Redação
Enquanto fechávamos esta edição saía mais um levantamento demonstrando a obscena desigualdade social que persiste desde sempre neste país. Segundo o relatório “Desigualdade Mundial”, os 10% mais ricos têm uma renda 29 vezes maior que a da metade mais pobre da população. Uma das maiores desigualdades de renda do mundo, perdendo só para a África do Sul entre as economias do G20.
Enquanto os 50% mais pobres ganham, em média, R$ 8.800,00 ao ano, o que dá menos que um salário mínimo, os 10% mais ricos ganham R$ 255.760,00. Esses mesmos 10% no topo da pirâmide detêm quase 60% da renda nacional. Ainda mais no topo, o 1% mais rico ganha uma média de R$ 1,2 milhão, o equivalente a 26,6% da renda nacional. Enquanto isso, os 50% mais pobres levam só 0,4%.
A pesquisa mostra que anos de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, não tocaram na grana dos ricos. Os 10% mais ricos, por exemplo, sempre tiveram mais que 50% da renda. A desigualdade na renda é grande, mas não capta o real abismo que existe entre os grandes detentores do capital, os realmente super-ricos que, como Paulo Guedes, guardam suas fortunas em paraísos fiscais e o restante da população.
Desde o começo da pandemia, o Brasil viu surgir 75 novos bilionários, totalizando 315 pessoas neste grupo que acumulam, juntas, uma fortuna de R$ 1,9 trilhão. Para se ter uma ideia, isso dá 1/4 do PIB do país. Enquanto isso, a renda dos trabalhadores despenca mais de 11% por conta do desemprego e da inflação, as famílias se endividam e, no país em que mais se produz alimentos no mundo, crianças sobrevivem comendo calangos e gambás.
Essa desigualdade é fruto do sistema capitalista, e a sua crise exacerba ainda mais essa contradição, agravada com pandemia. No mundo inteiro, os 520 mil mais ricos, ou 0,01%, concentram 11% da renda. Só em 2020 esse seleto grupo ganhou 3,7 trilhões de dólares, algo próximo ao gasto total com saúde no planeta neste período: 4 trilhões (leia um resumo do relatório aqui).
Para acabar com a desigualdade é preciso enfrentar o 0,1%
A desigualdade social é uma constante no Brasil porque todos os governos, da Colônia à República, atuaram de acordo com as necessidades das elites e do imperialismo, o que reforça ainda mais a exploração e a rapina. Nem mesmo os governos do PT solucionaram ou mesmo amenizaram esse problema, pois não tocaram nos lucros e propriedades dos super-ricos.
O que houve nos governos petistas foi a distribuição de renda entre os remediados e os mais pobres através de programas de transferência como o Bolsa Família. Programa emergencial de transferência é necessário, como vimos na pandemia e agora, quando o governo Bolsonaro corta o auxílio a 22 milhões de famílias. Mas não resolve o problema da fome, do desemprego e da miséria. Isso só se faz com emprego e renda. E só é possível acabar com o desemprego e garantir salário digno a todos justamente tirando dos super-ricos.
É preciso reduzir a jornada de trabalho sem diminuir os salários. Pôr em marcha um plano de obras públicas a fim de absorver a reserva de mão de obra sem emprego (e atacar os problemas estruturais como o saneamento). Proibir as grandes empresas de demitirem e estatizar, sem indenização, as que insistirem em dispensar trabalhador. Além de aumentar os salários.
Evidentemente, Bolsonaro não vai fazer nada disso. Muito pelo contrário, seu governo pretende radicalizar ainda mais os ataques ao povo pobre, aumentar a exploração e a entrega do país. Até mesmo greve de patrão querem legalizar, ao mesmo tempo que proíbem trabalhador de aplicativo na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ou os candidatos da “terceira via”, como Sérgio Moro e João Doria, igualmente comprometidos com os banqueiros e grandes empresários.
Diante disso, seria a candidatura Lula realmente uma alternativa para a classe trabalhadora e o povo pobre? Bolsonaro defende um projeto autoritário e de ditadura, porém a alternativa representada por Lula não é capaz de uma real transformação social, de redução das desigualdades ou sequer de resolver os problemas mais candentes como o desemprego e a fome. Tampouco vai revogar as reformas trabalhista e da Previdência. Isso porque o PT não se propõe a enfrentar os super-ricos e os bilionários, mas governar com eles. Garantir os interesses desse 0,1% e o que sobrar, transformar em concessões. Mas não estamos em 2002, a crise capitalista não tem precedente e não há mais margem de manobra para conciliar interesses. Ou se enfrentam os bilionários ou continuamos na mesma.
A tentativa de formar uma chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin reforça ainda mais a disposição de fazer um governo de aliança de classe, incapaz de mudar efetivamente a vida dos trabalhadores.
Para mudar de fato e ter empregos, renda, salário e serviços públicos, é preciso taxar os super-ricos e as grandes fortunas. Parar o pagamento da dívida aos grandes banqueiros e impedir as remessas de lucros. Estatizar as grandes multinacionais que controlam 70% da economia e colocá-las sob direção operária para atuarem de acordo com os interesses da população. Colocar a Petrobras sob controle dos trabalhadores, retomando as ações que estão hoje nas mãos de megainvestidores estrangeiros, e colocando-a para produzir combustível e gás a preço de custo. Reestatizar as empresas privatizadas, como a Vale e a Eletrobras.
É preciso, enfim, um programa socialista que enfrente o grande capital, os super-ricos e os bilionários. O PSTU entende que é necessária uma alternativa da classe trabalhadora que defenda esse projeto, tanto nas lutas quanto nas eleições. Por isso, apoia e constrói o Polo Socialista Revolucionário.