Redação
As últimas notícias sobre a redução do desemprego e da inflação poderiam ser um alento para os trabalhadores brasileiros. Poderiam, se refletissem, de fato, a realidade. E o que se vê, no dia-a-dia da maioria da população, são os preços que continuam lá em cima, a falta de empregos sendo uma das maiores preocupações das famílias, e o carrinho dos supermercados cada vez mais vazios.
A realidade é que o país continua imerso numa crise sem precedentes e o horizonte próximo mostra que nem mesmo essa desaceleração nos desempregos e na inflação pode se manter. Segundo relatório divulgado pelo FMI, o mundo caminha para uma recessão, em 2023, acompanhada por um aumento global da inflação. Isso significa aumento da exploração e pilhagem dos imperialistas sobre os países semicoloniais, como o Brasil.
Maquiando a crise
Por aqui, Bolsonaro, ao mesmo tempo em que, com uma mão, entrega medidas eleitoreiras, com a outra, faz cortes bilionários em áreas como Saúde e Educação. Nesse jogo, quem perde é a classe trabalhadora que, além da precarização e da queda na renda, vê os serviços públicos desmontados. Já as grandes empresas e os banqueiros seguem distribuindo bilhões em dividendos (lucros repartidos entre os acionistas), como a Petrobras que, só no 1º semestre, repartiu R$ 136 bi, a maior parte para mega acionistas estrangeiros.
Bolsonaro vai manter e aprofundar os atuais ataques. Já a chapa Lula-Alckmin, por sua vez, tampouco aponta para algo realmente diferente do que já vem sendo feito. Pelo contrário, a Frente que reúne os banqueiros Henrique Meirelles, Armínio Fraga, dentre outros, também indicou que vai manter a política neoliberal no atacado, fazendo pequenas alterações cosméticas, sem realizar as mudanças estruturais que a classe trabalhadora e o povo pobre precisam.
Para acabar com a fome, a pobreza e mudar o Brasil é preciso expropriar os bilionários
Seguimos defendendo o projeto que apresentamos no 1º turno. Para ter emprego, salário, terra, moradia, direitos e soberania é necessário enfrentar os super-ricos, os menos de 1% que controlam mais de 60% da economia.
Como também, é necessário reduzir a jornada de trabalho, sem reduzir os salários; aumentar os salários e duplicar o salário mínimo, rumo ao mínimo do Dieese; revogar as reformas Trabalhista e Previdenciária, garantindo emprego, com carteira assinada e direitos para todos. Além disso, é preciso garantir Saúde e Educação públicas, gratuitas e de qualidade; investir em ciência, defender o meio ambiente, a reforma agrária, o fim do Marco Temporal, a demarcação das terras indígenas e a titulação das terras quilombolas.
E, para mudar de vez esse país, temos que expropriar as 100 maiores empresas, que controlam a maior parte da economia e servem de mecanismo de exploração e enriquecimento de meia dúzia de bilionários. É preciso parar de pagar a dívida aos banqueiros e acabar com o teto de gastos e a Lei de Responsabilidade Fiscal, substituindo-a por uma Lei de Responsabilidade Social. Como também, taxar os bilionários, suas fortunas, patrimônio e dividendos; instituindo um imposto fortemente progressivo, que isente quem ganha até 10 salários mínimos.
Da mesma forma, precisamos reestatizar as empresas privatizadas, como a Vale, e garantir uma Petrobras 100% estatal, sob controle dos trabalhadores, para que funcionem segundo os interesses da classe e da população, e não de alguns poucos megainvestidores.
Só um governo socialista dos trabalhadores, que governe através de conselhos populares, apoiado na mobilização do povo, pode enfrentar o grande capital, defender a soberania do país e garantir condições de vida dignas para a maioria da população.
Construir uma alternativa socialista e revolucionária
O Brasil vive uma longa decadência. Se grande parte da classe já fez a experiência com o governo Bolsonaro, também permanece viva a experiência com os anos de governos do PT. O então governo Lula surfou uma onda de crescimento, baseado na alta das commodities, mas não promoveu nenhuma mudança estrutural. Pelo contrário. Ao mesmo tempo em que os banqueiros “ganharam como nunca”, a população só teve direito a poucas e efêmeras concessões.
Além da exploração e da pilhagem, o Brasil seguiu o seu curso de desindustrialização, reprimarização da economia e retrocesso. Processo esse que é uma das razões da crise que desembocou no bolsonarismo, em função da frustração das promessas vãs feitas pelos governos do PT (e de toda Nova República).
Bolsonaro, em meio à crise, acelerou esse processo de pilhagem do país, de superexploração da classe trabalhadora e recolonização, encarnando junto um projeto autoritário, reacionário e conservador, particularmente violento em relação a mulheres, negros(as), LGBTIs, indígenas e demais setores oprimidos.
Agora, o projeto expresso pela Frente, em torno a Lula-Alckmin, prevê uma reedição dos governos burgueses de conciliação de classes e de administração do capitalismo em crise. Mas com a diferença, nada menor, de que, hoje, estamos numa crise muito maior que há 20 anos, com uma margem infinitamente menor para qualquer concessão, e uma extrema-direita, que se alimenta da crise e da decepção com governos que se dizem de esquerda, mas defende o “status quo”, a ordem e a ricocracia existentes. Enfim, governam o capitalismo contra os trabalhadores e o povo.
É necessário construir a independência da classe trabalhadora da burguesia, através do avanço da mobilização, da consciência e da sua organização. E, neste mesmo processo, da construção de uma alternativa revolucionária e socialista.
Voto crítico em Lula para derrotar Bolsonaro
Bolsonaro e Lula-Alckmin não representarem uma diferença de fundo em relação à política econômica. Ambos respondem e governam dentro das linhas ditadas por setores dos banqueiros e do imperialismo. A diferença, hoje, é que Bolsonaro expressa um projeto autoritário, que ameaça as poucas liberdades democráticas que conquistamos.
Para os trabalhadores, não é indiferente se temos ou não liberdade para nos organizarmos e lutar, principalmente diante dos ataques que se anunciam. E, ganhando as eleições, Bolsonaro estaria mais perto da concretização de seu projeto de uma mudança reacionária no regime.
Por isso, neste 2º turno, o PSTU não podendo ter candidatura, chama o voto crítico em Lula, para derrotar Bolsonaro. Mas alertamos que, derrotando Bolsonaro nas eleições, não devemos depositar confiança no governo Lula e, sim, nos prepararmos para lutar, defender nossas reivindicações e avançar num projeto de classe e socialista.
Inclusive porque o bolsonarismo só será definitivamente derrotado com mobilização, autodefesa da nossa classe e mudando as condições sociais que permitiram o fortalecimento da ultradireita.