Estados Unidos começam a assumir o controle militar no país caribenhoNo dia 15 de janeiro, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, anunciou o envio de 10 mil soldados ao Haiti, ultrapassando o número de efetivos da ONU no país. No entanto, no dia 19, o número de soldados norte-americanos já chegava a 13,3 mil. Desses, apenas 4 a 5 mil ficarão em solo. O restante permanecerá no mar.

Informações mais recentes dão conta de que o número de militares dos EUA deve chegar a, no mínimo, 16 mil. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o almirante Samuel Perez Jr., que comanda a operação militar norte-americana no porto da capital haitiana, disse não saber quantos soldados estava comandando. “Eles chegam tão rápido! Os números só mudam. E mais virão para a reconstrução”, disse.

Numa declaração cínica, Hillary Clinton, a secretária de Estado norte-americana, disse lamentar “profundamente por aqueles que atacam nosso país, a generosidade do nosso povo e a liderança do nosso presidente”. A secretária tem bastante coragem ao ir a público dizer isso, enquanto se sabe que os EUA estão preocupados com o controle militar e não com ajuda humanitária.

A escalada militar norte-americana está avalizada pelo presidente René Preval. Em uma declaração conjunta com Hillary, divulgada em 18 de janeiro, Preval pede a suposta ajuda aos EUA. No texto, o presidente solicita ao país “a assistência necessária para reforçar a segurança em apoio ao governo e ao povo do Haiti e à ONU e aos parceiros e organizações internacionais presentes no terreno”. Segundo o comunicado, Preval “acolhe as iniciativas essenciais empreendidas pelo governo e o povo dos EUA no Haiti, em apoio à recuperação e à estabilização imediata e à reconstrução do Haiti a longo prazo”, dizendo falar em nome do povo do Haiti.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Obama também convocou seus antecessores George W. Bush Bill Clinton. O presidente deseja que os dois coordenem as arrecadações financeiras e ações a longo prazo da comissão de auxílio ao Haiti.

Quem controla o quê?
Embora os Estados Unidos garantam que o controle da ocupação permanece com a Minustah, nome dado à missão da ONU, um memorando firmado com os EUA informa que os fuzileiros navais não se submeterão a nenhum controle que não seja de seu próprio país. As tropas da ONU, na prática, seguirão as orientações norte-americanas.

O mesmo documento deixa sob controle americano o aeroporto, e designa tarefas de segurança junto à chegada de ajuda humanitária. Assim que desembarcaram no país, os EUA impediram a aterrissagem inclusive de aviões da Força Aérea brasileira, supostamente no controle da missão.

Hoje, o principal porto da capital Porto Príncipe também está sob controle dos norte-americanos. Além disso, para quem circula pela cidade destruída, a presença militar dos EUA é cada vez mais ostensiva. Imagens veiculadas pela imprensa demonstram isso.

O próprio secretário Robert Gates afirmou numa coletiva de imprensa: “Nós claramente estamos em posição de fazer mais do que os outros, parte por nossa proximidade, parte por nossa capacidade, e o ponto-chave aqui será coordenar esse esforço”. As ações dos Estados Unidos em solo haitiano comprovam a verdadeira intenção de controle.

Fuzis e bombas de gás em lugar de alimentos e remédios
A tragédia do terremoto foi o pretexto para que os EUA assumissem diretamente o controle da invasão militar ao país caribenho. Embora a ocupação, desde 2004, seja feita por tropas da ONU, sob a desculpa de pacificar o país, os Estados Unidos sempre mantiveram o controle indireto.

Ao Brasil, coube o papel sujo de representar o imperialismo norte-americano comandando a invasão. Em visita ao Haiti em dezembro de 2009, antes do terremoto, Eduardo Almeida, dirigente do PSTU, escutou relatos de haitianos que começavam a se revoltar contra a ocupação militar.

A opinião de dirigentes locais era que a revolta só não era maior porque eram soldados brasileiros que estavam no comando. Se fossem norte-americanos, não seriam aceitos. Esta é a verdadeira razão pela qual os EUA ainda não tinham conseguido controlar diretamente o Haiti.

Agora, diante do desespero do povo haitiano, com fome e com sede, as forças de ocupação, sob comando brasileiro, começam a reprimir os que buscam por ajuda e protestam pela falta de comida, de água e de atendimento médico. É o governo do Brasil cumprindo as tarefas designadas pelo chefe norte-americano.

De acordo com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, o governo brasileiro está enviando ao Haiti armas não-letais, como armas de balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes, para apoiar as tropas. “Tendo em vista a falta de água, de combustível e alimentos, as pessoas começarão a ficar revoltadas”, disse Jobim.

Menos diplomático, o general Jorge Armando Félix, ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, disse com todas as letras que a missão da ONU no Haiti não tem caráter humanitário, mas de segurança. “O batalhão não pode se afastar da sua missão”, declarou à imprensa.

Só que o povo haitiano não precisa de armas. Precisa de comida, remédios, atendimento médico. Os haitianos só podem confiar em suas próprias forças e na solidariedade dos trabalhadores do mundo.