Luiz Carlos Prates (Mancha), de São José dos Campos (SP)
Nesta quinta-feira (7), acontecerá a Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora), uma iniciativa da cúpula dirigente das maiores centrais sindicais, especialmente CUT e Força Sindical.
Apesar de ser denominada uma conferência nacional da classe trabalhadora, o que seria de grande importância em meio à atual conjuntura no país, marcada por uma grave crise social e econômica e uma onda de mobilizações de diversas categorias, o evento, ao contrário, passa bem longe disso.
Nesta segunda-feira (4), a CSP-Conlutas anunciou que não irá participar desta Conferência. Em nota, a ventral afirmou que sempre construiu pautas comuns para as lutas e manifestações, mesmo que não contivessem todas as suas propostas. No entanto, afirmou que não pode concordar com o manifesto que sairá da Conclat, que “aponta uma saída para o país que se limita a defender o desenvolvimento econômico produtivo com distribuição de renda e deixar o movimento sindical a reboque do calendário eleitoral”.
A Conclat será um encontro da cúpula sindical, de duas horas, limitado na representação e que não apresentará nenhum plano de lutas, mas apenas uma plataforma de governo aos candidatos/as, visando colocar todo o movimento sindical a reboque do calendário eleitoral.
Uma demonstração desses objetivos foi feita pela CUT e Força Sindical nesta segunda-feira (4), após uma crise ter ocorrido devido à presença de Lula na reunião da CUT, para receber uma plataforma de propostas desta central. Antecipando a Conclat, a iniciativa foi vista como uma “puxada de tapete” pelas demais centrais. Ou seja, sem nenhum disfarce, ficou claro que o objetivo da conferência é servir de apoio à Frente Ampla e à candidatura Lula/Alckmin.
Há 41 anos, a 1ª Conclat, realizada em Praia Grande (SP), foi um feito histórico do ascenso operário e da luta de classes no Brasil, tendo influência decisiva no processo de reorganização e no surgimento do “Novo Sindicalismo Brasileiro”. Hoje, ao contrário, a Conclat 2022 é totalmente submissa à democracia burguesa e a um projeto de “unidade nacional” com a burguesia.
Por isso, a plataforma da Conferência é um texto genérico, que se limita em “retomar o crescimento econômico produtivo, com desenvolvimento e distribuição de renda, retomando o papel do estado como indutor deste crescimento”. A partir daí cita uma série de reivindicações, que comporia a “plataforma dos trabalhadores”.
Acontece que em nenhum momento, o texto aponta como superar esta situação e o conjunto de propostas se encaixa numa lógica de manutenção do atual sistema.
Neste estágio da crise imperialista, este sistema é incapaz de manter duradouramente conquistas mínimas aos trabalhadores, quanto mais “desenvolvimento e investimentos”, a não ser mais miséria para os trabalhadores, mais arrocho salarial e mais precarização do trabalho.
Por isso, os sindicatos e centrais sindicais ficam permanentemente em uma encruzilhada. A manutenção nos marcos deste regime e a busca de uma suposta “humanização do capitalismo”, com reformas limitadas, acabam por semear ilusão entre os trabalhadores e colaboram para a manutenção do sistema, com parceria com empresários, políticos patronais e governos.
Não existe neutralidade. Ou os sindicatos se colocam no caminho do enfrentamento ao capitalismo, se somando aos movimentos sociais, aos setores oprimidos, à juventude e partidos numa perspectiva de ruptura com o sistema, ou se conforma com os limites deste sistema e transformam-se em cúmplices da exploração, acabando por bloquear as lutas dos trabalhadores.
Por tudo isso, está muito correta a posição da CSP-Conlutas de não assinar o manifesto final da Conclat e, sem direito sequer de expor suas diferenças, também não ir ao evento.
A central sempre defendeu a unidade de ação dos trabalhadores para enfrentar o governo e os patrões, e, como bem destaca sua nota, agora é o momento de unificar todas as lutas para fortalecer os trabalhadores e avançar para criar as condições para uma greve geral e botar para fora Bolsonaro e Mourão, já!
