Foto Sindmetal/SJC
Ana Cristina, de São José dos Campos (SP)

“Eu não vou embora”. A frase entoada pelos metalúrgicos (as) da Avibras, em Jacareí (SP), em suas assembleias e mobilizações nas últimas semanas, expressa bem a garra e a determinação que garantiram uma importante vitória aos trabalhadores no último dia 19. Após um mês de uma luta histórica, as 420 demissões realizadas pela empresa foram revertidas e todos serão reintegrados (as).

Conforme acordo negociado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região, filiado à CSP-Conlutas, as demissões foram canceladas e os trabalhadores (as) que haviam sido demitidos irão cumprir layoff, com os contratos suspensos por cinco meses. Todos os funcionários da fábrica terão estabilidade durante esse período. Os que fizerem parte do layoff terão essa garantia até o final do ano.

Além dos 420 demitidos no dia 18 de março, outros 150 também terão os contratos suspensos. Eles receberão remuneração que vai variar entre 70% e 100% do salário líquido. Os salários atrasados serão regularizados e o acordo prevê ainda reajuste salarial pelo INPC na data-base da categoria em setembro e a renovação de todos os direitos por dois anos.

Trinta dias antes do término do layoff, Sindicato e empresa voltam a se reunir para avaliar medidas para preservar os empregos.

Luta histórica

Desde o início, os trabalhadores encararam um enorme desafio já que a Avibras anunciou os cortes ao mesmo tempo em que entrou com um pedido de recuperação judicial e, como sempre fazem os empresários, iniciou a choradeira sobre dificuldades financeiras.

Porém, a reação do Sindicato e dos trabalhadores foi imediata: a luta. Já na segunda-feira, 21 de março, os metalúrgicos (as) aprovaram uma greve de 24 horas. Desde então, a luta unificou e foram outras duas paralisações. A última, deflagrada no dia 6 de abril, foi encerrada apenas no dia 19, com a aprovação do acordo.

Houve passeatas em São José dos Campos, Jacareí e até em Brasília. No dia 30 de março, os trabalhadores montaram um acampamento em frente à fábrica e passaram a se revezar em grupos para garantir a continuidade da mobilização. Na Páscoa, um almoço solidário reuniu trabalhadores e familiares em frente à fábrica.

No dia 3 de abril, uma caravana foi à capital federal para cobrar do governo federal um posicionamento em defesa dos empregos, mas Bolsonaro não recebeu os trabalhadores.

Ainda em Brasília, os metalúrgicos foram informados de que o Sindicato havia conseguido na Justiça uma liminar para cancelamento das demissões, o que foi comemorado com grande alegria e emoção. Contudo, a empresa se recusou a cumprir a decisão. A Avibras recorreu ao Tribunal Regional do Trabalho, mas perdeu a ação, e com a fábrica parada há mais de uma semana, foi obrigada a recuar e reintegrar os demitidos.

Aprendizado

“A Avibras achou que ia nos vencer pelo cansaço”

O metalúrgico J. foi um dos demitidos e participou da mobilização em defesa dos empregos desde o início e falou um pouco do que viveu e aprendeu nesses dias. “No começo, a empresa achou que ia nos vencer pelo cansaço. Na primeira reunião, ofereceu indenização de duas cestas básicas e um mês de convênio para 420 demitidos”, lembrou.

“Numa situação dessas, a gente abaixa a cabeça e se entrega, ou juntamos as forças, encaramos as dificuldades e vai à luta pelo que é direito. Foi o que fizemos”, disse.

J. disse que “evoluiu como ser humano e também politicamente”. “Nessa luta deu para sentir a dor do próximo, dos que estavam em situação pior que nós. Precisamos de uma sociedade mais igualitária e fraterna, mas só com luta, podemos garantir nossos direitos”, disse. “Que nossa luta sirva de exemplo para todo o país. Juntos, somos mais fortes”, disse.

Sob controle dos trabalhadores

Estatização segue necessária

A Avibras é uma das principais empresas de equipamentos militares no Brasil e, portanto, estratégica para o desenvolvimento tecnológico e para a soberania nacional.

Com base num estudo, o Sindicato verificou que a empresa não está á beira da falência. Ao contrário, com contratos previstos ainda para 2022 e 2023, lucros no último período e patrimônio robusto, o pedido na Justiça visa apenas garantir uma reestruturação preventiva e redução de custos.

Por isso, desde o início da luta, esteve em pauta outra reivindicação: a estatização da empresa.

Junto com o Sindicato, os metalúrgicos (as) mostraram que, com união e luta, é possível vencer duras batalhas. O cancelamento das 420 demissões é uma vitória que tem de ser comemorada por toda a classe trabalhadora, mas seguiremos com nossa reivindicação pela estatização da Avibras, sob controle dos trabalhadores, pois uma empresa estratégica como essa não pode ficar à mercê da ganância do setor privado”, afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Weller Gonçalves.