Wilson Honório da Silva, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU

Quando fechávamos esta edição, o povo colombiano estrava no 22º dia consecutivo da Paralisação Nacional, movimento que começou no dia 28 de abril, como uma paralisação de 24 horas contra a Reforma Tributária através da qual o presidente Iván Duque queria jogar os custos da crise sobre as costas dos trabalhadores.

Contudo, há muito, o movimento já ultrapassou este objetivo. A Reforma caiu em 2 de maio, carregando, no dia seguinte, o ministro da Economia Alberto Carrasquilla. Mas, nem isto conteve os protestos, que se generalizaram e, cada vez mais, se voltam não só contra o governo e seus planos (particularmente o de privatização total do sistema de saúde), mas, também, contra o regime do qual Duque é herdeiro e representante.

Este regime é conhecido como “uberismo”, em referência ao governo do ex-presidente Álvaro Uribe que, principalmente a partir de 2009, assumiu um perfil ditatorial, altamente repressivo, centralizador e autoritário, adotando medidas de “contra-insurgência”, solidamente apoiado nas Forças Armadas e policiais, no famigerado Esquadrão Móvel Antidistúrbios (ESMAD) e em grupos paramilitares.

Tudo isto para tentar conter a crescente insatisfação popular e mobilizações contra os planos neoliberais que, como em todo mundo, resultaram em altos índices de precarização; num crescente desemprego, que, hoje, atinge 15,9% da população; e na ampliação da forme e da miséria que faz com que 42,5% dos colombianos vivam abaixo do nível de pobreza.

Um explosivo levante popular, apesar da pandemia e da brutal repressão

Apesar do nome de “Paralisação Nacional”, a luta não tem se caracterizado (ainda) por greves. O que se tem visto, dia após dia, são milhares de pessoas tomando as ruas em passeatas e realizando assembleias massivas para discutir seus problemas. À frente, estão principalmente os setores populares mais precarizados e oprimidos (com forte participação das mulheres), as comunidades indígenas e afrodescentes, a juventude, os camponeses empobrecidos e os moradores das periferias que, como mundo afora, são também os mais atingidos pela pandemia, que já matou mais de 80 mil pessoas, num país com cerca de 50 milhões de habitantes.

Gente que não tem dado arrego, apesar da violentíssima repressão que, de acordo com Comando Nacional da Paralisação (CNP), até o dia 16 já havia resultado em 50 mortos, 578 feridos, 37 pessoas com lesões oculares, 1.430 detidos, 524 pessoas desaparecidas e 21 mulheres estupradas, havendo, também, relatos de violência sexual contra membros da comunidade LGBTI.

O atual levante precisa ser entendido dentro de um contexto mais amplo. Em novembro de 2019, houve uma paralisação nacional de três dias e desde o início da pandemia há registros de lutas, não só contra a piora das condições de vida, mas, também, contra a repressão. A diferença, agora, não é só a duração de três semanas, mas o envolvimento de diversos outros setores. Além disso, inúmeros postos policiais e prédios das instituições de poder têm sido atacados ou, ainda, símbolos da opressão, do passado colonial e da exploração capitalista.

Para avançar na luta: Greve Geral e Encontro de Emergência

No dia 18, teve início uma rodada de negociações entre a direção do CNP e o governo Duque. Um processo que tem vários entraves. Para começar, o governo se nega a garantir o fim da repressão, ponto prévio para qualquer acordo. Pior: promete intensificá-la, ameaçando usar da força para por fim aos bloqueios e, também, decretar “Estado de Comoção Interna” (similar ao nosso “Estado de Emergência”).

Além disso, o CNP, composto, majoritariamente, pela velha burocracia sindical, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), está longe de representar a composição e os anseios das massas. Aliás, o que tem se visto é um intenso processo de auto-organização também para defender os manifestantes contra a brutalidade, principalmente através das chamas “Primera Líneas” (Pelotões de Frente ou Comitês de Autodefesa, inspirados na luta chilena), Guardas Indígenas e “Cimarronas” (algo como “Guerreiros Quilombolas”).

Diante disto, o PST colombiano aponta a necessidade de ações combinadas, para fazer com que a luta contra o governo e o regime avance: o desenvolvimento destes organismos de auto-organização, a entrada em cena da classe operária e a construção de uma nova direção. “Conclamos a convocação de uma Reunião de Emergência, que eleja uma nova liderança, fortaleça as lutas e que direcione a Paralisação Nacional para o chamado de uma greve geral, porque só a paralisação da produção poderá fazer com que a burguesia ponha um fim aos seus planos e ações criminosos”, diz a nota publicada pela organização-irmã do PSTU, no dia 18 de maio.