Luiz Carlos Prates (Mancha), de São José dos Campos (SP)
Por Joaninha de Oliveira e Luiz Carlos Prates (Mancha), integrantes da Executiva Nacional da CSP-Conlutas
Ganhou manchete na imprensa a movimentação das cúpulas das maiores centrais sindicais brasileiras para incentivar a formação de uma chapa com Lula (PT) e Geraldo Alckmin (atualmente no PSDB) para as eleições de 2022. Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Nova Central chegaram a se reunir com o tucano para “pedir explicitamente” que ele aceite ser vice do petista.
A CUT não participou da reunião, realizada no último dia 29, mas o presidente da Central, Sérgio Nobre, em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, declarou que “não tem nada contra a proposta”, acrescentando que vencer as eleições é um desafio, mas que “governar é um desafio maior ainda” e que, por isso, é preciso “juntar todo mundo”.
Vemos, assim, lamentavelmente, a maioria das direções das centrais sindicais novamente se alinhando a mais um projeto de conciliação de classes. Após 13 anos de governos petistas de conciliação e tudo o que veio depois, essas direções ainda não aprenderam a lição.
Negociações de vento em popa
As negociações para viabilizar a chapa Lula/Alckmin estão de vento em popa. Lula tem elogiado o governo Alckmin em São Paulo. Chegou a dizer que Alckmin é o “único tucano que gosta de pobre”.
Os afagos de Lula são coerentes com os governos do PT que, de fato, não enfrentaram ou romperam com a burguesia e o sistema capitalista. Ao contrário, foram governos, como o próprio Lula costuma dizer, em que “nunca os empresários ganharam tanto dinheiro”.
Alckmin é um dos principais representantes da burguesia. Em suas gestões, como governador de São Paulo, aplicou à risca os planos dos banqueiros e empresários, privatizando e sucateando os serviços públicos. Além disso, ficou conhecido internacionalmente pela violenta desocupação que promoveu no Pinheirinho, em São José dos Campos (SP).
O aval dessas direções sindicais a uma frente com Alckmin tenta conciliar interesses de classes totalmente antagônicos, algo que já se tornou comum na prática destas centrais. Basta ver o recente apoio que deram à desoneração da folha de pagamentos, que desvia recursos que deveriam ir para a saúde, educação e serviços públicos paras os bolsos dos patrões, com a desculpa esfarrapada de manter os empregos. Algo que já se comprovou não ter ocorrido desde que a medida foi adotada.
Um filme já visto
Não podemos cair em armadilhas ou repetir erros
É indiscutível a destruição que o governo de Bolsonaro vem impondo ao país. O resultado foram mortes, desemprego, carestia, inflação, fome e miséria. Sem falar nas ameaças às liberdades democráticas, ataques ao meio-ambiente, aos indígenas, quilombolas, mulheres, negro(as) e LGBTIs e à política de terra arrasada nos campos da Cultura e das Artes.
Por tudo isso, muitos ativistas e trabalhadores podem pensar que realmente é preciso qualquer tipo aliança pra enfrentar Bolsonaro.
Mas, não se pode cair em armadilhas ou repetir erros. Uma chapa e um eventual governo em aliança com a burguesia não terão compromisso algum com a defesa de medidas a favor dos trabalhadores e dos mais pobres, como a revogação das reformas Trabalhista e da Previdência ou da Emenda do Teto de Gastos, que congelou os investimentos em serviços públicos, ou, ainda, das privatizações.
Estamos dispostos a fazer, nas lutas e nas ruas, a mais ampla unidade com todos que estejam dispostos a colocar, já, o governo Bolsonaro e, para isso, construir uma Greve Geral. No entanto, uma verdadeira saída para a atual crise não pode ser construída com a burguesia e seus representantes, tal como Alckmin. Tampouco, a saída é a que está sendo apresentada pelo PT, que governou com os empresários e banqueiros e já indica que pretende fazer um governo ainda mais à direita.
Perigos da conciliação de classe
O Brasil sofre um avançado processo de recolonização, com desindustrialização, desnacionalização e rapina profundas. Assim, as organizações dos trabalhadores vivem um dilema permanente: trilharem um caminho independente dos patrões e seu Estado, defendendo uma perspectiva revolucionária de ruptura com o capitalismo, ou se tornarem gestoras deste sistema de exploração, fazendo parcerias com os patrões.
A adesão das direções destas centrais a uma frente com a burguesia, após boicotarem e frearem o processo de lutas pelo “Fora Bolsonaro, já!” é uma opção pelo segundo caminho.
Uma opção criminosa e perigosa, como foi destacado no Manifesto do Polo Socialista e Revolucionário, iniciativa que vem reunindo diversos ativistas, da qual o PSTU também faz parte (ler páginas 5 e 6): “Fazer corpo mole na luta pelo Fora Bolsonaro, hoje, esperando derrotá-lo com as eleições de 2022 é uma política criminosa, pois ignora a tragédia que ele impõe à população agora. É também perigosa, porque subestima o perigo que representa um governo que trabalha todos os dias para implantar uma ditadura no país”.
Alternativa socialista e revolucionária
Diante da atual crise capitalista, que a cada dia leva a humanidade à barbárie, é preciso lutar por uma alternativa socialista e revolucionária. Uma alternativa que possa, de fato, trazer as mudanças necessárias para garantir emprego, direitos, saúde, educação, moradia, o fim da política de aumentos abusivos no preço dos combustíveis, o congelamento do preço dos alimentos etc. Enfim, que garanta condições de vida dignas para a maioria da população.