Presidente do BC, Campos Neto, com Bolsonaro e Paulo Guedes
Redação

Nesta quarta-feira, 23, a esperada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central bateu o martelo e decidiu manter os juros escorchantes de 13,75%. A chamada taxa básica de juros, a Selic, remunera os juros da dívida pública e são uma espécie de piso para as demais taxas de juros no país. Com essa decisão, o Brasil continua com os maiores juros do mundo, de 8% descontada a inflação, uma verdadeira festa para o rentismo e os grandes banqueiros.

O Banco Central não só não mexeu na taxa de juros, como ameaçou, em seu comunicado, um novo aumento no futuro, seguindo as sucessivas elevações que catapultaram a Selic de 2% em março de 2021 para os atuais 13,75%. As desculpas, mais uma vez, foram as “incertezas” em relação à inflação (como se a economia estivesse bombando e se precisasse contê-la), e o resultado fiscal do governo (como se os próprios juros já não significassem bilhões de gastos para os banqueiros).

A razão por trás dos juros pornográficos é bem mais simples: continuar enchendo os bolsos dos banqueiros e grandes especuladores internacionais que, no meio de uma crise financeira começando a pipocar em grandes bancos globais, têm no Brasil sua generosa vaca leiteira.

O governo e os juros

A decisão do Copom provocou novas críticas do governo e ataques ao presidente do Banco Central, Campos Neto. Desde o início do mandato, Lula reclama dos altos juros e acusa o presidente do BC de sabotar o crescimento do país. É preciso sim denunciar essa política de juros estratosféricos que remuneram megaespeculadores, um mecanismo perverso de transferência de renda para os banqueiros. A independência do Banco Central, por sua vez, é uma forma de colocá-lo diretamente sob controle da Faria Lima, sem intermediários.

O problema, porém, não se resume aos juros. Ele faz parte de toda uma política econômica voltada aos interesses dos super-ricos em detrimento da classe trabalhadora e da grande maioria da população. Se Campos Neto caísse amanhã e se reduzissem os juros, o Brasil continuaria com 33 milhões de pessoas passando fome, a maior parte de sua força de trabalho submetida a emprego precário, um salário mínimo que mal compra duas cestas básicas, serviços públicos cada vez mais sucateados, e metade do povo sem sequer saneamento básico.

Enfrentar os altos juros, desta forma, deve ser parte de uma luta que combata toda essa política econômica e que, necessariamente, bata de frente com os bilionários. Para mudar de fato o país é preciso ir além e suspender o pagamento da dívida aos banqueiros, acabar com a Lei de Responsabilidade Fiscal, e investir maciçamente em áreas com Saúde, Educação e na geração de empregos. É preciso garantir emprego, salário e renda, aumentando de fato o salário mínimo, revogando integralmente a reforma trabalhista que, além de desemprego, precariza o trabalho e rebaixa os salários. E revogar também a reforma da Previdência, a exemplo da heroica luta travada agora pelos trabalhadores franceses.

O governo Lula-Alckmin, porém, ao invés de implementar uma política econômica a favor da classe trabalhadora e contra os banqueiros, ataca apenas a questão dos juros do BC. Nem os juros extorsivos cobrados pelos bancos através dos empréstimos consignados aos aposentados o governo enfrentou. A proposta de um limite de 1,7% de juro colocada pelo Conselho da Previdência, que garantiria já altíssimos 22% aos bancos no acumulado do ano, foi abandonado após a reclamação dos banqueiros. Isso que estamos falando num tipo de crédito praticamente sem risco, com pagamento abatido em folha.

Isso porque o governo Lula-Alckmin governa com e para grandes empresas, multinacionais, super-ricos e até mesmo setores do próprio sistema financeiro, que perdem com os juros nessa altura. Não é por outra razão que, principalmente setores da burguesia industrial, capitaneados pela Fiesp e CNI, estão nessa mesma cruzada contra os juros altos. Uma política que encarece o crédito e dificultam seus negócios. Também é preciso lembrar que a crise desatada no Silicon Valley Bank (SVB) foi em grande parte provocada pelo aumento dos juros pelo FED (Federal Reserve, o banco central norte-americano), ou seja, essa política econômica não é unanimidade entre os próprios banqueiros.

Além de não enfrentar a totalidade da política econômica herdada de Bolsonaro e Paulo Guedes, o governo Lula-Alckmin mantém os pilares de um política econômica neoliberal. O chamado “arcabouço fiscal” que está sendo preparado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é uma forma de manter, por outras vias, o teto de gastos. Isso significa manter a prioridade na remuneração dos banqueiros através da dívida, em detrimento dos serviços públicos. Ainda não se tem o que será esse tal “arcabouço”, mas Haddad já apontou que insiste em impor teto de gastos para áreas como a Saúde e Educação.  Não é por menos que Paulo Guedes tenha passado a elogiar Haddad nas rodinhas de ricaços.

É preciso independência para lutar

No dia anterior em que Banco Central se reuniria para decidir a taxa Selic, as direções das centrais como CUT e Força Sindical convocavam protestos, chamados pela direção do PT, contra os juros altos e o banqueiro bolsonarista Campos Neto. No entanto, se mantiveram na denúncia dos juros, alinhados com o discurso do governo.

É preciso denunciar os maiores juros do mundo que fazem a festa dos banqueiros, mas só isso não basta. É necessário, tal como fez a CSP-Conlutas, chamar a mobilização contra o pagamento da dívida que enriquece banqueiro à custa do arrocho fiscal e do empobrecimento do povo.

Mais que isso, é preciso lutar pela revogação integral da reforma trabalhista e previdenciária, e por um aumento de verdade do salário mínimo, com a sua duplicação imediata rumo ao mínimo do Dieese, como defende o PSTU.

Para isso, é preciso mobilização e independência dos governos e dos patrões. Os trabalhadores devem exigir que a suas entidades não se atrelem aos governos e chamem a organização e a luta em defesa das reivindicações da classe.

Leia também

Reduzir os juros resolve os problemas da economia?