Plenário do 5º Congresso Nacional da CSP-Conlutas Foto Sérgio Koei
Redação

Um clima de vitória e empolgação. Não há outra forma para definir o sentimento após o desfecho do 5º Congresso Nacional da CSP-Conlutas que, num momento de relativo refluxo das lutas, no primeiro grande evento pós-pandemia, e nadando contra a corrente de praticamente a totalidade das organizações da classe trabalhadora que estão atreladas ao governo Lula-Alckmin, conseguiu colocar 1.600 ativistas, dos quais mil delegados e delegadas eleitos na base, para discutir e deliberar sobre as principais lutas e, principalmente, reafirmar a construção de uma entidade marcada pela independência de classe, o internacionalismo e a unidade entre os mais diversos setores dos trabalhadores e os mais explorados e oprimidos. 

Sob o lema de “O lugar onde as lutas contra os governos, os patrões e toda forma de opressão se encontram”, o congresso reuniu, entre os dias 7 e 10 de setembro, no Clube Guapira, Zona Norte da capital paulista, delegados eleitos em assembleias em todo o país, entre operários metalúrgicos, trabalhadores dos serviços públicos, bancários, estudantes, ativistas dos movimentos popular, negro, de mulheres, LGBTI+, além de representantes de povos originários, quilombolas, tradicionais e camponeses. A delegação internacional, por sua vez, contou com 45 representantes, incluindo ativistas vindos direto do “front” na Ucrânia. 

Oposição de esquerda ao governo Lula

Entre as principais lutas reafirmadas pelo congresso para o próximo período estão o combate ao Arcabouço Fiscal e à Reforma Tributária; pela revogação, por inteiro, das reformas Trabalhista, Previdenciária e do Ensino Médio; contra a Reforma Administrativa, o Marco Temporal e as privatizações; em defesa dos povos originários e tradicionais, dos camponeses e movimentos populares em suas lutas por terra e pela moradia; e contra as opressões, dentre outras.

Mas, esse plano de ação não seria consequente se a CSP-Conlutas não se definisse de forma categórica como oposição de esquerda ao governo Lula-Alckmin que, junto ao Centrão e a setores da direita, impõem esses ataques. “Nossa central precisa enfrentar os governos de ultradireita, como o do bolsonarista Tarcísio em São Paulo. Mas, não só! Precisamos enfrentar, também, o governo burguês de Lula e Alckmin“, defendeu a professora Flávia Bischain, militante do PSTU, que integrou o Bloco Classista Operário e Popular, que concorreu entre as diversas teses apresentadas a cada tema do congresso.

CSP-Conlutas sai fortalecida

A vitória do congresso se dá não só pelos expressivos números no atual contexto pós-pandemia, de avanço da precarização e de capitulação das principais organizações de esquerda ao governo, mas também por expressar, de forma viva, as principais lutas em curso. Da luta pela estatização da fábrica bélica da Avibrás, há 1 ano em greve, às lutas dos povos originários, quilombolas e de luta pela terra, passando pela luta contra o genocídio da juventude negra. 

Um congresso que refirmou o caráter independente, classista e internacionalista da CSP-Conlutas, pautado pela democracia operária e com o perfil capaz de aglutinar os setores mais explorados e oprimidos da nossa classe. 

Saiba mais

Raio-X do 5º Congresso da CSP-Conlutas

 

TOTAL: 1.653

Delegados(as) presentes: 949
Observadores(as): 369
Delegação internacional: 45
Convidados(as): 32
Expositores: 49
Crianças na creche: 57
Imprensa: 35
Pessoal de apoio: 110

Exemplo

Democracia operária dá o tom

Algum desavisado que caísse por engano no congresso da CSP-Conlutas se espantaria não só pelo caráter diverso do ambiente, que colocava lado a lado ativistas da resistência ucraniana e indígenas da etnia Tremembé, do Maranhão; ou pelo conteúdo das resoluções aprovadas, que primam pela independência em relação aos governos e patrões. Mas, principalmente, pelo caráter democrático dos debates, algo sem paralelo entre as demais centrais. 

As votações foram divididas em 10 temas, de conjuntura internacional, nacional, estrutura sindical etc. Para cada uma, foram apresentadas diferentes teses, por correntes e organizações políticas distintas, que puderam defendê-las par a par, independentemente do tamanho. Para se ter uma ideia, no 3º dia, quando foram discutidas as principais resoluções, foram mais de 40 falas. 

Além disso, os Grupos de Trabalho permitiram que praticamente todos os delegados e delegadas pudessem falar, debater e apresentar propostas, nos distintos temas, para que fossem levadas ao plenário. Estes grupos discutiram a situação do país e internacional, autodefesa, combate às opressões, defesa do território e do meio ambiente, além do balanço da Central no último período.

