Quilombolas reunidos em terra retomada em julho deste ano | Foto: Divulgação
PSTU-BA

Fábio Roberto, de Ilhéus (BA)

Desde o último mês de julho, quilombolas estão em processo de retomada de parte do seu território ancestral, em Ilhéus, no Sul da Bahia. São famílias remanescentes do Quilombo Morro do Miriqui, certificado pela Fundação Cultural Palmares, e alegam que a área, de 1.302 hectares, foi invadida há anos pelo Estado da Bahia, dando posse a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), expulsando muitas das famílias afrodescendentes habitantes das terras.

As famílias quilombolas têm trabalhado em mutirão na área, que deve ser dividida entre todos da comunidade para moradia e plantio.

As lideranças explicam que antes a comunidade vivia num espaço muito menor, que não comportava as famílias que lá moram. Era um espaço cedido por uma das famílias quilombolas ancestrais que tiveram a sorte de não serem expulsas pelo coronelismo ilheense do século XIX.

“Muitas famílias descendentes do Quilombo Morro do Miriqui foram expulsas e entregues à própria sorte. Hoje esse quadro mudou. Conhecimento é poder, nos empoderamos de nossa história e podemos agora retomar o nosso território por completo e reivindicar o que nos pertence por direito constitucional e herança ancestral”, diz Vinicius Vieira, liderança Jovem do Quilombo Morro do Miriqui, Conselheiro Titular Estadual do CDCN-Bahia (Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado da Bahia).

“No quilombo temos porto seguro, a comunidade não paga aluguel e consegue tirar a subsistência da roça, onde se planta feijão de corda, mandioca, milho, se produz farinha e dendê, se têm galinhas, toda produção dentro da comunidade que permite assim a geração de renda, trabalho e dignidade”, completa Vinicius.

A reivindicação da Comunidade é que o Governo do Estado faça a demarcação, delimitação e titulação dos hectares que estão sob posse da UESC, localizados na Rodovia Ilhéus/Itabuna, KM 07.

Vinicius Vieira, pontua que a retomada é feita apenas por quilombolas da comunidade e suas famílias. “Não estamos invadindo nada, não estamos loteando, estamos sim retomando o que é nosso por direito ancestralmente”, alega.

Cabe agora ao Governador do Estado da Bahia, Rui Costa (PT) e ao Secretário Estadual de Desenvolvimento Rural (SDR), Jeandro Ribeiro, reconhecer essas famílias quilombolas para garantir a reprodução cultural, social, econômica e religiosa da comunidade.

“Não podemos esperar a titulação do governo federal, o INCRA sempre alega que não tem orçamento. A parte que cabe ao Governo do Estado, de titular e demarcar áreas sob sua tutela, é o que esperamos”, esclarece o jovem líder quilombola sobre as expectativas dessas famílias.