Roberto Aguiar, de Salvador (BA)
Com mais de duas mil assinaturas coletadas, foi lançado, no último dia 7, o manifesto pela construção do polo socialista e revolucionário no Brasil. A plenária, que foi realizada pelo Zoom, contou com a participação de mais de 1.400 pessoas de todas as regiões do país.
“Fazer o lançamento do Manifesto já contendo 2 mil assinaturas é um sinal muito claro da necessidade que temos em ter e debater esta alternativa socialista e revolucionária para o Brasil”, disse a professora Rejane Oliveira, do Movimento de Luta Socialista (MLS), que conduziu a plenária junto com Irene Maestro, do Movimento Luta Popular, e Hertz Dias, do PSTU.
Zé Maria, presidente nacional do PSTU, pontuou que “o manifesto e a ideia da construção do polo parte da urgência nasceu frente ao cenário de barbárie que atinge o país e ao nosso povo, que tem origem e causa no capitalismo, que a tudo subjulga e submete ao seu interesse supremo, que é o lucro. É preciso acabar com o sistema capitalista, libertar nosso país das garras do imperialismo, da ganância dos banqueiros, do grande empresariado e do agronegócio”.
“É preciso construir outro sistema, o socialismo. Uma sociedade governada pela classe trabalhadora, através de suas organizações e conselhos populares, onde de fato a maioria possa decidir o que e como fazer com tudo o que o nosso país tem e produz”, defendeu o presidente nacional do PSTU.
Independência de classe
Várias organizações políticas, movimentos sociais, da cidade e do campo, de lutas contra as opressões, e militantes socialistas atenderam ao chamado da construção do polo.
Todas as intervenções saudaram a iniciativa, destacaram a necessidade de unir os que defendem o socialismo como estratégia, tendo a independência de classe como critério central nesta luta, pois socialismo é confronto com a burguesia, não conciliação com ela.
“A Frente Nacional de Lutas (FNL) está orgulhosa em ser parceira nesse projeto, queremos ajudar a construir, porque não vemos outra saída para o nosso país que não seja a revolução, que a classe trabalhadora destrua esse Estado burguês e construa o socialismo. Esse país só vai ser livre o dia em que a Senzala destruir a Casa Grande”, afirmou Zé Rainha, histórica liderança da luta pela reforma agrária no Brasil e dirigente da FNL.
O economista e militante do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio Júnior falou que :“A aglutinação dos socialistas é uma construção humana e vai exigir de nós a autossuperação. Acho que o maior desafio que todos nós temos aqui é sair da bolha. Todos nós temos que sair das nossas respectivas bolhas e estar a altura dos desafios históricos, para construir instrumentos políticos, para que a classe trabalhadora possa transformar as contradições em força política capaz de mudar”, disse Plínio.
Sentimento de mudança e transformação compartilhado por Osmarino Amâncio, líder seringueiro no Estado do Acre, que lutou lado a lado com Chico Mendes. Com toda uma torcida para que ele conseguisse superar o problema tecnológico, pois não conseguia ligar o microfone do celular, Osmarino fez uma fala emocionada pontuando que o polo socialista cumpre um papel importante, que é “fortalecer a direção revolucionária”, para não deixar que ocorra no Brasil o que aconteceu em outros países, como o Chile, que teve um forte levante popular, mas faltou uma direção revolucionária para levar os trabalhadores a tomado do poder.
Já a operária e ex-candidata à presidência da República pelo PSTU, Vera Lúcia, afirmou que a “necessidade de se fazer uma revolução e de se construir uma sociedade socialista está relacionado à questão de resolver coisas básicas e irrenunciáveis como a fome, que sempre existiu, mas hoje ganha conotações dramáticas”.
Este projeto só é possível com independência de classe frente à burguesia, algo que o PT e o Lula já abandonaram há muito tempo, como visto nos 14 anos que este partido governou o Brasil. O socialismo é enfrentamento direto com a burguesia, bem diferente do projeto de conciliação defendido pelo PT, PCdoB e pela maioria da direção do PSOL, que buscam construir através de uma Frente Ampla para as eleições de 2022.
Muitas lutas e muitas vozes
As lutas que estão ocorrendo em nosso país se encontraram na plenária do polo socialista e revolucionário. A luta dos povos originários foi pautada na intervenção da indígena Kunã Yporã (Raquel Tremembé), integrante da Articulação da Teia de Povos de Comunidades Tradicionais do Maranhão. A luta dos quilombolas foi ressaltada por Santinho, que fez uma fala direto do Acampamento Reviver Fátima Barros, no interior do Maranhão, em defesa dos povos quilombolas. Fátima Barros foi homenageada na plenária. Ela era uma quilombola guerreira do Tocantins que morreu vítima da covid-19.
