Foto Alan Santos/PR
Redação

Genocida, corrupto e ladrão. Foi isso o que reafirmou o depoimento dos irmãos Miranda na sessão da CPI da pandemia nesta sexta-feira, 25. Após horas de esquivas, indiretas e desconversas, o deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF), finalmente abriu o nome do parlamentar que o próprio Bolsonaro o teria revelado estar atrás da negociata envolvendo a compra superfaturada da vacina Covaxin: Ricardo Barros.

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E quem é Ricardo Barros? Nome forte do centrão, ex-deputado da base do governo Dilma, ministro de Temer e atual líder do governo Bolsonaro na Câmara. Um típico exemplo desse grupo de deputados que se move por onde anda o dinheiro e que carrega nas costas uma verdadeira capivara de crimes e investigações.

Após a denúncia de Miranda, Bolsonaro não só não encaminhou nenhuma denúncia à Polícia Federal, como teria dito, como presenteou o aliado nomeando a mulher de Barros para o conselho de administração de Itaipu, com um salário de R$ 27 mil.

Não restam dúvidas. Bolsonaro impôs uma política genocida responsável pelas mais de 500 mil mortes, e sobre esses cadáveres, e em meio a uma crise sem precedentes de desemprego e fome, ainda resolveu roubar comprando vacina superfaturada. O dinheiro das vacinas que poderia ter salvo centenas de milhares de vidas, estava sendo empenhado para encher os bolsos do centrão e dos empresários aliados.

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Breve retrospecto da roubalheira

O caso é tão repulsivo quanto enrolado. Vamos tentar reproduzir os principais lances desse escândalo que já é um dos maiores casos de corrupção da história.

O caso explode quando é vazado depoimento do servidor Luis Ricardo Miranda (chefe do setor de importação do Ministério da Saúde), o irmão do deputado do DEM, ao Ministério Público Federal (MPF), revelando que o governo estava em pleno processo de compra de um lote de vacinas da indiana Covaxin, que sequer havia sido aprovado pela Anvisa, e com um preço 1000% acima das demais vacinas.

O pagamento se daria através de uma offshore em Cingapura, de 200 milhões de dólares (R$ 1,6 bilhão), e estava sendo mediado por uma empresa nacional: a Precisa. Coincidentemente, empresa na qual o próprio Barros é réu em uma ação de improbidade. Mais ainda, Flávio Bolsonaro teria acompanhado o dono da Precisa numa reunião do BNDES para abrir as portas do banco público à empresa no final do ano passado.

Já estava tudo pronto faltando só a assinatura do servidor, que teria se recusado a firmar o documento diante de tantas irregularidades. Após isso, passa a receber pressão para dar andamento ao “negócio”.

O servidor teria, então, procurado o irmão deputado, que alertara Bolsonaro sobre a tramoia. Na reunião, teria ouvido que isso era coisa de “Ricardo Barros” e que, caso mexesse nisso “daria m…”. Nada acontece, o presidente nomeia a mulher de Barros para o cargo na Itaipu, e a pandemia continua se alastrando, com uma pilha cada vez maior de mortos.

Com a explosão do escândalo nesta semana, e a CPI em andamento, o governo Bolsonaro reage coerente com seu caráter miliciano: com ameaças. Tanto veladas, quanto explícitas, como a do bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS), que avisou que os irmãos Miranda “encontrarão a escuridão eterna”.

O descontrole do governo em todos os sentidos, (até mesmo o sempre contido ministro Marcelo Queiroga abandonou uma entrevista ao ser questionado sobre a Covaxin), e a verdadeira balbúrdia promovida pela base do governo na CPI mostraram que o governo sentiu, e muito.

Bolsonaro é culpado

Ainda há muito a ser investigado, mas o que já está evidente é que o governo Bolsonaro está envolvido no seu mais grave caso de corrupção. Se não pelos valores em si, que não são nada insignificantes, pelo fato de utilizar a pandemia e as mais de 510 mil mortes notificadas para roubar.

Não se trata apenas de “prevaricação”, como vem sendo alardeado pela imprensa, como se Bolsonaro “apenas” não tivesse mandado investigar um caso de corrupção envolvendo seu líder na Câmara. O próprio Bolsonaro está metido até o pescoço na negociata, como mostra a presença de Flávio Bolsonaro junto com o empresário Francisco Maximiano da Precisa no BDNES, como revelado pela revista Veja.

Bolsonaro nunca teve problemas para descartar aliados de primeira hora para se safar de eventuais escândalos e salvar a própria pele e da família. Agora é diferente, já que, ao que tudo indica, ele e sua família estão diretamente envolvidos nessa roubalheira. Daí o descontrole e as explosões de ódio cotidianas.

Ricardo Barros, Bolsonaro e Mourão

Crise se aprofunda e ameaça governo

O escândalo da Covaxin é a expressão mais contundente do aumento da crise no governo Bolsonaro. Crise esta provocada pela pandemia, a enorme crise social que vem corroendo sua base e ampliando seu desgaste, ao qual se juntaram as manifestações do 29M e do 19J. Situação que, ao mesmo tempo em que enfraquece sua base, provoca fissuras cada vez maiores em cima.

O pivô da atual crise, o deputado Luis Miranda, é aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira. Ainda segundo a Veja, Lira há meses tentava limar Ricardo Barros, numa disputa intestina nas fileiras do centrão. Esta poderia ser a tal “motivação” para a denúncia do deputado do DEM. Luis Miranda, Lira, e o próprio Ricardo Barros são notórios corruptos, como o é o próprio governo Bolsonaro. Mas que, em suas disputas por nacos cada vez maiores de dinheiro, espaço e poder, não pensam duas vezes em abrir crises que possam afetar o próprio governo do qual são base. Algo parecido com o que fez Roberto Jefferson na crise do mensalão.

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Ampliar as mobilizações rumo à Greve Geral

As denúncias reveladas pela CPI são graves, mostram que Bolsonaro, além de genocida é corrupto e colocam a necessidade de se ampliar as mobilizações pelo Fora Bolsonaro e Mourão, já. Há articulações para se defenestrar Bolsonaro a favor de Mourão, mantendo a atual política econômica de Guedes e a unidade em torno dos interesses da burguesia e para a continuidade da entrega do país. E, inclusive, mantendo os militares no poder, costurando alguma possibilidade de continuidade para 2022.

É preciso ampliar e massificar as manifestações para se derrubar este governo agora, com Mourão, Guedes e os militares junto. E não apostar em seu desgaste até 2022. Para isso, é necessária a mais ampla unidade, com todas as organizações, entidades e partidos que estejam a favor de se varrer esse governo do poder. E, como apontado na última reunião da Coordenação da campanha Fora Bolsonaro, avançar na preparação de uma Greve Geral que possa, junto aos atos de rua, parar a produção, golpear a burguesia e pôr fim a este governo corrupto e genocida.

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