Pedro Ventura/Agencia Brasilia
Redação

Já não bastavam a inflação, o desemprego e a pobreza em alta. Nos próximos meses, o país também está ameaçado de sofrer um apagão elétrico. A situação é gravíssima, conforme os próprios órgãos do setor reconhecem.

Os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia do país, estão com 22% da capacidade de armazenamento, nível menor que o registrado em agosto de 2001, quando o país enfrentou o famoso apagão do então governo FHC.

O próprio Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão presidido pelo Ministério de Minas e Energia, reconhece que há uma “relevante piora” das condições hídricas no país. Diante da escassez, o governo foi obrigado a acionar as usinas termoelétricas (que geram eletricidade através com a queima de o bagaço de plantas, madeira, óleo combustível ou diesel, gás natural e carvão), para tentar suprir a falta de água nos reservatórios. Já o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) prevê que o sistema pode chegar a 10%, o que é muito grave e representa a perda do controle técnico da geração de energia.

Os dados dos sete reservatórios que abastecem a Grande São Paulo também são reveladores. Eles já trabalham com menos de 50% da capacidade. O Sistema Cantareira opera com 37,9% da capacidade e especialistas temem que até o fim do ano esteja com 20%. A situação é pior do que o mesmo período em 2013, um ano antes da crise hídrica que deixou São Paulo sem água.

Governo sabia sobre a longa estiagem

Tudo isso pode piorar porque as chuvas dos próximos meses (Primavera e Verão) serão menores do que o normal. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (InMet), as chuvas podem se reduzir em até 30% no Centro-Sul-Sudeste. Isso ocorre devido ao fenômeno climático “La Niña”, que vai agravar a seca, a crise hídrica e, também, a crise do setor elétrico no país.

Tudo isso já era de pleno conhecimento do governo. Sabia-se, desde o ano passado, que os reservatórios estavam se reduzindo rapidamente, que havia a possibilidade de uma crise energética e, também, das previsões de estiagem para este ano. Mas, absolutamente nada foi feito.

Nos últimos dias, Bolsonaro teve que reconhecer a crise numa “live” e pediu, de forma patética, que cada um de seus seguidores apagasse uma lâmpada. Daqui a pouco, quando a crise estourar, o presidente-genocida vai jogar a culpa da crise na população, falando que o povo gasta muita luz.

“Tarifaço, e daí?”

Mas é injusto dizer que o governo não fez nada. Eles aumentaram a conta de luz, que subiu mais de 20,86% em 12 meses; ou seja, mais que o dobro da inflação acumulada no período, que foi de 9,3%. E vai subir ainda mais.  A previsão da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) é que, no ano que vem, o aumento deva chegar a 16,68%. Isto é, tudo vai ficar ainda mais caro com a elevação da tarifa de energia e dos combustíveis.

Mas o governo Bolsonaro não tá nem aí pra população. “Não adianta ficar chorando”, disse o Ministro da Economia Paulo Guedes, que, em 25 de agosto, cinicamente perguntou: “Qual seria o problema da energia ficar um pouco mais cara porque choveu menos?”.

Privatização e meio ambiente

Por que chegamos próximos de mais um apagão?

O primeiro nome do problema é “privatização”. Hoje, apenas no segmento de geração de energia, cerca de 60% dos ativos estão privatizados. No que se refere à transmissão, 85% das linhas são operadas por empresas privadas.

Nenhum governo nesses últimos anos deu um passo para reverter a privatização do setor e, principalmente, no que se refere a planejar a diversificação da matriz energética do país.  Bolsonaro ainda quer ir mais além, privatizando a Eletrobras, responsável pela geração de 30% da energia do Brasil, acabando, assim, de uma vez por todas com a participação do Estado no setor.

A privatização do setor elétrico resulta inevitavelmente em apagões, como aconteceu no final de 2020, no Amapá. Lá, a empresa privada que administra a energia do estado deixou a maior parte das cidades do estado sem energia elétrica por quase 30 dias, simplesmente porque, para diminuir os custos de sua operação, negligenciou a manutenção dos equipamentos da subestação.

