Foto Siticom/Campinas
PSTU-Campinas

Após uma greve histórica que se estendeu por 45 dias, operários da MRV, uma das maiores construtoras do país e a maior construtora de imóveis da América Latina, encerraram a mobilização com uma importante vitória, com amplas repercussões para muito além dos canteiros de obra da cidade.

O movimento teve início diante do ínfimo valor que a construtora queria pagar de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) para 2020, com o nome de “bônus” e variando entre R$ 30 e R$ 390. Só para se ter uma ideia, a MRV teve um lucro neste primeiro semestre de R$ 137 milhões, mesmo na pandemia. A greve arrancou, para além desse “bônus”, uma PLR de R$ 700, além de R$ 830 de PLR referente a 2021. Os trabalhadores terão ainda pagos 70% dos dias parados, com o restante ressarcido após compensação, e estabilidade por 90 dias.

A vitória da mobilização, porém, foi muito além que as conquistas econômicas. A greve se expandiu para fora dos canteiros de obra da construtora, tornando-se exemplo para os operários de outras empresas na cidade, e até do país. Uma empresa da vizinha Santa Bárbara D’Oeste, por exemplo, foi obrigada a conceder férias coletivas a fim de evitar uma paralisação em seu próprio canteiro. Além disso, a PLR na MRV de Campinas se tornou parâmetro para as obras da construtora em todo o país.

Independente do valor que conquistamos, foi uma vitória muito importante porque conseguimos o carinho e o reconhecimento de todos“, afirma uma trabalhadora da empresa. As mulheres, inclusive, estiveram desde o início na linha de frente da mobilização.

Foi também um exemplo de luta e combatividade. Quando a empresa desafiou o movimento colocando a polícia para intimidar e forçar o retorno ao trabalho, os operários realizaram um piquete na obra que paralisou as empresas terceirizadas. Os grevistas também realizaram dois grandes atos na cidade e participaram ativamente do Dia Nacional de Lutas pelo Fora Bolsonaro em 18 de agosto.

O movimento angariou o apoio de vários sindicatos da construção civil pelo país, de professores, petroleiros, metroviários, do movimento estudantil, trabalhadores da Unicamp e centrais como a CSP-Conlutas e CUT, além de partidos como o PSTU, PSOL, PT, MRT, construindo e fortalecendo laços de solidariedade entre a classe.

“É uma vitória da consciência do trabalhador, eu Levi, com 50 anos, saí revigorado como uma pessoa de 20 anos, disposto a lutar ainda mais”, afirma um cipeiro. Os ativistas da Cipa também protagonizaram um importante papel nessa greve.

MRV contra a parede e avanço na consciência

A greve desmascarou o empreiteiro Rubens Menin, que possui um verdadeiro império de R$ 1,4 bilhão e não garante condições mínimas de trabalho nos canteiros de obra. Ao mesmo tempo em que não compra sequer papel higiênico aos operários, financia a contratação do jogador Diego Costa no Atlético Mineiro. Denúncia que repercutiu na imprensa e causou ainda mais revolta entre os trabalhadores.

Os 45 dias dessa greve histórica mostraram, sobretudo, que os trabalhadores não aceitarão mais as injustiças da MRV dentro dos canteiros. E, principalmente, avançaram na consciência de que, unidos, os de baixo podem derrotar os de cima e conquistar vitórias, entendendo que o inimigo de toda a classe são as grandes empreiteiras, empresários e banqueiros que enriquecem com a nossa miséria.