Ato de 7 de setembro no Anhangabaú Foto Martim
Redação

Diante da escalada autoritária do bolsonarismo, a tarefa prioritária colocada para a classe trabalhadora e o povo pobre hoje é a massificação das manifestações pelo Fora Bolsonaro. Para isso, é imprescindível a mais ampla unidade na luta com todos os setores que estejam dispostos a derrubar Bolsonaro. É possível e necessário colocar nas ruas milhões que expressem o crescente repúdio a este governo e a sua política genocida de fome, desemprego, carestia e entrega do país.

Neste sentido, os atos convocados pelo MBL para o dia 12 de setembro não contemplam a necessidade colocada para o movimento. Refletem, antes, uma política de um setor da direita liberal que tenta cavar um espaço eleitoral para o que chamam de “terceira via”. O que precisamos, e que o PSTU defende, é a unidade de todos os setores que se colocam contra o governo, mesmo aqueles que nos opomos politicamente, e lutamos contra. Para isto, é necessário organizar um grande dia nacional de luta, com manifestações massivas e amplas, cujo eixo seja o Fora Bolsonaro, e não a defesa de uma ou outra alternativa para as eleições.

O 7 de Setembro bolsonarista

Bolsonaro avançou mais uma casa na ofensiva autoritária rumo a seu projeto de ditadura neste 7 de Setembro. Com meses de preparação, e colocando o aparato do Estado a seu favor, contando ainda com o financiamento direto de setores do agronegócio, entre outros setores burgueses que ainda o apoiam, promoveu duas grandes manifestações em Brasília e em São Paulo, com um evidente caráter golpista.

Foto Isac Nóbrega/PR

O 7 de Setembro bolsonarista revelou uma situação contraditória: ao mesmo tempo em que moveu milhares de pessoas, mostrando que ainda conta com uma base de ultradireita, cada vez mais minoritária, mas ainda significativa, não extrapolou para além de sua bolha. Base esta que vem derretendo na medida em que se aprofunda a crise social, econômica e as várias denúncias de corrupção que envolvem o governo e a alta cúpula das Forças Armadas. Mas que ainda se encontra no redor dos pouco mais de 20% mostrado nas pesquisas.

Mais do que isso, apesar de grandes, foram manifestações bem menores que Bolsonaro esperava, e perto do aparato e dos recursos movidos para realizá-los. Não atraiu significativos setores populares, restringindo-se principalmente a homens acima dos 45 anos e de classe média e classe média alta. Negros, mulheres, setores pauperizados e precarizados passaram longe desses atos. Também não mobilizou setores da base das Forças Armadas e das polícias militares, apesar da intensa convocação e da conclamação para que se sublevassem contra seus comandos em favor de Bolsonaro.

Bolsonaro não vai parar

Neste dia 9, Bolsonaro recuou das ameaças de golpe e de fechamento do Supremo Tribunal Federal. Mandou buscar Michel Temer num jatinho da FAB e terceirizou a escrita de uma carta em que praticamente pede desculpas ao STF e ao seu principal desafeto, o ministro Alexandre de Moraes. A manobra desmoralizante mostra que, além de golpista, é um covarde de marca maior. Mas não podemos nos enganar. Desde o início Bolsonaro mantém uma tática de sucessivos avanços e recuos, testando os limites dessa democracia burguesa. E nisso, segue avançando contra as liberdades democráticas.

Bolsonaro, Mourão e o ministro da Defesa, Braga Netto Foto José Dias/PR

Bolsonaro não vai parar, pois está em seu DNA a defesa de um regime autoritário. Assim que a poeira baixar, vai realizar uma nova investida. Enquanto isso, segue, junto com o Congresso Nacional, sua política econômica de terra arrasada, sob os cadáveres de quase 600 mil mortos notificados na pandemia, conduzida por Paulo Guedes e que prevê a extinção dos direitos, desemprego em massa, carestia, destruição dos serviços públicos e extermínio das populações indígenas e do meio ambiente.

Construir um grande ato unificado pelo Fora Bolsonaro e Mourão

No 7 de Setembro, ocorreram importantes manifestações contra o governo, junto às tradicionais mobilizações do Grito dos Excluídos. Mas muito aquém do que realmente seria necessário. Enquanto Bolsonaro testa seu projeto autoritário, incide sobre a base das polícias e organiza suas próprias milícias, os setores de oposição, à esquerda e à direita, priorizam seus respectivos projetos eleitorais em detrimento da luta para botar abaixo este governo.

