Encontro da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Luta, em São José dos Campos (SP) Foto Sérgio Koei
Wilson Honório da Silva, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU

O 5° Encontro da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas aconteceu entre os dias 10 e 12 de setembro, em São José dos Campos (SP), contando com 42 representantes, de 21 organizações e 17 países da Europa, das Américas, da África, Ásia e do Oriente Médio, além de cerca de 80 brasileiros e brasileiras. Para falar o evento e suas deliberações, conversamos com Herbert Claros, metalúrgico, integrantes do Setorial Internacional da CSP-Conlutas e de sua Secretaria Executiva e, também, da coordenação da Rede. 

Herbert Claros (de branco) durante encontro da Rede Sindical Internacional

Como você avalia a realização deste 5° Encontro, levando em consideração o cenário mundial, marcado pelo crescimento dos ataques aos trabalhadores e trabalhadoras, no mesmo ritmo do avanço da crise do sistema, e pela crescente polarização político-social?

Herbert Claros – O encontro foi muito importante para dar continuidade ao desenvolvimento e expansão da Rede. Nosso objetivo é unir os sindicatos combativos independentes ao redor do mundo, respeitando as tradições e as culturas sindicais de diferentes países. A atual crise do capitalismo os ataques que a nossa classe sofreu com a pandemia e, também, as seguidas tentativas dos governos em retirar direitos já justificam unificação do sindicalismo independente.  Muitas organizações da classe trabalhadora, hoje, não se dispõem a, de fato, defender os trabalhadores e depositam todas suas esperanças em governos ditos “progressistas”, ou em acordos espúrios com patrões. Simplesmente, abandonaram a luta de classes. Por isso, realizar esse encontro nessa conjuntura de crise econômica e de ataques aos trabalhadores e de guerras ao redor do mundo foi muito importante.

A reunião contou com a presença do Yuri Petrovich, do Sindicato Independente dos Mineiros de Kryvyy Rih, e da enfermeira Oksana Slobodyana, co-fundadora do Sindicato de Enfermeiras. Fale sobre o significado disto.

Foi fundamental contar com a presença de dois ativistas da resistência dos trabalhadores na Ucrânia. O sindicato do companheiro Yuri recebeu os donativos dos três comboios que enviamos para Ucrânia. A gente conheceu  o Yuri no primeiro Comboio de Ajuda Operária à Ucrânia. Lá, a gente percebeu a importância de ter um sindicato independente nesse país, que luta contra a corrupção e contra um governo que tem agenda neoliberal e colaboração com o imperialismo europeu e norte-americano. 

E também foi muito importante receber a Oksana, da Associação das Enfermeiras, que é um movimento impressionante, de base, que tem uma página no Facebook com 85 mil seguidores e, a partir das redes sociais e contatos em diversos hospitais, tem se organizado para salvar vidas desde antes da guerra. Passaram pela pandemia e, agora, ajudam no front de batalha. Oksana relatou que muitas enfermeiras estão no front de batalha ou nas cidades, socorrendo as vítimas de bombardeios e dos confrontos diretos. 

A presença destes ativistas, com participação ativa na resistência, é um orgulho para a Rede e só reforça a vontade de continuarmos nossa campanha de solidariedade a eles, algo que temos conseguido materializar na prática e não somente em discursos e moções. Além dos comboios, agora, estamos fazendo uma arrecadação financeira para que o sindicato dos mineiros de Kryvyy Rih possa ter estrutura suficiente pra cavar poços artesianos nas suas cidades e assim fornecer água potável para sua população.

O Encontro foi organizado em torno de painéis e grupos setoriais e temáticos. Qual é objetivo desta estrutura?

Criamos esta estrutura na fundação da Rede, em 2013, para dar espaço e priorizar a atuação das bases. O sindicalismo combativo e independente tem que ser baseado no trabalho de base e na participação democrática dos trabalhadores e trabalhadoras nas suas organizações e isto pode ser intensificado quando criamos organismos, como grupos setoriais, seja por categoria ou temas (como a questão do machismo, da LGBTIfobia, do racismo, da crise migratória ou do colapso do clima). Nesse encontro, tivemos, por exemplo, um grupo que discutiu a questão da água e as mudanças climáticas, que permitiu que trabalhadores, a partir de seus próprios sindicatos e perspectivas, contribuam para o debate e a elaboração, permitindo que possamos ser mais ativos, inclusive na solidariedade internacional. Esses grupos são uma tradição da Rede e, inclusive, queremos que eles sejam autônomos, desenvolvendo-se a partir dos contatos feitos nos encontros que realizamos. 

Quais foram os principais encaminhamentos e propostas adotados pelo Encontro?

Os principais encaminhamentos foram feitos através da aprovação de moções em solidariedade a ativistas que estão presos, estão sendo perseguidos ou, ainda, foram demitidos. Também foram aprovadas moções em apoio a diversas mobilizações que estão ocorrendo ao redor do mundo, como as do povo palestino, dos povos originários e operários de Jujuy, na Argentina. E, evidentemente, a continuidade da solidariedade aos companheiros da Ucrânia. 

Também tivemos deliberações destinadas a fortalecer a ampliar a Rede, consolidando os contatos que temos aberto com distintos setores, mundo afora. Com este objetivo, aprovamos ampliar experiências com as reuniões regionais (ou continentais), online, como as que já aconteceram na América Latina e na Europa. Outra decisão muito importante foi realizar três reuniões ao ano, de maneira virtual, pois, já que não temos condições financeiras para nos encontrarmos presencialmente com mais frequência, iremos usar a tecnologia para nos reunirmos mais sistematicamente, dando também mais espaço aos sindicalistas e organizações que compõem a rede. 

Por fim, também aprovamos a realização da construção de uma mobilização internacional que resulte na realização de uma “contra-cúpula” do G20, que se reunirá no Brasil, no Rio, em janeiro de 2024. Além disso, aprovamos a declaração-manifesto da Rede, que iremos publicar em nossa página.