Somente com luta é possível enfrentar os ataques que os governos e o Congresso Nacional seguem impondo e garantir medidas urgentes em defesa da classe trabalhadora, especialmente os mais pobres e setores oprimidos e explorados, como a redução dos preços dos alimentos, gás de cozinha e combustíveis; a revogação integral das reformas trabalhista e previdenciária; a geração de empregos; o fim dos despejos e ataques aos direitos; entre outras reivindicações. Acima de tudo, romper com a lógica da exploração capitalista e avançar a luta por uma sociedade socialista.
Leia abaixo a nota da CSP-Conlutas
Porque a CSP-Conlutas não irá à Conclat
A situação da classe trabalhadora brasileira está cada vez mais insuportável sob o governo Bolsonaro. O valor da cesta básica aumentou 50% em três anos muito acima dos reajustes nos salários. Preços de vários outros itens dispararam, como do gás de cozinha, tarifas e outros. É essa situação insustentável que está por trás de uma onda de lutas e greves em curso atualmente por todo o país.
Garis no Rio de Janeiro, trabalhadores rodoviários, funcionalismo municipal, estadual e federal de várias categorias como professores, servidores do INSS e outros, trabalhadores de aplicativos, da mineração, metalúrgicos, metroviários, realizam greves, protestos e paralisações em todo o país. Em luta, os movimentos de luta por moradia conquistaram a prorrogação da liminar que proíbe despejos, e povos indígenas, quilombolas e camponeses resistem aos ataques do governo Bolsonaro.
Para a CSP-Conlutas, que sempre defendeu a unidade de ação dos trabalhadores para enfrentar o governo e os patrões, agora é o momento de unificar todas estas lutas para fortalecer o movimento e avançar para criar as condições para uma greve geral.
Nesse sentido, a realização de um congresso de trabalhadores de base para levar adiante esta tarefa seria muito importante. No entanto, a Conclat 2022 (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora), convocada pelas centrais sindicais, e que acontece na próxima quinta-feira (7), passa bem longe disso.
Será um encontro da cúpula sindical, de duas horas, limitado na representação e que não apresentará nenhum plano de lutas, apenas uma plataforma de governo aos candidatos(as), visando colocar todo o movimento sindical a reboque do calendário eleitoral.
A CSP-Conlutas sempre construiu pautas comuns para as lutas e manifestações, mesmo que não contivessem todas as nossas propostas. No entanto, não podemos concordar com o manifesto que sairá da Conclat, que aponta uma saída para o país que se limita a defender “o desenvolvimento econômico produtivo com distribuição de renda”.
Uma plataforma que não parte da crítica ao capitalismo, que diz que a origem dos problemas do país está na política de Temer e Bolsonaro, ignorando décadas de exploração promovidas também por governos anteriores. Que não coloca claramente que é preciso revogar 100% da Reforma Trabalhista, que desde que foi aprovada vem devastando as condições de trabalho no país, bem como a Reforma da Previdência, que atacou a aposentadoria dos trabalhadores. Um programa que se mantém no marco da exploração capitalista e a máxima exigência seria uma “humanização” deste sistema, com trabalho decente.
Nós entendemos que o movimento sindical tem de apontar uma saída para a crise que não passe pela conciliação de classes, com alianças com a burguesia, e isenção de impostos às grandes empresas. É necessário apontar uma ruptura com este sistema capitalista de exploração; e uma ação independente dos trabalhadores, ao contrário da formação de Conselhos Tripartites como propõem as demais centrais.
Por não dar uma resposta de unificação e fortalecimento das lutas diretas e atrelarem tudo ao calendário eleitoral, e apresentar um programa que não vai além da manutenção do sistema capitalista, além de não nos permitirem expressar nossas diferenças, nós não iremos à Conclat.
Este encontro não trará avanço para a classe trabalhadora e visa apenas ser uma base de apoio à Frente Ampla nas eleições.
Conclamamos aos trabalhadores/as, a juventude, os movimentos populares a seguirem adiante o movimento para colocar para fora Bolsonaro e Mourão, realizando um forte dia nacional de lutas no próximo sábado, dia 9 de abril, e a construir uma alternativa de independência de classe e uma saída socialista para o país.
Central Sindical e Popular CSP-Conlutas
4 de abril de 2022