Foto PSTU-Maranhão
Hertz Dias

Membro da Secretaria de Negros do PSTU e vocalista do grupo de rap Gíria Vermelha

Nós, do PSTU-Maranhão, temos acompanhado toda a crise instalada no interior das organizações com as quais temos construído os atos unitários como, por exemplo, pelo Fora Bolsonaro e de combate às opressões.

Em que pesem nossas diferenças, às vezes muito profundas, queremos externar aqui que temos um apreço muito grande por cada um e cada uma de vocês. Em razão disso, não achamos que tal crise deve ser tratada com desdém, senso comum ou com justificativas eleitoreiras. Essa forma de tratar um tema dessa importância serve apenas aos dirigentes burocráticos que pavimentaram, de maneira consciente, o caminho para a degeneração dessas organizações.

Vocês que dedicaram parte de suas vidas, de suas energias e até mesmo dos seus salários, para construir essas organizações merecem respeito e uma discussão à altura dos sacrifícios que fizeram.

Quem adere a um partido adere a um programa, seja ele um programa explicitamente burguês, reformista ou revolucionário. Um partido não é uma confraria de amigos. Um programa é um acordo comum sobre a análise global que se tem de uma realidade e das tarefas colocadas para que essa seja transformada, mantida ou aprofundada. Por isso, quando um militante abandona a estratégia revolucionária é natural que migre para uma organização reformista. Ou das organizações reformistas para partidos explicitamente burgueses. A debandada de muitos parlamentares e dirigentes do PCdoB para o PSB, no Maranhão, é expressão disso.

No entanto, estamos diante de um processo ainda mais grave, que é a migração de políticos burgueses e reacionários para esses partidos. A filiação do sarneísta histórico, Gastão Vieira, ao PT, ou a Federação Partidária que vai colocar o PSOL e o Rede Sustentabilidade, ou o PT, PCdoB e PV juntos em coligações nacionais pelo período de 4 anos são expressões disso. A Rede e o PV não deixaram de ser partidos burgueses, mas sim as direções do PT, do PCdoB e do PSOL que caminham a passos largos para se tornarem burgueses. O PSOL que, desde sua fundação em 2004, sempre esteve na oposição pela esquerda ao governo petista, agora pode compor um provável governo Lula bem mais à direita e de mãos dadas com Alckmin. Uma tragédia!

Mas existem aqueles que podem alegar: a federação é tática, vamos manter nosso programa apesar dela. O problema é: programa para quê? Para ficar guardado na gaveta? Na verdade, toda organização que se propõe a governar, ao mesmo tempo, para os trabalhadores e para a burguesia, certamente governará para a burguesia, pois os interesses dessas duas classes são opostos.

A alegação de que essa ampla aliança seria para derrotar o governo Bolsonaro também está sendo desmascarada. As greves que estão em curso por todo o país mostram que a classe trabalhadora quer sim derrotar o genocida, os governadores e os prefeitos nas ruas, e não apenas nas eleições. Quem fez essas lutas recuarem foram as direções desses partidos e centrais, que tentaram jogar tudo para as eleições de outubro, mas os trabalhadores tem pressa e tem pressa porque tem fome e contas a pagar.

Até o argumento de que essa aliança amplíssima seria para derrotar o “fascismo” é delirante, visto que fascismo se derrota com mobilizações e organizando a autodefesa da classe operária e do povo pobre e não com alianças eleitorais com os inimigos dos trabalhadores.

No Maranhão esse tipo de discurso fica ainda mais sem pé e sem cabeça. Vejam: o candidato de Flávio Dino (PSB), que o PT e o PCdoB apoiaram, é Carlos Brandão, que até pouco tempo atrás estava no Partido Republicano, o mesmo que abrigava os filhos de Bolsonaro. Alguém tem dúvidas de que o projeto estratégico de Brandão para o Brasil não seja o mesmo do bolsonarismo? Esse político migrou para o PSB em razão de uma tática eleitoreira e oportunista, mas também porque o PSB, estrategicamente, é um partido burguês. Não fosse isso, Alckmin não teria entrado em suas fileiras.

Tragicamente, o Maranhão pode ter como governador um bolsonarista não assumido, eleito pelas mãos do PT e PCdoB. Isso é antibolsonarismo ou significa fortalecer o bolsonarismo no Maranhão?

O mesmo argumento vale para o PSOL. O Rede Sustentabilidade já definiu seu candidato ao governo do Maranhão: Weverton Rocha, um político oportunista e populista filiado ao PDT, que é um partido que não cansa de atacar os trabalhadores, no Brasil e no Maranhão. Quem é servidor público jamais esquecerá da “Lei do Cão” de Jackson Lago, que só não foi aprovada em razão de uma greve histórica em cuja vanguarda estavam os professores do Estado, greve iniciada por fora da direção do SINPROESEMMA, sindicato dirigido majoritariamente pelo PCdoB. Não se pode eleger como aliado um partido que ataca os trabalhadores.

O oportunismo de Weverton é tão escancarado que o mesmo excluiu de suas páginas oficiais um vídeo em que ele emite elogios pomposos ao pastor Gilmar Santos, principal articulador dos desvios de verbas do Ministério da Educação para pastores aliados de Bolsonaro reformarem suas igrejas.

Nós perguntamos: é com esses partidos e políticos que nós iremos mudar o Maranhão e o Brasil? Foi para isso que os bravos militantes dessas organizações dedicaram anos a fio de suas vidas?

O resultado desta política é desmoralizar esses lutadores, ensinar-lhes a mentir, ou mandar-lhes para suas casas. Nós, do PSTU, temos essa preocupação com vocês, camaradas, e queremos convidá-los a vir conhecer e construir o Polo Socialista e Revolucionário.

Ergam a cabeça e arregacem as mangas: existe uma alternativa

O Polo Socialista e Revolucionário decorre de uma iniciativa de diversas organizações e movimentos no sentido de aglutinar o que tem de melhor da vanguarda em luta no país e que quer preservar com unhas e dentes a independência de classe em relação à burguesia nacional e internacional. O Polo não é um novo partido nem pretende centralizar programaticamente as organizações, movimentos e militantes independentes que a ele estão aderindo. O manifesto, que foi amplamente divulgado, é o acordo comum entre seus componentes, mas cada organização mantém seus programas desde que não contrariem os acordos básicos do Manifesto, a exemplo do princípio da independência de classe. A adesão ao polo no Maranhão tem surpreendido todos nós.

O polo foi criado para ajudar a impulsionar as mobilizações pelo Fora Bolsonaro e também se opor frontalmente à Frente Ampla encabeçada pela direção do PT, que agora tenta empurrar Alckmin goela abaixo dos trabalhadores, um burguês conservador com as mãos manchadas com o sangue da nossa classe.

Mas o polo também está lançando pré-candidaturas por todo o país. No Maranhão, apresentaremos muito em breve diversas candidaturas de lutadores e lutadoras que militam no PSTU ou em outras organizações e movimentos e que se negam a aderir a qualquer projeto de conciliação de classes. Lutadores que entendem que as eleições podem servir como ponto de apoio as lutas dos trabalhadores, jamais substituí-las.

Há outras dezenas de camaradas que não estão dispostos a participar do processo eleitoral, mas que se dispuseram a construir essa ferramenta, até porque, como já dissemos, o polo não se restringe à participação nas eleições.

Deste modo, queremos aqui fazer um apelo aos camaradas da esquerda do PT e do PSOL, que estão nessa encruzilhada, a virem para o Polo Socialista e Revolucionário do Maranhão.

Saudações Socialistas!