Roberto Aguiar, de Salvador (BA)

Na última quarta-feira, dia 22, a PF (Polícia Federal) prendeu o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, suspeitos de operar um balcão de negócios no MEC (Ministério da Educação), através da liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

O ex-ministro, investigado por corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência, foi solto no dia seguinte. Mas de lá pra cá, o assunto segue ganhando destaque, incluindo a discussão sobre a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Senado.

Os desdobramentos revelam cada vez mais a relação do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o caso de corrupção. Em março, no início das investigações, foi vazado um áudio de uma reunião realizado no MEC entre o ex-ministro com prefeitos, líderes do FNDE e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Na reunião, Milton Ribeiro afirmou que sua prioridade era “atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, e que a prioridade ao pastor “foi um pedido especial que o presidente da República fez a ele”.

Na sexta-feira (24), o juiz do caso decidiu enviar o processo para o STF (Supremo Tribunal Federal), por entender que há indícios de interferência do presidente Bolsonaro nas investigações. Em uma gravação feita pela Polícia Federal por meio de interceptação telefônica autorizada pela Justiça, o ex-ministro ligou à filha e relatou um telefonema do presidente Jair Bolsonaro.

Ribeiro diz à filha: “Hoje, o presidente me ligou. Ele está com um pressentimento novamente de que podem querer atingi-lo através de mim, sabe?“. Em seguida, afirma: “Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa, sabe? Bom, isso pode acontecer, se houver indícios, mas não há porquê“.

No dia da ligação, Bolsonaro estava na Cúpula das Américas, nos Estados Unidos, junto com o ministro da Justiça, Anderson Torres, a quem a Polícia Federal é subordinada.

Hoje, dia 27, a ministra Cármen Lúcia, do STF, enviou para análise da PGR (Procuradoria Geral da República) um pedido apresentado pela oposição para que Bolsonaro seja investigado.

Ministro Milton Ribeiro e Bolsonaro Foto Carolina Antunes/PR

Bolsonaro na lama da corrupção

A relação de Bolsonaro com Milton Ribeiro é tão grande, que o presidente seguiu conversando com o ex-ministro, mesmo estando este sendo investigado pela PF. Em março, quando as investigações iniciaram e a imprensa vazou o áudio da reunião do MEC com os pastores e os líderes do FNDE, Bolsonaro disse que estavam fazendo uma covardia contra Milton Ribeiro e afirmou: “eu boto minha cara no fogo pelo Milton”.

A relação de Bolsonaro com a dupla de pastores Gilmar Santos e Arilton Moura também é forte. Desde o início do governo em 2019, eles visitaram o Palácio do Planalto 45 vezes.

Bolsonaro, que fez o discurso anticorrupção marca de sua campanha, está atolado na lama da corrupção e é integrante do esquema que ocorria dentro do MEC, como demonstra o áudio do próprio ex-ministro Milton Ribeiro. Por isso, Bolsonaro tenta interferir nas investigações, quer controlar a PF e busca amenizar as prisões ocorridas semana passada.

Em sua live semanal, Bolsonaro disse que “não foi corrupção da forma que está acostumado a ver em governos anteriores. Foi de história de fazer tráfico de influência. É comum”. No domingo, 26, entrevista ao programa 4 por 4, na internet, Bolsonaro disse que a operação contra Ribeiro tinha o objetivo de constranger o governo. Que “não tinha indícios mínimos de corrupção por parte dele” e “ele foi preso injustamente“.

Cadeia aos corruptos e corruptores

Mesmo com todas as intervenções do Bolsonaro, as investigações sobre a corrupção no MEC segue. Se Bolsonaro não tivesse até o pescoço envolvido não agiria da forma que vem atuando, buscando evitar o trabalho da PF.

O medo de Bolsonaro é que todos os indícios revelam seu envolvimento, bem como sua atuação e ingerência sobre as investigações, recebendo informações privilegiadas e repassando aos investigados.

O balcão de negócio era grande dentro do MEC. Em relatos na investigação sobre irregularidades feitas pela CGU (Controladoria-Geral da União), os servidores da pasta dizem que o ex-ministro Milton Ribeiro recebia com frequência o pastor Arilton Moura em seu gabinete. Os encontros, segundo os servidores, ocorriam também na casa do ex-ministro. O ex-assessor Albério Rodrigues Lima afirmou que, a partir de maio de 2021, Milton Ribeiro concedeu espaço mais privilegiado aos pastores Gilmar e Arilton, quando passou a recebê-los em sua própria residência.

A chefe da Assessoria de Agenda do gabinete do ministro da Educação, Mychelle Rodrigues Braga, no relato à CGU, afirmou que “durante a gestão de Milton Ribeiro nenhuma outra pessoa ou autoridade esteve naquelas dependências com a frequência do pastor Arilton”. A investigação revela que Ribeiro tentou dar um cargo a Arilton Moura no MEC.

As investigações precisam seguir de forma autônoma e independente. Bolsonaro deve ser investigado por interferir nas investigações e também por ser parte do balcão de negócios no MEC, afinal, os pedidos da dupla de pastores deveriam ser prioridades a pedido do presidente.

Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura deveriam seguir presos. E Bolsonaro deveria fazer companhia a eles na cadeia. Cadeia neles!

Prisão a todos os corruptos e corruptores e confisco dos seus bens.

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