Em menos de duas semanas, três indígenas da etnia Guajajara, autodenominados Tenetehar, foram assassinados no Maranhão. O último foi Antônio Cafeteiro Silva Guajajara, morto com seis tiros, no domingo, 11, num povoado próximo ao município de Arame.

No dia 3 de setembro, Janildo Oliveira Guajajara, que já foi “Guardião da Floresta”, grupo de indígenas que identifica, vigia e protege as trilhas abertas pelos madeireiros ilegais, caçadores e outros criminosos ambientais, foi assassinado com tiros nas costas, em Amarante do Maranhão. No mesmo dia, e também no município de Arame, Israel Carlos Miranda Guajajara morreu, após ser atropelado, no que a polícia tratou como um caso de homicídio.

Janildo Guajajara atuava junto aos “Guardiões”, em uma aldeia próxima de uma estrada aberta por madeireiros e fechada por eles. Estes guardiões são um exemplo de auto-organização em defesa da floresta e da sobrevivência da etnia Guajajara, na Terra Indígena (TI) Arariboia.

Desde a criação do primeiro grupo de guardiões, em 2007, 32 ramais madeireiros foram fechados. E, de lá pra cá, os guardiões da região vêm sofrendo constantes ameaças, que têm se intensificado cada vez mais. Em 2019, o assassinato de Paulino Guajajara, um dos guardiões, expôs ao mundo toda a barbárie contra os povos originários da região.

Assassinatos a serviço do agronegócio e do desmatamento

Nas imagens de satélite é possível observar que a TI está completamente cercada por fazendas e áreas desmatadas. Em seus mais de 400 mil hectares, vivem mais de cinco mil indígenas, inclusive os Awa, um povo isolado, que habita o coração da Terra Indígena e que resiste aos incêndios criminosos, aos madeireiros e grileiros que ocupam suas terras demarcadas, com o incentivo e a autorização do presidente da República.

Não há dúvidas que os crimes contra os povos Gujajaras foram motivados pela atual política do governo Bolsonaro. O atual governo desmonta a Fundação Nacional do índio (Funai) e estimula a invasão das Terras Indígenas país afora. Defende, ainda, liberar a garimpagem em terras indígenas. A pistolagem e o latifúndio se sentem à vontade para cometer todo e quaisquer tipos de atrocidades.

Além de saberem que Bolsonaro está fechado com eles, também têm a certeza da impunidade e mesmo da colaboração do poder judiciário, dos prefeitos, governos e das polícias locais. “O genocídio indígena mais evidente no Brasil está acontecendo no Maranhão, onde, em menos de duas semanas, três indígenas foram assassinados na mesma TI. Os Pataxós da Bahia estão sendo alvos de pistoleiros; nossas meninas e mulheres estão sendo estupradas e mortas, o que demonstra que estamos diante de um massacre indígena e o mundo precisa ecoar isto”, disse Raquel Tremembé, candidata à vice-presidente, na chapa de Vera.

Dependência colonial

Violência é resultado da expansão do agronegócio

Dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) evidenciam que a violência contra os Guajajaras não vem de hoje.  Segundo o Conselho, entre 2003 a 2021, cerca de 50 guajajaras foram assassinados; destes, 21 foram na TI Arariboia.

O ex-governador do Maranhão e, agora, candidato ao Senado, Flávio Dino (PSB), também tem sua responsabilidade. Prometeu que iria criar uma força-tarefa para ajudar na proteção dos Guajajaras, após o assassinato de Paulinho, mas nada foi feito. Em 2017, Flávio Dino minimizou o ataque cometido contra os Akroás Gamellas e, também, foi responsável pela ação policial contra a comunidade do Cajueiro.

O Maranhão é parte da nova fronteira do agronegócio, que se expande por sobre o estado, a custa de expropriação e sangue de indígenas, camponeses e quilombolas. Dino sempre esteve comprometido com o setor, fomentando a construção de ferrovias, portos e outras obras de infraestrutura, para facilitar o escoamento de minérios e grãos.

O avanço do agronegócio também é o principal vetor dos problemas ambientais brasileiro, inclusive na emissão dos gases de efeito estufa (como o dióxido de carbono e o metano, que retêm o calor no planeta, provocando o aumento da temperatura), responsável por 72% das emissões.

Colaboração

Aliança com agronegócio significa cumplicidade com os crimes

Recentemente, a ex-ministra do Meio Ambiente de Lula, em 2003, Marina Silva (Rede), declarou apoio à candidatura do ex-presidente e disse que houve um compromisso por parte do petista na prevenção ao desmatamento da Amazônia, na criação de uma autoridade nacional para enfrentar as mudanças climáticas e na demarcação de terras indígenas.

No entanto, é impossível cumprir tal agenda e ficar atrelado ao agronegócio.  Na entrevista ao Jornal Nacional, em 25 de agosto, Lula lembrou que “nenhum governo tratou do agronegócio como nós”, se orgulhando do apoio dado ao setor. Já na emissora CNN Brasil, no dia 12 passado, Lula disse que há “muita gente responsável” no agronegócio, “que cuida do meio ambiente” e “está tentando preservar”. “Tem empresários grandes no agro que se comportam dignamente”, declarou.

“Lula, mais uma vez, anunciou a criação do Ministério dos Povos Originários. Mas não se compromete com a demarcação dos territórios, a titulação de quilombos e a reforma agrária. Claro que o motivo disso é que ele teria que ir contra os interesses do agronegócio”, explica Raquel.

Agronegócio sustentável só existe em novela da Globo. Na realidade, ele é expressão da decadência brasileira. Enquanto não rompermos com o atual modelo dependente, superando o sistema capitalista, que destrói os sistemas ecológicos e promove a violência contra os indígenas, nada vai mudar.