Foto Governo do Estado de SP
Júlio Anselmo

Diante de uma crise já instalada, e para tentar aparar arestas e se dar um ar de “democrático”, o PSDB realizou uma eleição prévia para escolher seu candidato à presidência do país, dentre os três nome que se apresentaram: o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio; o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o governador de São Paulo, João Doria.

Se nos Estados Unidos as prévias partidárias já são um jogo de cartas marcadas trágicos, aqui o sonho do PSDB terminou em pesadelo e em comédia. Até o papel da grande mídia saiu pela culatra, já que o destaque desproporcional dado para as prévias (incluindo a transmissão ao vivo de um debate), só serviu para aumentar o tamanho da vergonha alheia, que envolveu denúncias de fraudes, compra de votos, acusações de manobras entre os candidatos e, por fim, falhas e queda do aplicativo, o que resultou na suspensão do processo por uma semana.

João Dória foi o vencedor. Mas isso não unificou o PSDB e nem parece ter empolgado muito qualquer uma das alas do partido.

Fraturas e falcatruas expostas

Um primeiro fato que salta aos olhos é como a burguesia e a direita brasileiras estão divididas e sem acordos mínimos sobre qualquer coisa. Dentro de um dos principais partidos da burguesia brasileira, além de não haver acordo sobre quem deveria ser o candidato, as fraturas estão ficando cada vez mais expostas.

O problema começa com os erros que cometeram nos últimos tempos. O PSDB foi alvo de operações contra a corrupção, por mais que tenha sido preservado por Moro e demais setores da justiça. Aécio Neves e outros figurões da legenda estiveram envolvidos na maioria das maracutaias investigadas nos últimos anos. É isso que explica a ascensão de “novos políticos”, como Dória e Eduardo Leite, tentando renovar a legenda.

A hipocrisia do PSDB foi desmascarada

O que antes era o “partido da direita” no Brasil, deu lugar, nas últimas eleições, ao PSDB bolsonarista. Basta lembrarmos da campanha “BolsoDória”. Mais atrás, o partido votou a favor do impeachment de Dilma, dando aval ao governo Temer e ocupando, inclusive, cargos e ministérios. Hoje, tem muitos laços com o bolsonarismo, com seus parlamentares, por exemplo, votando alinhados com o governo federal.

Ou seja, os tucanos falam em defesa da democracia, ao mesmo tempo em que serviram de abrigo e deram munições aos setores mais autoritários e antidemocráticos do país. Além disso, a crise é também do seu projeto econômico. Seu programa, de certa maneira, foi implementado por Temer e está sendo aprofundado com requintes de crueldade por Paulo Guedes. O velho programa capitalista neoliberal clássico está ruindo a olhos vistos no país.

Nova direita

Mas a natureza da crise do PSDB está relacionada, também, ao surgimento de uma nova direita que, ao mesmo tempo em que “roubou” e aprofundou seu programa econômico, ainda apareceu como mais radical. E diante do aumento da polarização e das crises sociais, a radicalização ganha peso. E, se não bastasse, agora, quando tenta disputar o espaço da “terceira via”, o PSDB tem que se enfrentar com a popularidade de Sérgio Moro, que é um bolsonarista “nem tão obscurantista assim”.

Menos espaço para moderação

Tucanos e a crise do capitalismo

O capitalismo brasileiro, na esteira do mundial, não está conseguindo garantir as necessidades mais imediatas do povo, enquanto a burguesia exige cada vez mais lucros. O regime político, a forma de organização da sociedade, as relações econômicas atuais e o predomínio do poder econômico contribuem para que nada mude e o país siga dominado pelos países imperialistas, com os ricos, aqui, ficando ainda mais ricos e os pobres tendo que trabalhar cada vez mais, tendo cada vez menos direitos.

A crise capitalista é muito grande. O sistema capitalista atual é incapaz de resolver até mesmo os problemas elementares do povo brasileiro. Os interesses dos trabalhadores, da burguesia e das classes médias estão abertamente em choque dentro da sociedade. E é daí que vem a polarização. Por isso, há cada vez menos espaço para moderação no país e sejam buscadas alternativas nos extremos, tanto de direita quanto de esquerda.

Por isso, aquilo que já foi a “direita moderada”, agora, capitula à ultradireita. A crise do PSDB é uma crise programática e de identidade; mas também é expressão da decadência da própria burguesia brasileira. A bolsonarização do PSDB, da direita e da política brasileiras é fruto do que é a própria burguesia, que topa tudo em defesa dos seus interesses; que é, desde sempre, reacionária, arcaica e ignorante, e, ainda, não tem pudor em fazer o que for preciso para se manter no poder.

PT: com outra ala da burguesia

Em meio à polarização está o petismo, que aparece como alternativa viável ao Bolsonarismo. O problema é que, enquanto a direita se radicaliza, se bolsonarizando, o PT vai se moderando cada vez mais. O PT e a maioria da esquerda vêm capitulando cada vez mais à burguesia e à direita, como demonstra o flerte com Alckimin, buscando acordos e defendendo um programa para se manter nos marcos do capitalismo.

O que dificulta a vida dos trabalhadores não é a polarização em si, mas o fato de que ela é torta e mambembe, com o PT levando-os a apoiar um setor da direita ou uma ala da burguesia contra a outra. É isto que dificulta que os trabalhadores apareçam com peso, com uma alternativa radical, socialista e revolucionária. Algo que se faz necessário, ainda mais neste momento, para derrotar a ultradireita e os reacionários e atender as reivindicações do nosso povo.