Leon Hirszman nasceu no Rio de Janeiro em 1937 e foi um dos grandes nomes do Cinema Novo Brasileiro. Começou sua militância política ainda na juventude, quando era estudante de engenharia, participando do movimento estudantil. Nessa época é que se aproxima do Centro Popular de Cultura da UNE, onde conheceu importantes nomes da dramaturgia brasileira como Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha.
Sua primeira importante produção foi Pedreira de São Diogo, um dos cinco capítulos de Cinco vezes favela, em 1962. Seu nome tornou-se conhecido em 1972, quando gravou o longa São Bernardo, baseado na obra homônima de Graciliano Ramos. O filme foi aclamado pela crítica e pelo público. Na esteira de filmes ficcionais, rodou em 1981 Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri que também faz o papel do protagonista.
Tema sociais, políticos e relacionados ao mundo do trabalho sempre fizeram parte do universo de Leon Hirszman. Suas obras têm sempre um sujeito coletivo como protagonista: a classe trabalhadora brasileira e suas relações de trabalho.
Paralelamente às obras ficcionais, Hirszman acompanhava e registrava a realidade brasileira em meio ao período ditatorial. Maioria absoluta, por exemplo, dá voz aos analfabetos do campo brasileiro em meio à conturbada conjuntura e escancara a sordidez de setores médios. Extremamente atual. Hirszman também é um vanguardista ao discutir o problema do meio-ambiente e do capitalismo em 1972 com o curta Ecologia. Seus trabalhos também abordam temas culturais como a história da música e cantos de trabalho.
Leon Hirszman morreu em 1987 por complicações de saúde após adquirir AIDS em uma transfusão de sangue. Suas filmagens foram tantas que continuaram gerando alguns filmes póstumos. O legado de sua obra, tanto em termos políticos como cinematográficos, continua atual.
Separamos aqui onze produções de Leon Hirszman para você assistir online. Confira:
Maioria absoluta (1965) – 19 min
O documentário aborta a questão do voto aos analfabetos na década de 1960. O direito foi conquistado apenas em 1989. Contrapondo setores médios urbanos no sudeste com os trabalhadores rurais do nordeste, o curta permaneceu censurado até 1980.
ABC da Greve (1990) – 86 min
O documentário mostra episódios do ressurgimento do movimento operário no ABC Paulista no ano de 1979. O momento era de abertura política do regime e a região foi palco de inúmeras greves.
Megalópolis (1973) – 11 min
Traçando um paralelo com a cidade grega, Leon Hirszman discute a situação da região sudeste e sua urbanização desenfreada e sem planejamento.
Partido Alto (1975) – 23 min
Com narração de Paulinho da Viola, o filme conta um pouco da história desse sub-gênero do samba. Participam do documentário sambistas como Candeia, Manaceia, Agemiro da Portela e outros.
Nelson Cavaquinho (1969) – 15 min
Gravado em Bangu, na própria casa de Nelson Cavaquinho, lendário sambista da Mangueira. Além de um belíssimo relato sobre a vida e a obra do compositor, o documentário aborda em tom crítico a marginalização e o descaso do Brasil com seus artistas.
Ecologia (1972) – 11 min
O filme discute, ainda no começo da década de 1970, os impactos ambientais do desenvolvimento industrial da sociedade.
Eles não usam Black-tie (1981) – 123 min
Uma das obras mais conhecidas de Leon Hirszman. O filme retrata a situação política do país através dos conflitos em uma família de operários que passam por uma greve.
São Bernardo (1972) – 115 min
Baseado na obra de Graciliano Ramos e com o recorte psicológico, São Bernardo conta a história de um menino pobre que se torna um grande fazendeiro, levando-o a uma série de desconfianças, obsessões e conflitos psicológicos.
Cantos do trabalho
Filmados em meados da década de 1970 em Alagoas e na Bahia. A trilogia mostra o cotidiano de trabalhadores rurais em diferente situações e como elas são atravessadas pelo canto. Além de determinar o ritmo do trabalho, as canções servem de lastro de sociabilidade em tarefas coletivas.