Redação
Enquanto fechávamos esta edição, o governo Bolsonaro anunciava mais uma troca no comando da Petrobras. É a quarta neste governo, apenas 40 dias depois da última mudança. O nome da vez é o de Caio Mário Paes de Andrade, assessor direto do ministro Paulo Guedes.
Diante da disparada nos preços dos combustíveis e do gás, o governo tenta segurar momentaneamente a alta num ano eleitoral. A verdade é que o troca-troca na Petrobras não muda a escalada nos preços, justamente porque não mexe no seu principal causador: a privatização acelerada da Petrobras, que impõe a Paridade de Preço de Importação (PPI), que faz com que paguemos, em dólar, o combustível e o gás que são produzidos aqui, em reais. Enquanto também recebemos em reais um salário de fome.
Essa situação faz com que paguemos, com inflação, carestia e fome, o lucro dos grandes banqueiros e acionistas que detêm a maioria das ações da Petrobras na Bolsa de Nova York. Bolsonaro não quer mudar isso, ao contrário, quer privatizar de vez a Petrobras e entregar tudo diretamente aos banqueiros.
Mas não é só a Petrobras que o governo quer acabar. O documento “Projeto de Nação, o Brasil em 2035”, apresentado pelo Instituto Villas Bôas com o apoio do entorno militar de Bolsonaro, expõe com todas as letras o plano dessa gente. Além das privatizações, da entrega da Amazônia ao agronegócio e às grandes mineradoras, o projeto do governo é o de acabar com a saúde e a educação públicas e gratuitas. Isso com autoritarismo e ditadura. Servilismo com o imperialismo e porrete para o povo.
Barbárie e retrocesso
Não é preciso esperar 2035 para vermos o resultado do bolsonarismo. Neste dia 24 de maio, enquanto a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara votava um projeto de cobrança de mensalidades na universidade pública, no Rio de Janeiro, a polícia realizava mais uma chacina, desta vez na Vila Cruzeiro. Até o momento em que fechávamos esta edição, já eram 25 mortos confirmados, entre eles a cabeleireira Gabriele Ferreira da Cunha, de 41 anos, atingida pelas costas.
Eis o Brasil de Bolsonaro: barbárie, chacina e repressão para pobres e negros por um lado, fim da educação e da saúde públicas por outro. No meio disso, Guedes ainda quer acabar com o FGTS dos trabalhadores e isentar ainda mais os grandes empresários.
Os trabalhadores, porém, não estão assistindo a tudo isso de braços cruzados. Os operários da CSN de Congonhas e de Volta Redonda dão um grande exemplo de mobilização. Na região de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, os trabalhadores da Avibrás estão em luta contra o fechamento da fábrica e as demissões em massa, mesma situação dos operários da Caoa Chery, que ocuparam a fábrica enquanto fechávamos esta edição.
Unificar as lutas
Como apontou a reunião nacional da CSP-Conlutas, é preciso unificar as lutas que ocorrem pelo país. Unificar com as lutas dos sem-teto por Despejo Zero, as lutas dos indígenas contra o Marco Temporal e pela titulação das reservas, e também dos quilombolas, a luta do povo pobre contra o genocídio da juventude negra; dos sem-terra, da juventude, da educação e da saúde. Nesse processo, é preciso também avançar na organização da autodefesa da classe contra a ultradireita, a repressão e as ameaças às liberdades democráticas.
Juntamente, é necessário construir um projeto de independência de classe e socialista, que ataque os lucros e propriedades dos grandes bilionários para garantir emprego, salário, direitos, terra, defesa do meio ambiente e soberania. Que reverta a entrega do país, reestatize todas as empresas privatizadas e exproprie as 100 maiores empresas. Uma alternativa que, enfim, acabe com a exploração e toda a opressão.
Voto útil é fortalecer uma alternativa socialista
A alternativa representada por Lula e Alckmin não é uma solução aos trabalhadores, mas uma armadilha. Um projeto capitalista palatável a banqueiros, multinacionais e grandes empresários que não muda em profundidade a desigualdade que temos aqui há 500 anos. Tanto que não basta terem Alckmin como vice, chamaram para formular a proposta de política econômica Pérsio Arida e Lara Resende, formuladores do Plano Real no governo FHC.
Chamar voto em Lula e Alckmin no 1º turno não é um “voto útil” para derrotar Bolsonaro. Até porque não vamos derrotar a ultradireita e as ameaças autoritárias meramente nem principalmente via eleições, em aliança com os mesmos bilionários para os quais Bolsonaro e Guedes governam. Um governo assim vai, invariavelmente, atacar os trabalhadores e acabar em frustração lá na frente, fortalecendo essa mesma ultradireita, que estará armada, organizada e pronta para voltar com mais força.
O PSTU atua nas eleições principalmente para disputar a consciência dos setores mais avançados da classe para uma estratégia socialista e revolucionária. Nas primeiras eleições que o PT participou, por exemplo, em 1982, em plena ditadura, não chamou “voto útil”. Pelo contrário, atuou para fortalecer o classismo. “Nosso objetivo não é apenas o de conquistar votos, mas é principalmente o de servirmos à organização política dos trabalhadores. Para o PT, as eleições são uma ferramenta para fazer avançar e crescer a mobilização e a organização do povo. Trabalhador vota em trabalhador. Ganhar as eleições é votar no PT“, dizia um panfleto do partido.
De lá para cá, o PT abandonou o classismo, adaptou-se ao regime, governou para os banqueiros e os patrões e agora oferece uma alternativa da burguesia nas eleições.
Um voto útil aos trabalhadores, à juventude e ao povo pobre é o que fortalece uma alternativa independente, socialista e revolucionária. Um projeto de destruição desse sistema que nos explora e oprime e de defesa de uma outra sociedade. É a favor desta alternativa que está a pré-candidatura de Vera, do Polo Socialista e Revolucionário e do PSTU .