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Redação

No rastro das mais de 600 mil mortes causadas pelo coronavírus, há outra pandemia, contudo, que também está longe de terminar: a da fome, do desemprego e da inflação. O ano termina com recessão, alta do desemprego, inflação na casa dos 10% e uma queda drástica na renda. E sem qualquer expectativa de melhora.

A economia deve fechar 2021 no mesmo patamar que 2019 e 2020, quando já enfrentávamos uma grave crise econômica e social. Mas, agora, num cenário de terra arrasada. Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, o desemprego encerrou o terceiro trimestre do ano em 12,6%, ou 13,5 milhões de pessoas sem trabalho.

Ainda que o critério do IBGE subnotifique o desemprego, esta é a taxa mais alta registrada neste mesmo período desde 2012, só perdendo para o ano passado. E, mesmo assim, o que se “recuperou” dos empregos foi puxado pela informalidade. O índice é simplesmente o dobro da média mundial e o 4º maior desemprego dentre as 40 principais economias do mundo.

Inflação dispara e renda despenca

Em 2022, a inflação, por sua vez, segundo previsão de analistas do mercado financeiro, deve desacelerar para algo próximo de 5%. Mas isso após ter fechado este ano em mais de 10%. Ou seja, no melhor cenário, os preços, já nas alturas, vão continuar subindo, apenas de forma mais lenta. Como resultado da inflação e do desemprego, do ano passado para cá, a renda média despencou 11,1%.

Desemprego, inflação e queda na renda impactam no orçamento das famílias e causam um endividamento recorde. Levantamento do Serasa revela que nada menos que 75% das famílias estão endividadas. Três em cada 10 dos inadimplentes sofrem com o desemprego.

Para piorar ainda mais, o fim do auxílio-emergencial e do Bolsa Família, substituído pelo Auxílio Brasil, deixa de fora 22 milhões de famílias que dependiam desses programas durante a pandemia. Serão R$ 11 bilhões a menos para programas de transferência de renda, em 2022. Isso significa que o flagelo da fome, que já atinge 19 milhões de brasileiros (com 116 milhões sobrevivendo com algum tipo de insegurança alimentar), só tende a se agravar, ainda mais.

DESIGUALDADE

Em meio à miséria, super-ricos fazem a festa

Enquanto a maior parte da população brasileira não consegue comer o suficiente para se manter, na outra ponta, cresce o número de bilionários. Em 2020, o país “ganhou” 33 novos bilionários. Neste ano, 42 super-ricos passaram a figurar na seleta lista dos que tem fortunas superiores a US$ 1 bilhão (cerca de 5,6 bilhões de reais), totalizando 315 pessoas que acumulam, juntas, uma fortuna de R$ 1,9 trilhão. Ou mais de 1/4 de todo o Produto Interno Bruto (PIB).  O 1% dos super-ricos detinham, em 2021, a metade de toda a riqueza do país.

Outro reflexo do aumento desse abismo social está no crescimento do mercado imobiliário de luxo. Ao mesmo tempo em que multidões se apinham para disputar ossos, milhões sequer conseguem pagar seus aluguéis e aumenta o número dos que vivem nas ruas, a venda de apartamentos de alto padrão e mansões teve o maior crescimento desde 2014.

A pandemia aprofundou e acelerou ainda mais as desigualdades sociais, na esteira da regressão e decadência capitalista. A política econômica ultraliberal de Bolsonaro e Guedes, por sua vez, privilegia ainda mais os 0,1% dos super-ricos em detrimento da classe trabalhadora de conjunto e da massa de desempregados cada vez maior. E diante do agravamento da crise, dobram a aposta nesta mesma política.

A equipe econômica prepara agora uma nova Reforma Trabalhista que, dentre as mais de 300 mudanças propostas, acaba com a folga aos domingos, legaliza o locaute de empresários e proíbe que trabalhadores de aplicativos sejam enquadrados na CLT, institucionalizando ainda mais o trabalho precário.

CRISE GLOBAL

Aprofundamento da crise capitalista mundial

A crise e o aumento das desigualdades não são fenômenos limitados ao Brasil, mas parte da crise capitalista mundial. Segundo o Relatório de Comércio e Desenvolvimento da Conferência das Nações Unidas (UNCTAD), em 2002, o crescimento global deve desacelerar 3,6%, deixando a renda mundial 3,7% abaixo do nível pré-pandemia. Uma perda acumulada de renda de cerca de 13 trilhões de dólares.

A inflação e a desigualdade na vacinação, por sua vez, devem aprofundar ainda mais o abismo entre países ricos e pobres. A fome, por exemplo, explodiu na América Latina e no Caribe como em nenhuma outra região do planeta, aumentando em quase 80%, desde 2014, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Em apenas um ano, 13,8 milhões habitantes da região passaram a conviver com a fome e a insegurança alimentar atinge 41% da população.

Continua

Enfrentar os super-ricos para garantir emprego, salário, terra e renda