Zé Celso foi um cara que impactou de forma fantástica as vidas de muita gente | Foto: Divulgação
Wilson Honório da Silva, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU

Wilson Honório da Silva, do jornal Opinião Socialista

Poderia escrever páginas e mais páginas sobre Zé Celso. Mas, por estar, literalmente, cercado de caixas para um mudança prestes a acontecer, não vai dar. Recomendo, então, a leitura do artigo que o Roberto Aguiar escreveu e deixo aqui minha saudação pessoal, minha gratidão e celebração da vida para um cara que impactou de forma fantástica as vidas de muita gente. Mas, ouso dizer, particularmente gente como eu.

E explico-me! Obviamente, todo mundo que assistiu algo do e com o Zé, participou de alguma de suas celebrações políticas, culturais ou artísticas foi tocado de alguma forma. Mas, sinceramente, tenho que dizer que Zé Celso reverberou de forma particularmente profunda e marcante nas vidas de gente que, como eu, desde sempre foi apaixonado pelas Artes e que viveu as dores e as delícias de ser jovem, negro, periférico e gay (ou outras “variantes” que circulam pelas margens da sociedade) entre os 1970 e os 1990.

Gente que aprendeu a amar o Teatro quando a ruptura com a moral tacanha, autoritária e careta da ditadura tomou os palcos e ganhou formas e conteúdos no fazer teatral. Gente que foi “rato do Bixiga” e suas noitadas literalmente dionisíacas. Gente que deu ouvidos ao seu grito de dor diante de um irmão morto pela LGBTIfobia. E, acima de tudo, gente que, assim como Nina Simone, sabe que “liberdade é não ter medo”.

Seu maior legado, o “Oficina”, por onde passaram gerações de gente genial (não só de atores, mas também de cenógrafos, iluminadores, figurinistas etc. etc.), é mais do que aquele “templo sagrado” encravado no Bixiga pelo qual ele tanto lutou.

O “Oficina” sempre foi e sempre será a “rua”, assim como sua própria estrutura. Assim como, geralmente, seus espetáculos acabavam tomando o espaço público, seu Teatro era uma “via pública” que vai do coração à mente; da razão à emoção; da contemplação da beleza à rebelião; do choro ao riso; do silêncio absoluto ao aplauso ensurdecedor; da Antropofagia modernista ao teatro épico brechtiniano; da aridez dos Sertões aos delírios shakesperianos.

Quem mais poderia ter dado a forma e o conteúdo que foram dados às suas montagens de “O rei da vela” (bem antes de mim) ou “Mistérios Gozozos”, “As Bacantes”, “Ham-let”, “Cacilda!”, “Boca de Ouro” ou “Esperando Godot”, que víamos sem sentir as horas passarem? Só mesmo um ousado, rebelde, “transviado”, criativo, inquieto e, sim, revolucionário, como Zé Celso.

Por tudo isto, lamento profundamente que sua vida tenha chego ao fim de uma forma tão dolorida e inesperada. Mas, no momento, só posso me solidarizar com seu companheiro Marcelo Drummond e sua gigantesca família teatral, agradecendo por ele ter existido, por ter sido generoso com a vida e deixado tantos herdeiros e heranças.

Valeu, Zé Celso! Evoé!