Redação

No dia 1º de maio, após dias de massivos protestos na greve nacional, iniciada em 28 de abril, o governo do presidente Iván Duque Márquez ordenou a militarização das cidades, para tentar conter as mobilizações que, contudo, continuam, apesar de terem sido brutalmente atacadas pela Polícia Nacional.

Oficialmente, 19 pessoas foram assassinadas pela polícia. Mas, várias entidades de direitos humanos falam em 35, 40 e até 72 mortes, como a organização “Defender a Liberdade”. E, provavelmente, o número é próximo disso, pois, segundo a Defensoria Pública do país, há 87 pessoas desaparecidas. Há, ainda, mais de 400 pessoas presas, dezenas de casos de espancamentos e de estupros.

Sob ordem de Iván Duque, a Polícia Nacional invadiu casas e conjuntos residenciais, usando armas de fogo e disparando sobre os manifestantes para dispersá-los.

Reforma Tributária: estopim da revolta pela vida

Os protestos começaram a tomar o país no dia 28 de abril, contra o governo de Iván Duque, por conta de um projeto de Reforma Tributária, que pretendia tributar a população mais pobre para arrecadar US$ 6,78 bilhões. Foi o estopim dos protestos.

No ano passado, de acordo com os números maquiados do Departamento Administrativo Nacional de Estatística (Dane), a pobreza extrema atingiu 42,5% da população, um aumento de quase sete pontos em relação a 2019, que foi de 35,7%. Em outras palavras, a pandemia deixou cerca de 3,6 milhões de pessoas em extrema pobreza.

O governo Duque vive uma crise e não tem respaldo para avançar. Segundo pesquisa da Polimétrica, realizada antes protestos, 65% dos colombianos desaprovam sua gestão. A insatisfação com o governo deu um salto após greves e mobilizações realizadas no dia 21 de novembro de 2019.

A pandemia, contudo, agravou ainda mais a crise econômica e social do país. Em junho de 2020, explodiram novos protestos, com greves nacionais. Em setembro, uma nova onda de manifestações foi reprimida pela polícia, provocando a morte de pelo menos 13 pessoas nas mãos das forças repressivas de Duque.

A rebelião na Colômbia é expressão de exigências econômicas e sociais muito profundas, agravadas pela pandemia. Isso levou aos protestos que começaram em 28 de abril, e que explodiram em meio da agressiva terceira onda da Covid-19.

“A juventude, a classe trabalhadora e os pobres – apesar da pandemia – foram às ruas arriscando suas vidas, não só diante da possibilidade de contágio, mas também diante da repressão policial. As massas não estão saindo às ruas só para enfrentar a Reforma Tributária e o pacote de Duque; mas, também, para protestar contra as condições de miséria em que vivem”, explica em nota o Partido Socialista dos Trabalhadores (PST), filiado à Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI).

“SOS Colômbia” contra um massacre em curso

A polícia foi com tudo pra cima dos manifestantes. Na noite de 1º de maio, Duque disse que apelaria para a “assistência militar”, figura da Lei 1.801, de 2016, ou Código Policial, que se define como “o instrumento legal que pode ser aplicado quando atos de grave alteração da segurança e da convivência o exigirem, ou perante risco ou perigo iminente, ou para enfrentar uma emergência ou calamidade pública, através da qual o Presidente da República poderá dispor, temporária e excepcionalmente, do apoio da força militar”.

Diante da impossibilidade de conter os protestos, cujo epicentro foi a cidade de Cali, no Sudoeste da Colômbia, Duque apelou para o massacre. A polícia foi assumindo o controle nas cidades, passando por cima das prefeituras, que se limitaram a dar declarações de apoio às instituições.

Nas horas seguintes, começaram a pipocar várias denúncias da barbárie policial nas redes sociais, sob a hashtag  “#SOScolombia”, enquanto o silêncio imperava na grande mídia do país que, muitas vezes, chamou os manifestantes de baderneiros, vândalos etc.

Colombianos não se curvam diante da repressão brutal e criminosa

Mesmo a repressão sanguinária não intimidou os manifestantes. As ruas seguiram ocupadas. No dia 2 de maio (domingo), o governo anunciou a retirada da Reforma Tributária, estopim da convocatória para a paralisação nacional e as mobilizações desde 28 de abril. O recuo foi motivo de festejos em várias cidades, mas as mobilizações continuaram em todo o país. No dia 3 (segunda-feira), o ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla, renunciou.

“Porém, o povo está nas ruas e está disposto a continuar lutando, a continuar convocando as mobilizações em uma Greve Nacional (…). Milhares de jovens, camponeses, mulheres, comunidades afros e indígenas e a classe trabalhadora vão às ruas, não só contra a Reforma Tributária, que foi rejeitada, até pelos partidos do governo, mas contra as condições de pobreza e miséria que tiveram que suportar por décadas e que pioraram durante a pandemia”, explica o PST.

No momento em que fechávamos essa edição, vários movimentos e entidades, pressionados pela persistência dos protestos em todo o país, estavam fazendo um chamado para manter as mobilizações e pela convocação de um grande protesto nacional, na quarta-feira, 5 de maio.

Mas, o PST faz um alerta: “Urge, também, uma Reunião de Emergência, que possa dirigir a Greve Nacional contra o governo de Duque, porque o Comitê Nacional de Greve, controlado pelas burocracias sindicais, não tem conseguido assumir a liderança. É preciso uma nova direção das organizações sindicais e populares para enfrentar esta declaração de guerra do governo Duque contra a classe trabalhadora e os pobres”.

#SOScolômbia

É preciso denunciar massacre e organizar protestos internacionais

As organizações da classe trabalhadora, defensoras dos direitos humanos, sociais e populares devem se solidarizar com as lutas na Colômbia e denunciar o massacre do governo Duque.

É necessário fazer uma campanha internacional, em torno do “#SOScolômbia”, apoiando as lutas, com mobilizações no exterior e protestos nas embaixadas colombianas, exigindo o fim deste massacre. Aqui no Brasil, já há um ato convocado, em São Paulo, na frente do Consulado da Colômbia, no dia 6 de maio, às 10h, por iniciativa da CSP-Conlutas, CUT, CTB, Intersindical e outras centrais. Participe, usando máscaras e respeitando o distanciamento social.