PSTU Mariana

Yuri Gomes, de Mariana (MG)

No dia 12 de fevereiro ocorreu a eleição do representante dos trabalhadores para o Conselho de Administração da Vale. Poucos funcionários se interessam por essa eleição, que de fato tem pouco ou nenhum significado para a vida da categoria. Mas a corrupção comprovada em uma urna em Mariana revela muito sobre o caráter da empresa e de uma parte expressiva do movimento sindical da companhia.

O que é o Conselho de Administração da Vale S/A?

Como a própria Vale diz em seu site, o Conselho é o “elo entre os acionistas e a gestão”. Mas por que tem um representante dos trabalhadores enfiado lá no meio? Para dar legitimidade às decisões dos acionistas e os diretores, também escolhidos pelos acionistas. É composto por 13 conselheiros, sendo 12 escolhidos pelos fundos de ações (com forte influência de fundos estrangeiros e do Bradesco) e 1 levantador de mão, muito bem remunerado, escolhido pelos empregados.

Além da legitimidade, o conselho se presta a ser uma ferramenta de cooptação de lideranças operárias. São dezenas de milhares de reais o salário de um conselheiro em um ambiente controlado onde é minoria absoluta. É o mesmo papel que cumpre a política burguesa para as lideranças populares. A desconexão com a classe de onde veio, que lhe elegeu, é o mais comum, e como o grande empresariado gosta.

Como foi a eleição?

A eleição do representante dos trabalhadores se dividiu em 11 chapas, sendo polarizada entre a chapa 8 (Lúcio do Stefem-Maranhão e André Pato Roco do Metabase Itabira) e 3 (Wagner Cabeludo do Sindfer-Vitória e Eduardo Stefem-Maranhão). A chapa 8 de Lúcio apoiada por Ângelo, presidente do Metabase Mariana, ganhou por uma margem bem pequena da liderada pelo Wagner Cabeludo.

Mas durante a eleição, a urna de Fábrica Nova foi movida por fiscais indicados da chapa 8 para colher mais votos de forma corrupta. Tal ação antiética foi registrada em ata, mensagens comprometedoras foram reveladas e a situação foi vastamente discutida pela Junta Eleitoral. O resultado deveria ser óbvio: anulação da urna e assim a chapa 3 ser declarada vitoriosa. Mas não. A junta decidiu refazer a votação na mina, premiando quem fez a corrupção.

Lições disso tudo

Primeira lição: ditos representantes dos trabalhadores que promovem qualquer tipo de corrupção devem ser varridos do movimento sindical! Se tal representante faz isso em uma eleição do conselho, imagine o que pode fazer na negociação do seu salário e na luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e vida! A corrupção é o método dos patrões e dos políticos da ordem, não de nós trabalhadores.

Segunda lição: a chapa 3 deve ser considerada vitoriosa. Por mais que o conselho não seja um espaço para a luta real de nós trabalhadores, não podemos permitir que ações antiéticas como essa sejam aceitas em nosso meio. E que Wagner “Cabeludo” utilize do seu mandato e dos recursos advindos dele para fortalecer a luta dos trabalhadores de maneira independente. Vamos cobrar!

Terceira e mais importante lição: temos que destruir o Conselho de Administração e criar um outro, com representações exclusivas dos trabalhadores da companhia e com cadeiras para moradores de áreas atingidas pela mineração. Uma eleição organizada pelos sindicatos e movimentos sociais que forme esse novo conselho e que indique uma nova diretoria operária e popular para a Vale.

Com o apoio técnico dos recursos de uma empresa bilionária, uma gestão operária, de quem sabe onde o calo aperta, não permitiria que situações como Fundão e Brumadinho acontecessem e que os funcionários ficassem com apenas 3% da produção em salários. Assim os lucros extraordinários poderiam ser investidos para melhorar a vida da população do país, como saúde e educação, e não para encher o bolso de grandes acionistas gringos e políticos corruptos como é hoje.

É possível? Se estivermos unidos, com a nossa força e a nossa luta, é sim possível, e não há outro caminho para mudarmos esse modelo de mineração. Existem experiências feitas na Rússia e na Bolívia. Isso é o que queremos dizer quando falamos de uma mineração 100% estatal sob controle dos trabalhadores e das comunidades.