Daiane Marçal, do Madre da Terra do Rio Grande do Sul, e Amaro Lourenço, da Federação de Trabalhadores Assalariados Rurais de Pernambuco, falaram sobre a luta dos agricultores rurais. Zé Rainha, liderança FNL pontuou a luta pela reforma agrária. Já o seringueiro Osmarino Amâncio destacou a luta em defesa do meio ambiente.
O combate às todas as formas de opressões também teve destaque. Verck Estrela, do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, ressaltou a luta contra o racismo. Nikaya Vidor, mulher trans e da Secretaria Nacional LGBT do PSTU, falou sobre a luta contra a lgbtfobia, e Marcela Azevedo, do Movimento Mulheres em Luta (MML), trouxe em sua fala a luta contra o machismo.
A luta em defesa das estatais foi destaque na fala do petroleiro Hugo Viotto, do Estado do Rio de Janeiro, e Vanessa Portugal, militante do PSTU em Minas Gerais, defendeu a reestatização das empresas privatizadas, a exemplo da Vale. Marinalva Oliveira, professora da UFRJ e ex-presidente do ANDES-SN, destacou a luta em defesa dos serviços públicos, contra a reforma administrativa que Bolsonaro quer impor (PEC 32). Jorge Breogan, do Coletivo de Artistas Socialistas (CAS), pautou a luta que os artistas têm travado por políticas públicas, frente à pandemia da covid-19.
Mandi Coelho, estudante da USP e militante do Rebeldia – Juventude da Revolução Socialista, desconstruiu as ideologias as ideologias burguesas que a juventude cresce ouvindo e ressaltou a importância e o papel que a juventude pode cumprir na luta pelo socialismo.
“Nós crescemos ouvindo todo tipo de ideologia burguesa. Estudem que vocês terão trabalho. Empreendam que terão renda e emprego. Economizem água que isso vai preservar o meio ambiente. Mas nada disso é verdade. Nada disso se consolidou no capitalismo. Nós crescemos ouvindo isso não só pela burguesia e suas ideologias, inclusive crescemos ouvindo isso do PT. Mas tudo isso se desmancha no ar, porque nada disso é verdade no capitalismo”, disse Mandi.
“Nós não fomos uma geração perdida. Estaríamos perdidos se estivéssemos isolados, sozinhos, atrás da tela do nosso celular, atrás das nossas redes sociais. Mas nós estamos aqui em uma aliança com a classe operária e trabalhadora, organizando a revolução socialista no Brasil. Construindo uma organização para disputar a consciência dos jovens para que saiam de suas bolhas e venham fazer aliança com setores da classe trabalhadora”, afirmou a estudante da USP.
Os desafios dessa caminhada
‘Reunir quem segue sustentando a bandeira do socialismo e da revolução’
A vitoriosa plenária foi o primeiro passo de um projeto que se inicia e está sendo construindo por diversas organizações. Diversidade que se refletiu nas intervenções realizadas, nas muitas vozes e lutas que lá se expressaram.
Representantes de diversas organizações políticas e militantes socialistas que se somaram na construção do polo.
Juca Sampaio fez intervenção representando o Movimento de Luta Socialista (MLS); Marcelo Pablito falou em nome do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT); Maria José discursou em nome do CEDS, do Rio Grande do Sul; Richard Clayton representou o Coletivo Iniciativa Socialista; Alexander Brasil discursou em nome do Coletivo Emancipação Socialista; Nildo Ouriques falou em nome da Revolução Brasileira, corrente interna do PSOL; e a professora da UFMG, militante do PSOL, Dilene Marques, fez uma fala em defesa da construção do polo, classificando a unidade dos socialistas revolucionários como uma vertente necessária.
A construção do polo socialista revolucionário é um processo coletivo, que está em aberto. “O Manifesto que elaboramos e apresentamos aqui é o ponto de partida dessa discussão, não é o ponto de chegada. Queremos colocá-lo como contribuição ao debate, da mesma forma que outras contribuições existirão”, disse Zé Maria.
“Queremos reunir todas e todas que seguem sustentando a bandeira do socialismo e da revolução, com independência de classe, para poder levá-la com muito mais força e disseminá-la no interior da nossa classe, da juventude e dos setores oprimidos da sociedade”, finalizou o presidente nacional do PSTU.