Roberto Aguiar, de Salvador (BA)

No final do Congresso da CSP-Conlutas, ainda no Clube Guapira, na capital paulista, o Opinião Socialista conversou com o Atnágoras Lopes, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém (PA) e membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas. Ele falou sobre o desafio que foi realizar um grande evento, que reuniu trabalhadores de todo o país; destacou as principais resoluções políticas aprovadas; e ressaltou o plano de lutas votado pelas delegadas e delegados.

O 5º Congresso da CSP-Conlutas reuniu mais de 1.600 pessoas entre delegados, observadores, convidados, delegação internacional e apoio. Como foi o desafio de organizar um evento deste tamanho na atual conjuntura?

Foi um desafio muito grande, mas só foi possível pelo envolvimento de todos os sindicatos e movimentos populares que constroem a Central, que atenderam ao chamado e compreenderam a importância em realizarmos nosso Congresso, em uma conjuntura difícil, que exige de nós uma postura firme frente a um governo de conciliação de classes, que arrastou todas as outras centrais sindicais para debaixo de sua asa. Tivemos dificuldades financeiras, o que impediu que muitos mais delegadas e delegados estivessem presentes. Contudo, fomos vitoriosos. Foi um congresso com mais de 1.600 pessoas, com trabalhadores das mais diversas categorias, movimentos populares do campo e da cidade, povos originários, quilombolas, trabalhadores rurais e juventude, todo mundo junto e misturado. Apontamos a necessidade organizar a luta e fortalecer a independência de classe frente aos governos e patrões.

Um dos temas mais debatidos no Congresso foi a relação dos movimentos sociais e entidades sindicais com o atual governo Lula/Alckmin. O que foi aprovado nesse sentido?

No ponto de debate sobre conjuntura nacional, o perfil de independência de classe e autonomia em relação a todos os governos e patrões foi reivindicado por todos e, mais uma vez, reafirmado. Aprovamos que a CSP-Conlutas deve fazer uma oposição de esquerda ao governo de Frente Ampla com a burguesia de Lula e Alckmin, ao mesmo tempo em que deverá seguir combatendo a ultradireita e golpistas. Nos nove meses de experiência com o governo Lula-Alckmin foram tomadas medidas como o novo Arcabouço Fiscal, a Reforma Tributária, a volta da ameaça da Reforma Administrativa, a omissão diante da ofensiva para aprovar o Marco Temporal contra os povos indígenas, os planos de explorar petróleo na Amazônia, entre outros, que comprovam o caráter burguês do governo, sua subserviência aos bancos internacionais e nacionais, ao agronegócio e ao empresariado em geral. Frente a esse quadro, a tarefa da Central é se colocar como oposição de esquerda para defender os interesses da classe trabalhadora e a todos os demais governos que atacam nossa classe e seguir combatendo a ultradireita, pela prisão de Bolsonaro e todos os golpistas.

O Congresso contou com uma delegação internacional formada por 45 pessoas de diversos países, com destaque para a presença de trabalhadores da Ucrânia. Qual a importância desse debate internacional para o fortalecimento das lutas aqui no Brasil?

O capitalismo explora os trabalhadores em todo o mundo. A necessidade de derrotar e superar esse sistema explorador e opressor é mundial. Por isso, nossa luta é internacional. A CSP-Conlutas, desde a sua fundação, tem como um dos seus princípios o internacionalismo. Somos parte da Rede Sindical de Solidariedade e Lutas, que realizou seu quinto encontro logo após o congresso da Central, que contou com a presença de ativistas de 17 países (América, Europa, África, Oriente Médio e Ásia), incluindo um operário ucraniano que veio do front da guerra. Em nossas resoluções, reafirmamos questões importantes como o internacionalismo e a solidariedade às lutas dos trabalhadores de todo o mundo; a ampla unidade contra o imperialismo e governos capitalistas; contra os planos de austeridade, criminalização dos movimentos sociais e a destruição do meio ambiente. Votamos todo apoio à resistência do povo ucraniano, fora Putin e não à OTAN; todo apoio e solidariedade às lutas dos trabalhadores no mundo e construção de uma mobilização internacional contra a reunião do G20 (países mais ricos) que ocorrerá em 2024, no Rio de Janeiro, e será presidida pelo governo Lula. Reafirmamos a luta estratégica por uma sociedade sem exploração e opressão, uma sociedade socialista.

O Congresso reuniu trabalhadores do campo e da cidade, ativistas de luta contra as opressões, povos originários e quilombolas, e juventude. Qual a importância de termos uma Central com um caráter sindical e popular?

O lema do congresso foi ‘O lugar onde as lutas contra os governos, patrões e toda forma de opressão se encontram’, o que mostra o caráter sindical e popular da Central. Avaliamos que é um acerto político unir sindicatos da cidade e do campo, movimentos de lutas contra as opressões, movimentos e entidades de estudantes, os povos originários, quilombolas e imigrantes numa mesma organização, porque o que nos une é a luta contra a exploração e a opressão. Essas diversas lutas e vozes estiveram presentes e foram protagonistas no congresso. O plano de lutas que aprovamos contempla essa pluralidade, que também se expressa na composição da direção da Central.

Foi um aprovado um plano de lutas para o próximo período. Quais são os principais eixos de luta que constam nesse plano?

Votamos um plano de ação para o próximo período. Entre as lutas imediatas destaca-se o combate ao arcabouço fiscal, à reforma tributária, pela revogação integral das reformas trabalhista, previdenciária, do ensino médio; contra a reforma administrativa, o Marco Temporal e as privatizações; em defesa dos povos originários, dos que lutam por terra e moradia; contra todas as formas de opressões.