselhos populares nas fábricas, bairros, periferias etc..

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