Cesar Neto

Nesses mais de 500 anos que marcam a expansão dos países imperialista, os povos das Américas e da África foram submetidos a violentos processos de usurpação de suas terras e das riquezas minerais, além da submissão de sua população às mais degradantes condições de opressão.

Os chamados “conquistadores” atuaram com rigor impondo novas religiões e até mesmo o batismo negando os valores étnicos das populações originárias; violência sexual contra mulheres; surras, prisões, torturas, assassinatos individuais e coletivos. Tais práticas levaram ao genocídio de grande parte da população, ou se não, ao seu completo extermínio e que, por sua extensão e número de envolvidos, são superiores às vítimas da II Guerra Mundial.

Agentes de práticas de genocídio do período colonial e da atualidade dão nome às ruas, praças, avenidas e até mesmo cidades. Enquanto que para os sujeitos que praticaram o genocídio são construídos monumentos, para as vítimas resta o silêncio como cúmplice dos atuais governantes.

Esses crimes precisam ser reparados
A migração compulsória dos negros sequestrados na África, trazidos para a América Latina na condição de escravos e vendidos como mercadorias, após 130 anos do final da escravidão, ainda ecoam os seus efeitos nas periferias, nos trabalhos degradantes e nas favelas.

Afinal, como funciona a Reparação? As formas de reparação podem variar e dependerá em primeiro lugar da pressão social para que os países imperialistas e as burguesias locais reconheçam seus erros. A reparação pode se dar através de: a) Restituição: devolvendo à vítima ou os seus descendentes as terras perdidas ou bens valiosos usurpados antes do genocídio; b) Compensação: pagamento por danos praticados e proporcional ao dano sofrido; c) Reabilitação: reparo dos danos sofridos tais como perda de cultura, religiosidade, dignidade, identidade e sentimento de pertencimento; d) Satisfação: pode incluir o encerramento de violações e abusos contínuos e o reconhecimento oficial dos danos praticados pelo imperialismo e as burguesias nacionais; e) Desculpas públicas, comemorações e homenagens às vítimas, memoriais e divulgação pública da verdade.

O genocídio contra os povos Herero e Nama
Na corrida para garantir o território, entre 1904-1908, a Alemanha enviou tropas de seu exército para garantir a usurpação de terras dos povos Herero e Nama que viviam próximo à costa Atlântica, na região onde hoje está a Namíbia. Essas terras, além de bem localizadas, eram boas para agricultura e já haviam alguns indícios da presença de ouro e diamante.

Os Herero e os Namas resistiram como puderam. Quanto aos alemães, ao praticarem o chamado Primeiro Genocídio no Século XX, aproveitou a ocupação militar para treinar e desenvolver as cruéis formas que utilizaria alguns anos depois durante a II Guerra Mundial.

Para “pacificar” a região, a Alemanha enviou as tropas coloniais conhecida como Schutztruppe comandadas pelo General Lothar von Trotha, o qual ficou famoso por sua ordens para matar e exterminar. Em uma carta ao governo alemã ele diz: “Eu acredito que a nação (Herero) como tal deve ser aniquilada, ou, se isso não for possível por medidas táticas, tem que ser expulso do país … Isso será possível se os poços de água de Grootfontein a Gobabis estiverem tomados por nossas tropas. O movimento constante de nossas tropas nos permitirá encontrar os pequenos grupos de nação que se moveram para trás e os destruiremos gradualmente“.

A ordem de extermínio está documentada em uma carta que von Trotha enviou à resistência dos Hereros: “Eu, o grande general dos soldados alemães, envio esta carta aos Hereros. Os hereros não são mais sujeitos alemães. A nação dos hererós deve agora deixar o país. Se recusar, eu o obrigarei a fazê-lo com o “cano longo” (canhão). Qualquer herero encontrado dentro da fronteira alemã, com ou sem uma arma ou gado, será executado. Eu não pouparei nem mulheres nem crianças. Eu darei a ordem para afastá-los e atirar neles. Tais são as minhas palavras para o povo herero“.

A ordem de extermínio não era uma ameaça. E calcula-se que entre 25 e 40 mil pessoas foram mortas enforcadas, fuziladas ou pela fome nos campos de concentração. Os que tentaram fugir pelo deserto de Kalahari para alcançar a região onde está Botsuana morreram de sede, pois os poços ou estavam tomados pelas tropas ou com as água contaminadas pelos alemãs.

Nesse processo de genocídio algumas crianças foram poupadas e escravizadas. As mulheres eram obrigadas a posarem nuas para as fotos e abusadas sexualmente. Os fuzilamentos, enforcamentos e prisões nos campos de concentração foram a rotina durante 4 anos.

Um relatório produzido pelas Nações Unidas afirma que 65.000 Hereros ou 80% da população e 10.000 Namaquas (50% da população Nama) foram mortos em apenas três anos, isto é, de 1904 a 1907.

Namíbia: a luta pela reparação aos povos Herero e Nama
Passaram-se 100 anos para que começasse a luta pela Reparação. Começou e ganhou apoio do movimento de massas. O governo alemão resiste em reconhecer a necessidade da reparação. Os descendentes dos Hereros e Nemas não desistem. Marchas, manifestações no país e na Alemanha tem sido realizadas. Uma ação foi ajuizada nos Estados Unidos exigindo indenização do governo alemão e do Deutsche Bank, que financiou as tropas alemãs e empresas desse país no sudoeste africano.

O movimento de luta pela Reparação está radicalizado contra o imperialismo alemão. Essa radicalização se expressa no dia a dia e nas manifestações através da consigna de luta: “Alemanha pode correr, mas não pode se esconder” “Vamos seguir os alemães até o fim do mundo