Aumento da demanda e crise ambiental

Em 20 anos, a demanda por energia do país quase dobrou, mas nenhuma empresa privada realizou um importante investimento na produção de energia, pois isso diminui seus lucros. Enquanto isso, os governos do PT jogavam dinheiro nas mãos das empreiteiras para construir a hidrelétrica de Belo Monte, na Bacia do Rio Xingu, no norte do Pará, que é (como foi previsto) um verdadeiro fiasco no que se refere à produção energética. Por isso, Lula e o PT não soltam um pio perante a crise.

Mas se privatização é o nome do problema, “crise ambiental” é o seu sobrenome. A ciência vem demonstrando que houve importantes mudanças climáticas nas últimas décadas, com redução das chuvas durante o período úmido e extensão do período seco. De acordo com a Pesquisa do MapBiomas, divulgada recentemente, desde o início dos anos 1990, houve uma retração de 15,7% da superfície coberta com água no Brasil.

E qual é a causa disto? Cerca de 70% de toda água consumida no país vai para o agronegócio, sobretudo para as monoculturas de exportação, como café, cana-de-açúcar e, com destaque, soja. Segundo a Agência Nacional de Águas, esse consumo vai aumentar em mais de 20% nos próximos dez anos e já vivemos uma situação de estresse hídrico (desequilíbrio entre quantidade de água exigida por uma plantação e a capacidade do solo em supri-la). Além disso, o aquecimento global e o desmatamento da Amazônia (leia abaixo) também podem explicar essa enorme redução.

Para não ficar no escuro: controle do Estado e novas matrizes energéticas

A crise hídrica e energética está entrelaçada com as privatizações, a devastação do meio ambiente e as mudanças do clima. É nesse cenário que Bolsonaro quer privatizar a Eletrobras, o que vai significar a perda de controle do Estado sobre a regulação do sistema num momento de crise hídrica. Um absurdo monumental.

Além disso, a privatização do setor impossibilita uma verdadeira e necessária mudança na matriz energética no país, uma vez que hidroelétricas e termoelétricas se tornam cada vez mais obsoletas. A alternativa está na diversificação da produção energética do país, incentivando, sobretudo, o aumento da produção da energia eólica (produzida pelos ventos) e fotovoltaica (solar), que, hoje, garantem meros 7% da energia do país.

Mas apenas o controle pleno do Estado no setor da energia elétrica do país pode garantir a transição energética para fontes renováveis. Do contrário, o país ficará completamente à mercê das empresas privadas internacionais associadas a grupos empresariais brasileiros, que só querem lucrar e apagar o Brasil. Por isso, é preciso lutar contra a privatização da Eletrobras e pela estatização de todo setor elétrico do país.

Saiba mais

O que a crise hídrica tem a ver com a Amazônia?

A crise hídrica também pode estar relacionada ao desmatamento da Amazônia. A devastação deste bioma  causa uma diminuição significativa na força da massa Equatorial Continental, uma umidade que é produzida pela própria floresta e, depois, transportada por correntes gigantescas de ventos que correm da Amazônia (chamado de rios voadores) e adentram no Centro Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

Com a diminuição da floresta, que está, literalmente, pegando fogo, a massa perdeu sua intensidade, produzindo, já em 2019-2020, uma diminuição nos reservatórios de água e severas estiagens (notem: antes mesmo do fenômeno “La Niña”). Isso já ocorria em 2014, mas ganhou mais força após 2017. Cientistas alertam que o desmatamento de algo em torno de 20% a 30% compromete esse sistema, intensificando a secas no país. Já estamos quase lá.

O apagão vem aí!

Quais suas causas?

1) Privatização
60% da geração de energia foi privatizada e nenhum governo reverteu isso.
O setor privado não investe em geração de energia para não diminuir seus lucros. A situação vai piorar com a privatização da Eletrobras por Bolsonaro.

2) A destruição do meio ambiente.
O desmatamento na Amazônia diminui os “rios voadores”, causando mais secas. O aquecimento global também vem diminuindo as chuvas. Nos últimos 30 anos, a coberta com água no Brasil  diminuiu em 15,7%.Tudo isso piora com o fenômeno climático La Niña.