Teresa de Benguela, rainha do Quilombo Quariterê
Shirley Raposo

Neste mês, em 25 de julho, é comemorado o dia das mulheres negras, latino-americanas e caribenhas. Aqui no Brasil, nesta data, também é comemorado o dia de Tereza de Benguela que, no século 18, liderou o quilombo do Quariterê, na atual região de Mato Grosso.

Celebrar esse dia é celebrar as nossas lutas pela vida e pela dignidade. Significa, também, lembrar dos crimes da burguesia e de seu Estado, machista, racista e covarde, e construir uma alternativa socialista a esse sistema capitalista.

O peso da pandemia e da fome

A primeira vítima da pandemia no Brasil foi uma mulher negra. Nós, mulheres negras, e nossos parentes somos os que mais morrem de Covid-19 e enfrentamos duas guerras: uma contra o vírus e outra contra esse sistema que nos oferece fome, violência e desemprego.

Hoje, 125,6 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar no Brasil. São pessoas que não têm certeza se terão acesso à próxima alimentação. As famílias mais atingidas são aquelas chefiadas por mulheres negras. A pandemia e a crise econômica intensificaram o desemprego e fizeram cair a renda da classe trabalhadora; enquanto isso, o preço dos alimentos disparou, fazendo com que muitos tenham dificuldades para comprar comida (ver páginas 4 e 5).

Mas essa situação não é assim para todo mundo. Enquanto uma parte torce para ter o que comer no fim do dia, os ricos aumentam suas fortunas. Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, defendem reformas que pioram ainda mais nosso acesso ao emprego, ao auxílio e a outras formas de renda. Eles beneficiam os bilionários e jogam essa crise econômica nas nossas costas.

Gigantes

Nossos inimigos parecem gigantes quando olhamos para eles. Mas são pequenos perto da garra e da luta que travamos todos os dias. Lutamos para estar vivas, com saúde, com liberdade e ao lado daqueles que amamos. Um exemplo dessa superação está na história da mineira Madalena Gordiano.

Ela passou 38 dos seus 46 anos trabalhando como empregada doméstica, sem direito à liberdade e salário. Foi resgatada em novembro do ano passado, recebeu uma indenização e agora tenta se conciliar com a sua liberdade e os anos de vida perdidos. Vemos na mídia as novas conquistas de Madalena.

Além das indenizações financeiras, ela pode aproveitar as pequenas coisas da vida. Comprou uma boneca, foi à praia comemorar seu aniversário e pintou o cabelo. Também quer voltar a estudar, fazer enfermagem e poder ajudar as pessoas. Tornou-se um símbolo da luta contra o trabalho escravo no Brasil e quer ajudar outras Madalenas que existem por aí.

Violência

Assim também é a história de muitas outras mulheres negras. Marcadas por violências de todo tipo, mas também com coragem para enfrentar coletivamente esses problemas. Mães que perdem seus filhos para a violência urbana e policial e se organizam em coletivos contra o genocídio. Esposas que têm seus maridos presos e lutam pelo desencarceramento. Mulheres vítimas de abuso sexual e que se organizam para combater a violência machista.

Lutamos contra o feminicídio e violência contra a mulher. Mas também lutamos contra a violência das polícias que, além de não nos protegerem, também estão entre os que mais nos agridem. Agressões nas ruas, em casa e até dentro da delegacia. Contra nós e contra as nossas famílias.

Inspiração

Nós, mulheres negras, estamos à frente das ações de solidariedade e ajuda financeira, das lutas pela saúde e pela educação e de várias outras mobilizações comunitárias. Somos parte das lutas revolucionárias em toda a América Latina, no Chile, na Colômbia, no Haiti e em Cuba. Enfrentamos os poderosos porque é a única condição para sobrevivermos e tentar buscar a felicidade.

Seguiremos lutando. Inspiradas nas lutas de nossas irmãs de outros países. Inspiradas na coragem de outras mulheres negras de todo o Brasil. Inspiradas nas lutas das mulheres indígenas e quilombolas. Inspiradas em todas as mulheres negras que lutaram na história. Venceremos!