Redação

1 dólar por dose de vacina, ou R$ 5. Essa é a propina que o governo Bolsonaro, através do Ministério da Saúde, cobraria para comprar vacinas. Esse é o valor para cada uma das mais de 514 mil vidas perdidas, em números subnotificados, para o governo. Esse é o valor para a vida de seu colega, parente ou amigo vítima da pandemia. Menos que um pastel de feira.

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A notícia do pedido de propina, revelado pelo jornal Folha de S. Paulo na noite desta terça-feira, 29, caiu como uma bomba, mais uma, em meio às sucessões de escândalos de corrupção em que se afunda o governo Bolsonaro. De acordo com o relato do jornal, o representante da farmacêutica baseada nos EUA, Davati Medical Supply, teria se reunido com representantes do ministério para oferecer vacinas.

O representante da empresa, Luiz Paulo Dominguetti, teria se reunido no dia 25 de fevereiro, com o diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, justamente indicado pelo atual líder do governo, Ricardo Barros (PP). Numa cena típica de um filme de gângster, o representante do governo afirmou: “para trabalhar dentro do ministério, tem que compor com o grupo”. Que composição? Acrescentar 1 dólar de propina por dose de vacina. Para cada uma das 400 milhões de doses ofertadas.

Ao recusar o pedido de propina, Dominguetti teria sido preterido pelo governo. No mesmo dia em que Roberto Dias levantava um copo de chope e conclamaria “vamos aos negócios”, o país contabilizava 250 mil mortos notificados pela pandemia.

Megaesquema de propina e corrupção

Poucas horas após a divulgação da bomba, o governo anunciou a exoneração de Roberto Dias. Mas algumas perguntas permaneceram no ar: as vacinas ofertadas pelo representante da Davati eram da Aztrazeneca, que já mantinha acordo com a Fiocruz na época. Foi aliás, uma das justificativas do governo para boicotar a Coronavac do Butantan. A própria empresa declarou que não trabalharia com intermediários, versão que está sendo propagada por um bolsonarismo cada vez mais atordoado.

Fato é que a própria Folha divulgou emails trocados com a Davati negociando a compra de vacinas. Mais do que isso, na própria CPI do Senado já havia aparecido a denúncia de um esquema de “compra paralela” da Aztrazeneca, durante o depoimento dos irmãos Miranda. Ainda mais, no mesmo dia em que a Folha soltou a denúncia do pedido de propina, a revista Crusoé levantou a denúncia do deputado Luis Miranda de cobrança de propina para deixar rolar a negociata envolvendo a Covaxin.

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Como se isso não bastasse, há uma terceira frente de investigação aberta na CPI envolvendo a compra da vacina chinesa CanSino, intermediada pela farmacêutica Belcher, coincidentemente baseada na cidade de Maringá, base de Ricardo Barros. Negócio no qual estaria envolvido ainda os empresários bolsonaristas Luciano Hang e Carlos Wizard, este que usou seu habeas corpus para permanecer calado no depoimento da CPI nesta quarta.

A estratégia do bolsonarismo vai ser colocar em dúvida a idoneidade da empresa Davati, assim como atacaram o deputado Miranda, da própria base do governo. O fato é que a empresa ofereceu a vacina, e o governo aceitou negociar. Isso é fato e documentado. O depoimento de Dominguetti à CPI nesta sexta deve detalhar o caso.

As evidências convergem para um megaesquema de corrupção e propinoduto instalado no Ministério da Saúde, baseado na compra superfaturada de vacinas. Um esquema que envolvia não só a alta cúpula do ministério e o líder do governo, como empresas intermediadoras aliadas e empresários bolsonaristas.

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Bolsonaro sabia

Após a primeira denúncia envolvendo a Covaxin, Bolsonaro não só levou o caso à polícia, como nomeou a esposa de Ricardo Barros para um alto cargo na Itaipu. Além disso, seu filho “Zero Um”, o senador Flávio Bolsonaro, esteve com o dono da Precisa no BNDES para abrir as portas do banco público à empresa. Não estamos falando de “prevaricação” (omissão frente a um crime), mas de envolvimento direto nesse caso de corrupção que se utiliza de centenas de milhares de mortes para o roubo puro e simples.

Estamos entrando numa fase em que a dinâmica da crise se acelera diariamente. Como se diz, “a cada machadada, uma minhoca”. O governo não só se revela corrupto, como se trata de um saque aos cofres públicos com requinte de crueldade, sob uma pilha de mortos, um desemprego recorde e com a fome avançando.

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O governo Bolsonaro, contudo, não vai cair sozinho, por mais que a crise se precipite. Enquanto houver o centrão, e dinheiro para ser liberado, o impeachment vai continuar na gaveta de Arthur Lira. É preciso massificar as manifestações no próximo dia 3 de julho, pressionar as direções, sobretudo as direções das grandes centrais, a organizarem uma greve geral sanitária, que possa colocar fim a este governo genocida e corrupto, apeando de lá não só Bolsonaro, como Mourão e toda a gangue que enche os bolsos às custas das vidas da classe trabalhadora, da juventude e do povo pobre.