Na manhã de terça-feira (25/07), no Fórum Criminal da Barra Funda em São Paulo, ocorreu a primeira audiência do caso dos 9 de Paraisópolis. A audiência foi antecedida por um ato na frente do próprio Fórum, onde estiveram entidades do movimento social, figuras públicas e organizações políticas. O PSTU esteve presente, somando-se à luta e se solidarizando com as famílias.
Entenda o caso
Em 2019, nove jovens de idade entre 14 e 23 anos, foram mortos pela ação truculenta da PM no baile da dz7, baile funk que acontece na Zona Sul de São Paulo. Segundo o Ministério Público, os PMs fecharam as vias de acesso ao baile e impediram os frequentadores de deixarem uma viela da comunidade. Jogaram bombas em direção às vítimas, onde o laudo confirmou que a maioria delas morreram asfixiadas por sufocação indireta. Ainda, segundo a denúncia, os PMs agrediram os jovens com golpes de cassetetes, garrafas e gás de pimenta. Como prova, existem relatos e vídeos que foram gravados por moradores na época.
Há relatos de que poucos dias antes do massacre, a Polícia Militar havia iniciado uma ocupação em Paraisópolis, em razão da morte de um sargento local. Vários moradores dizem que, durante esse tempo, policiais atuaram com extrema brutalidade, invadindo casas, destruindo patrimônios e agredindo a população fisicamente e verbalmente.
O massacre dos 9 jovens no baile, foi no dia que a morte do sargento completou um mês. Por isso a afirmação de que a brutal atuação da PM era previsível e os policiais assumiram o risco das mortes, devendo ser julgados por júri popular.
“Quero ressaltar aqui, a importância que é pouco falado. A Comunidade de Paraisópolis estava sofrendo uma retaliação da polícia por conta da morte de um sargento que tinha falecido um mês antes, que é o sargento Ronald Ruas. E eles estavam sofrendo essa retaliação há já muitos dias, e a polícia estava ameaçando a comunidade, a polícia estava falando que não ia ficar assim, que ia cobrar e que muita gente ia pagar. E realmente de fato, no dia que completou 30 dias da morte desse sargento, eles simplesmente arquitetaram essa ação” – conta Maria Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique Quirino de 16 anos e liderança do Mães de Paraisópolis.
Ver essa foto no Instagram
A audiência
Dos 31 policiais que participaram da ação, somente 12 até agora estão sendo processados e não há garantia de que vão a júri popular. A primeira audiência demorou 3 anos e 7 meses para acontecer, e a próxima está marcada para o dia 18 de dezembro. As famílias pedem também para reverter a absolvição dos 19 PMs que não foram denunciados ou estão inocentados.
“Estes se beneficiaram do entendimento de que, supostamente, não seria possível individualizar suas condutas, quando, na verdade, há provas suficientes para levar todos os envolvidos a julgamento” – diz o manifesto escrito e assinado pelas famílias e organizações.
Não é um caso isolado
A violência contra os 9 de Paraisópolis ilustra uma realidade que atinge toda a periferia de São Paulo e a Região Metropolitana. Por exemplo, segundo o mapa da desigualdade da Rede Nossa São Paulo de 2022, Brasilândia, Capão Redondo, Cidade Tiradentes e Grajaú são alguns dos bairros mais negros de São Paulo. Todos possuem um alto índice de agressão policial e mortes por intervenção policial, com um alto número de homicídios de jovens entre 15 e 29 anos.
Dizer que essa luta também é nossa não é retórica: o Estado dos ricos se sente muito à vontade (e não é de hoje) para assassinar filhos e filhas da classe trabalhadora. É a realidade nua e crua de toda a periferia brasileira.
Sabemos que há um recorte de raça e classe. Como sempre denunciamos, o racismo é uma das ferramentas mais cruéis do sistema capitalista, condenando a população negra e periférica a serem alvos a todo momento. Entra governo e sai governo, essa política de massacre aos jovens periféricos continua, onde o tom de pele e os traços valem mais que qualquer prova.
O assassinato de negros, indígenas e trabalhadores no geral, expressa o sistema em que vivemos. Não existe capitalismo sem racismo. É por isso que se somar a essa luta não é só um ato de solidariedade às vítimas e seus familiares, mas sim um ato de solidariedade de classe a tudo que a periferia sofre diariamente.
“Nós estamos aqui hoje pra mostrar que a polícia mente, a polícia mata, com todas as provas, ainda assim eu estou aqui hoje com 3 anos e 7 meses, para a primeira audiência. E se fosse filho de polícia, se fosse filho de bacana, filho de político, a gente estaria aqui hoje para a primeira audiência? Eu acho que não.” – Diz Fernanda Garcia, irmã de Dennys Guilherme (16 anos).
Ver essa foto no Instagram
Justiça já!
O PSTU se soma nessa luta pois sabe na pele o que o Estado dos ricos faz com nossa classe nas periferias, sobretudo com os jovens: assassinatos, crimes forjados e prisões arbitrárias fazem parte de qualquer quebrada.
Já vimos essa história muitas vezes na Brasilândia, por exemplo, onde temos somado forças com famílias vítimas desses tipos de ações do Estado. – Como afirmou Israel Luz do PSTU Brasilândia
A punição dos envolvidos será um alento às famílias que já sofreram demais. Também será uma vitória muito importante na batalha para desmilitarizar a segurança pública, acabar com o genocídio da juventude negra, indígena e periférica do país.
Para avançar na luta pela justiça, dos nove de Paraisópolis e tantos outros jovens que sofreram e foram mortos por esse sistema, precisamos nos mobilizar e nos organizar, com todos os setores oprimidos na linha de frente para derrotar esse sistema.
Justiça pelos 9 de Paraisópolis! Basta de genocídio! Pela desmilitarização da PM, já!