Soldado boliviano da ONU protege caminhão com alimentos

Forças de ocupação já preparam repressão; Brasil envia cassetetes, bombas de gás e armas com balas de borrachaAos soldados da ONU que ocupam hoje militarmente o Haiti, se juntarão outros 10 mil marines. Com isso, o contingente militar norte-americano vai superar as tropas da ONU, que mantém hoje no país cerca de 6.700 homens.

Apesar de declarar formalmente que o Brasil manterá a liderança da Minustah (missão da ONU no Haiti), um memorando firmado com os EUA deixa claro que os marines não se submeterão a nenhum controle que não seja de seu próprio país. Ou seja, na prática os EUA vão tomar o controle da ocupação militar e do próprio Haiti.

A intervenção direta das forças armadas norte-americanas mostra claramente o papel subserviente das tropas da ONU. Tão logo os EUA chegaram ao país, já tomaram o controle do aeroporto de Porto Príncipe, impedindo até mesmo a aterrissagem de aviões da aeronáutica do Brasil. Com o envio dos 10 mil marines determinado por Obama, as tropas da ONU se converterão em mera força auxiliar dos EUA no Haiti.

Nessa tarde do dia 16, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, defendeu que o parlamento haitiano conferisse maior autoridade ao presidente Preval e aos próprios EUA. “Um decreto daria ao governo uma autoridade enorme, a qual, na prática, eles delegariam para nós”, afirmou em entrevista ao New York Times. Dentre esses poderes estaria o poder de se decretar toque de recolher.

Ao que parece, com o aumento da ameaça à estabilidade política e social no Haiti provocado pela calamidade, os EUA descartaram os intermediários resolveram assumir diretamente a situação.

Repressão
Nem bem é possível contar o número total de mortos provocado pelo terremoto e as forças de ocupação já se preparam para reprimirem possíveis protestos populares no país. Enquanto a grande maioria da população atingida espera ajuda médica e humanitária que nunca chegam, o Brasil despacha para o país uma estranha carga. De acordo com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, o governo brasileiro está enviando ao Haiti armas não letais, como armas munidas com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes, para “apoiar as tropas”.

Isso porque as tropas da Minustah sob a liderança do Brasil já estão se preparando para reprimirem possíveis manifestações contra a falta de comida, água e remédios que, avaliam, se aprofundarão nos próximos dias. “Tendo em vista a falta de água, de combustível e alimentos, as pessoas começarão a ficar revoltadas”, afirmou Jobim, que também declarou que a ocupação militar deverá durar “pelos menos mais uns cinco anos”.

O general Jorge Armando Félix, ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, desfez possíveis confusões e explicou claramente que as forças da ONU no Haiti não tem caráter humanitário e sim de “segurança”. “O batalhão não pode se afastar da sua missão”, declarou à imprensa. Nesse dia 16 de janeiro, o subchefe de Comando e Controle do Estado Maior de Defesa do Brasil, Paulo Zuccaro, disse ainda que o país estuda aumentar o contingente de militares no país.

Enquanto isso, os haitianos contam com suas próprias forças e solidariedade no resgate dos feridos e recolhimento dos corpos, assim como para a sobrevivência diária no país devastado.