Redação

Conforme vai passando os dias, o governo Lula vai dando demonstrações de que parece que nada vai mudar nesse país. E, assim, vai se criando um sentimento entre os trabalhadores de que o governo, de fato, não vai atender as necessidades do povo.

Os R$ 18 de aumento no salário mínimo anunciados por Lula no 1º de maio mal compram uma cuba de ovos. Já a reforma trabalhista, que o PT prometeu rever na campanha eleitoral, já disse que vai permanecer e não toca mais no assunto. Isso acontece porque, para dar um aumento de verdade ao salário mínimo, como o PSTU defende, dobrar o salário já, e revogar por completo a reforma trabalhista, o governo teria que se enfrentar com o grande capital. E não só não se enfrenta, como governa com e para as grandes empresas, os banqueiros e o agronegócio.

O governo, pelo contrário, atende aos interesses dos grandes capitalistas. O ministério da Agricultura foi entregue a um grande sojicultor, a reforma agrária está parada, e o grande agronegócio nadando de braçada. Não só isso, como as ocupações de terras e o MST são criminalizados por setores do próprio governo. Isso abre brecha para a CPMI do MST, uma ofensiva do bolsonarismo e da ultradireita para atacar os movimentos no campo.

Não podemos ter nenhuma confiança no governo

O governo Lula, ao invés de apelar para a mobilização dos trabalhadores e da população em favor de determinadas medidas, não propõe nada que se enfrente com o capital ou a ultradireita. Assim, pode se colocar como “de esquerda” e culpar o Congresso Nacional quando, na verdade, fosse realmente a favor da classe trabalhadora, se enfrentaria com o Congresso e chamaria os trabalhadores às ruas.

Ao contrário, o governo vem fazendo acordos com os setores do alto comando militar que até ontem estavam com Bolsonaro. Vejamos, no dia em que a Polícia Federal batia à porta de Bolsonaro e assessores, Lula almoçava com o comando das Forças Armadas, e minutos depois anunciava um militar para o GSI (Gabinete de Segurança Institucional). O mesmo GSI que se mostrou omisso, se não conivente, com a intentona golpista de 8 de janeiro, junto com outros setores da cúpula militar.

Artur Lira, por sua vez, vai dando as cartas no Congresso Nacional e o governo vai entregando tudo que o centrão quer. Lula joga expectativa e confiança de que será o Supremo Tribunal Federal (STF) que supostamente derrotará a ultradireita.

Por isso, é fundamental construir e fortalecer um campo de classe, que defenda um programa dos trabalhadores e não deixe a classe refém do Congresso Nacional, da patronal ou do STF. Só com mobilização e independência de classe é que será possível conquistar as reivindicações da classe e, inclusive, derrotar definitivamente a ultradireita. Alimentar a confiança num governo e num projeto de conciliação com a burguesia, com Lira, com o STF, e a direita é o caminho mais rápido para a desmoralização e o fortalecimento da própria ultradireita, como estamos vendo no Chile com o governo Boric. É isso que defendem o PT, o PSOL, ou mesmo a esquerda que não está no governo, mas que se recusa a enfrentá-lo, como o PCB ou a UP.

Movimentos sociais, sindical e estudantis devem romper com o governo

A população e a classe trabalhadora ficam reféns dessa política de conciliação do governo, sem saída para os seus problemas e de mãos atadas, ainda mais quando a direção dos partidos da esquerda parlamentar e entidades do movimento, como o PSOL, ou a CUT e UNE, mantém-se atrelados a esse governo e a essa política.

Neste sentido, teve muita importância o 1º de maio independente e de luta convocado pela CSP-Conlutas, impulsionado pelo PSTU e demais organizações que advogam pela independência de classe. Foi um momento para defender as bandeiras dos trabalhadores, como um aumento de verdade do salário mínimo, a revogação das reformas trabalhista, previdenciária e do Novo Ensino Médio, assim como o fim das privatizações e a reestatização das empresas privatizadas.

Mas para isso, é preciso enfrentar os banqueiros, as grandes empresas e o agronegócio, assim como o próprio projeto do governo. É preciso acabar com as isenções e subsídios bilionários às grandes empresas, taxar fortemente as grandes fortunas e propriedades. É necessário ainda acabar com a “independência” do Banco Central, mas não só, proibir as remessas de lucros. Revogar o teto de gastos e a Lei de Responsabilidade Fiscal que só desviam dinheiro para banqueiros, e suspender a dívida, a fim de investir em serviços públicos como saúde, educação e geração de empregos.

Unificar as lutas e construir alternativa socialista

Diante disso, é preciso que a classe se organize e se mobilize por salário, direitos, emprego, pela revogação das reformas trabalhistas, previdenciária, e a reforma do Ensino Médio. Contra as privatizações e a entrega do país, e pela reestatização das empresas privatizadas. O caminho é a luta, apoiando as categorias que estão se mobilizando, como os metroviários do Rio Grande do Sul, e os operários da CSN.

Estamos nas vésperas do 13 de maio. Não comemoramos a Lei Áurea, mas denunciamos a abolição sem reparação e exigimos justiça e reparação ao povo negro, assim como o fim do encarceramento em massa. Mas esse governo tem um projeto de alianças que impede resolver os problemas de fundo, ou até os imediatos como o combate aos golpistas.

Precisamos é de uma alternativa socialista, que defenda a independência de classe e que aponte um outro projeto de sociedade, um projeto socialista, em que os trabalhadores governem apoiado em conselhos populares.

Imortal Rita Lee!

Fechávamos esta edição sob o impacto da morte de Rita Lee, expressão da indignação contra todo tipo de conformismo e exemplo de como não devemos aceitar a mesmice ou o “mal menor”. Viva Rita Lee! É hora de ser Pagu indignada no palanque, ovelha negra contra esse sistema.