Redação

Lu Novais e Waldir Pontes, de Contagem (MG)

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), pretende construir uma rodovia, o Rodoanel,  que terá 103km, pedágios e “rasgará” 13 municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte. 

A explicação do governo de Minas Gerais é que a obra vai reduzir o tráfego de caminhões no atual Anel Rodoviário e adjacências, trazendo também bem-estar social e econômico para a população.

O governo se utiliza de mentiras para tentar convencer a população de que a obra e o traçado proposto são o ideal para tal fim.

Um presente para a Vale

Qual é a verdade sobre o projeto?

O projeto Rodoanel ou “Rodominério”, na verdade, tem outra finalidade: construir uma estrada para viabilizar o escoamento da produção das mineradoras da região, favorecendo também a especulação imobiliária por onde for passar. 

O custo estimado do projeto é de R$ 5 bilhões. O governo investirá R$ 3 bilhões, através do acordo espúrio com a mineradora Vale depois da tragédia de Brumadinho que matou 272 pessoas em 2019. Dentro desse acordo, a empresa foi beneficiada com isenção de pagamento de R$ 15 bilhões, de um total de R$ 51 bilhões, descontando ainda valores já pagos com reparação. 

 Ou seja, o governador Romeu Zema vai utilizar da multa aplicada à Vale pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão em Brumadinho para dar de presente uma rodovia para a mesma mineradora responsável pela tragédia. 

Sem mobilidade

O governo também alega que o projeto melhorará a mobilidade urbana. Outra mentira, porque se quisesse mesmo a melhora da mobilidade ele aplicaria essa indenização na revitalização do atual Anel Rodoviário, na melhoria do transporte público e na ampliação das linhas de metrô, tão precárias em Belo Horizonte. Zema, ainda, se serviu do acordo para privatizar o Metrô de BH, já que consta como parte dos investimentos de sua ampliação. 

Passando por cima dos bairros e nascentes

Além de tudo isso, o governo não apresentou nenhum estudo antecipado à sua população, dos impactos econômicos, sociais e ambientais.

Do ponto de vista econômico, os únicos beneficiários serão as construtoras, empresas fornecedoras de materiais e mineradoras.

Do ponto de vista social, a obra vai cortar ao meio bairros e regiões de grande adensamento populacional, como Jardim das Rosas, em Ibirité; Petrovale, em Betim; Granja Ouro Branco e Nascentes Imperiais, onde organizamos a Comissão Nascentes Imperiais, em Contagem. 

Só neste último bairro, apesar da negativa do governo, serão impactadas direta e indiretamente 400 casas. E serão destruídas em torno de 50 nascentes que abastecem a represa de Vargem das Flores, correndo o risco imenso de essa represa desaparecer, comprometendo todo o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Sessenta mil podem ficar sem casa

Estima-se que em todo o trajeto serão destruídas 15 mil casas, colocando na rua em torno de 60 mil pessoas. Inexiste, até agora, qualquer proposta de realocação da população atingida.

Passando por cima de quilombos e da memória

Além disso, estão ameaçados sítios arqueológicos, patrimônios culturais, como na cidade de Santa Luzia, o Cemitério dos Escravos, o Mosteiro de Macaúbas, a Comunidade Quilombola de Pinhões e, na cidade de Contagem, a Comunidade Quilombola dos Arturos. Desrespeitando a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), à qual o Brasil assinou, o governo não fez, nem prevê qualquer consulta prévia aos moradores desses territórios.

A agricultura familiar camponesa também está na rota do projeto, com centenas de pequenas propriedades. 

Interesses das mineradoras 

Essa obra faz parte de um ataque sistemático do governo Romeu Zema, ao priorizar os interesses capitalistas das mineradoras na destruição das cidades e seu povo pobre.

Além de toda a destruição que ela vai causar, essa obra coloca em risco a segurança hídrica da Grande BH, ameaçando os mananciais de Taboão, em Ibirité; de Bálsamo, na Serra do Rola Moça; e a área de preservação ambiental em Lajinha, na cidade de Ribeirão das Neves. Mais que tudo isso, os mananciais que fazem a recarga da Vargem das Flores, que abastece Betim, Contagem e várias outras cidades da Grande BH. 

Precisamos nos organizar

Zema entrega nossas riquezas

Desde que assumiu, Zema está levando adiante um projeto econômico e político de submissão às mineradoras e aos banqueiros.   

As licenças ambientais estão sendo aprovadas a toque de caixa, como na Serra do Curral, Serras da Moeda e do Rola Moça, o que pode levar ao desabastecimento de água na Grande BH. 

Entregou as jazidas de lítio (mineral estratégico para baterias), no Vale do Jequitinhonha, para uma empresa canadense, privatizou o Metrô BH e quer entregar o que resta no controle do nióbio, da Cemig (estatal de energia) e da Copasa (saneamento e água). 

Zema é um típico coronel bolsonarista. São muitos exemplos de declarações xenofóbicas contra nordestinos e até citação de Mussolini. Agora, gastou R$ 41,5 milhões para recapear a estrada que vai até o sítio da família. 

Chamamos os moradores da Grande BH a enfrentarem os poderosos interesses por trás do Rodoanel. Não podemos trocar nossas casas, nascentes e água por uma rodovia que só vai beneficiar os ricos e as mineradoras.

Fora Rodoanel da morte! 

Fora Zema e seu projeto entreguista!