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Não ao Marco Temporal

Congresso ecoa as vozes dos povos indígenas, quilombolas e camponeses

As lutas dos povos originários, dos quilombolas e dos trabalhadores rurais e camponeses ecoaram no congresso, reafirmando o caráter popular da entidade.  Um dos momentos mais marcantes aconteceu no sábado (dia 9), quando o palco foi ocupado pelos povos originários, camponeses e quilombolas de diversos estados, que denunciaram os ataques que estão sofrendo, apontaram o caminho da resistência e chamaram a unidade da luta operária, indígena e camponesa.

Estamos lutando pelo direito de existir. Essa atuação, essa luta, tem que ser em unidade, pois a unidade fortalece a nossa resistência. Sinto-me feliz e honrada em ser parte da CSP-Conlutas e ter vocês, trabalhadores e jovens de todo o país, como esteio e força para seguirmos na luta”, discursou Künã Yporã Tremembé, também conhecida como Raquel Tremembé, liderança do povo Tremembé do Maranhão. 

Nós sabemos que os povos indígenas carregam uma triste estatística de violência e invisibilidade. Uma situação que parece nunca ter fim. Estamos aqui para selar essa unidade, pois precisamos dessa força para enfrentar a crise climática, a destruição do meio ambiente e a legalização do genocídio indígena que vem junto com a tese do Marco Temporal”, completou Künã Yporã. 

Perseguições e ataques

Muitas foram as denúncias feitas por indígenas, quilombolas e camponeses, a exemplo do relato de Socorro Alves, moradora do Quilombo de Cocalinho, município de Parnarama, e articuladora do Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom). 

Existe um conflito forte com os grileiros. Isso começou com a empresa Suzano Celulose, que desmatou e, depois, passou essas terras para os latifundiários produtores de milho e soja. Hoje, nossa comunidade está ilhada, cercada por essas grandes plantações. Estamos sofrendo com o desmatamento e com os agrotóxicos. Todos os moradores estão sofrendo com uma forte coceira no corpo, dores de cabeça, enjoos e tonturas”, disse Socorro.

Ataques e perseguições aos indígenas, camponeses e quilombolas seguem a todo vapor no governo Lula (PT). “Recentemente, realizamos um protesto na sede do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em São Luís, e o superintendente veio com a velha estória de quem não tem verba. Prometeu visitar a comunidade e não foi. Estamos indignados com toda essa situação e mais indignados ainda com o governo que, com toda essa situação, não faz nada”, pontuou a articuladora do Moquibom.  

No plano de lutas aprovado no 5º Congresso Nacional da CSP-Conlutas consta a necessidade de avançar na luta contra o Marco Temporal; cobrar, com mobilização e independência de classe, que governo Lula-Alckmin demarque e homologue todas as terras indígenas e quilombolas. Assim como foi aprovado a luta por uma reforma agrária radical.

Internacionalismo

“Ucrânia, escuta, sua luta é nossa luta”

Entre as presenças e manifestações internacionais, a resistência ucraniana à ocupação russa foi, sem dúvida, o ponto forte. O painel sobre a guerra na Ucrânia reuniu o ativista ucraniano Yuri Petrovich, do Sindicato Independente dos Mineiros de Kriviy Rih; Pawel Nowozycki, da Iniciativa Operária da Polônia, além de Nara Cladera, da central Solidaries, da França, e da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas.

Os ativistas relataram a resistência heroica da classe trabalhadora ucraniana contra a invasão liderada por Putin. “Quando a Rússia se aproximou de Kryvy Rih, nós não tínhamos exército. Os trabalhadores se organizaram e foram lutar no front contra a invasão. Não aceitamos nem domínio nacional, nem domínio de classe”, relatou Yuri, que também contou sobre a importância da atuação da CSP-Conlutas e da Rede Internacional. “A resistência e a iniciativa de CSP-Conlutas e da Rede Sindical são enormes ferramentas para unir a classe operária da Ucrânia com a classe do mundo”, afirmou.

Genocídio

Justiça para os 9 de Paraisópolis

Um dos momentos mais marcantes do congresso foi o depoimento emocionado de Maria Cristina Quirino, mãe de Denys Quirino, um dos nove jovens assassinados pela PM num baile funk em Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo, em 2019. Ela é uma das lideranças das Mães de Paraisópolis, que exigem justiça ao massacre.

Tinha muitas coisas para falar neste momento, mas o que queria dizer é que a polícia é mentirosa, ela usa da legitimidade dada pelo sistema para matar os nossos filhos“, afirmou. “Nossos filhos morreram asfixiados, como no caso do camburão em Sergipe“, relatou, denunciando, ainda, a mais recente onda de chacinas policiais em São Paulo, no Rio e na Bahia, e exigindo justiça e o fim do genocídio da juventude negra.

Entrevista

“Apontamos a necessidade de fortalecer a independência de classe frente aos governos e patrões”