7 de setembro no Vale do Anhangabaú Foto Sérgio Koei

Os setores que compõem a direção da Campanha Fora Bolsonaro não jogaram peso na organização e preparação dos atos do 7 de Setembro. O mesmo havia ocorrido no dia 18 de agosto, dia nacional de luta dos servidores públicos. Enquanto Bolsonaro subia o tom das ameaças de golpe, Lula passeava pelo Nordeste se encontrando com lideranças que até ontem denunciava como “golpistas”, a fim de costurar uma aliança ampla para 2022. Os setores majoritários do PSOL, por sua vez, embrenham-se numa luta interna para decidir se apoiam Lula já no 1º turno. A direção da CUT, a principal central sindical, não concretiza suas denúncias em atos concretos para mover a classe.

No Senado, os parlamentares do PT chegaram a, de forma inaceitável e vergonhosa, apoiar a recondução do atual Procurador Geral da República, Augusto Aras, a um novo mandato, um dos maiores cúmplices do genocídio praticado por Bolsonaro.

Foi neste contexto que setores da direita liberal que romperam com o bolsonarismo, como o MBL, convocaram suas próprias manifestações. Inicialmente chamadas sob o lema “Nem Lula, nem Bolsonaro”, esses atos tinham um evidente caráter eleitoral no sentido de avançar para uma alternativa de “Terceira Via” para 2022. O MLB é um movimento que surfou a onda de Bolsonaro e da ultradireita, construiu-se atacando movimentos sociais e da juventude, inclusive fisicamente, como no movimento de ocupação das Escolas, e apoia projetos país afora contra os direitos das LGBT’s, em favor do famigerado Escola Sem Partido, contra as cotas e demais direitos da população negra e setores oprimidos.

Agora, o MBL tenta se descolar do bolsonarismo em decadência e da ultradireita mais conservadora. Mas segue apoiando a política original de Guedes, defende as privatizações de forma incondicional, assim como o fim de qualquer direito trabalhista. Não é aliado, em nenhum aspecto, dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre.

Para o PSTU, a principal tarefa hoje é botar abaixo o governo Bolsonaro. Para isso, defende a mais ampla unidade de ação na luta com todos os setores que estejam dispostos a isso, mantendo toda a independência política. Incluem-se nisso o PT, que defende hoje como política a reedição de um governo em aliança com banqueiros e o agronegócio, e que onde é governo ataca os trabalhadores, e mesmo setores da direita liberal que estejam pelo Fora Bolsonaro.

É indefensável e contraditório, assim, que setores como o PT ou o PCO se recusem a estar com o MBL nos atos por serem “golpistas”, ao mesmo tempo em que Lula se reúne com figuras da direita como Eunício Oliveira (MDB) e Tasso Jereissati (PSDB) em articulações para a construção de uma frente ampla para 2022. Desmascara a farsa do “golpe” contra Dilma e aponta para um governo de conciliação de classes, inclusive com a “direita golpista”. Fazer atos em unidade de ação com a direita não pode, mas governar sim? Deveria ser o contrário.

Mas para a conformação dessa ampla unidade de ação, é preciso que estes setores coloquem como centro das manifestações a luta direta pelo Fora Bolsonaro, e não seus projetos eleitorais.

Neste sentido, não estaremos nos atos convocados pelo MBL, que não foram convocados e organizados nesta perspectiva de unidade ampla contra Bolsonaro. Pelo contrário, reforçamos um chamado para a construção de um grande ato que unifique todos os setores, independentemente de sua política, e que coloque milhões nas ruas, expressando o verdadeiro peso dos que rechaçam Bolsonaro e sua política. Uma manifestação que mostre a verdadeira correlação de forças existente hoje no país.

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Por um polo independente da classe trabalhadora

Chamamos toda a unidade de ação pelo Fora Bolsonaro e, ao mesmo tempo, defendemos a formação de um bloco independente da classe trabalhadora nesses atos. Um bloco de classe e socialista que lute para botar abaixo este governo, mas também a sua política de desemprego, de fome, miséria, e que lute contra as privatizações, pela revogação da reforma trabalhista e em defesa dos direitos, contra a reforma administrativa e em defesa dos povos indígenas e do meio ambiente. Um bloco que defenda a necessidade de uma Greve Geral, a ser encampada principalmente pelas direções das grandes centrais sindicais, como forma de, junto aos atos, derrubar Bolsonaro.

É preciso derrubar este governo e acabar com suas ameaças autoritárias, mas é necessário ir além, apresentar um projeto da classe trabalhadora para o país, que faça com que os ricos paguem pela crise e que apresente um programa socialista, que garanta saúde, educação, moradia, emprego, direitos e acabe com os problemas estruturais que o capitalismo nos relega, como a fome, a pobreza e a miséria.

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